Tripulantes que jogaram camaronês em alto mar vão a júri popular

Camaronês estava clandestino em navio e foi torturado, segundo MPF.
Vítima e suspeitos estão em Paranaguá (PR) sob liberdade vigiada.

Por: Bibiana Dionísio

A Justiça determinou que cinco das 19 pessoas que foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF) por cometerem os crimes de racismo, tortura e tentativa de homicídio contra o camaronês Ondobo Happy Wilfred, devem ir a júri popular. Wilfred entrou cladestinamente em um navio de bandeira maltesa e, ao ser descoberto, apanhou e foi lançado em alto mar. Não havia, na avaliação do juiz, elementos suficientes para que os demais denunciados fossem julgados. O MPF recorreu da decisão por avaliar que os outros 13 suspeitos também devem responder pelos crimes. A única denúncia descartada pela Procuradoria foi contra o capitão do navio, por falta de prova.

O camaronês foi resgatado por tripulantes de um navio chileno e levado para Paranaguá, no litoral do Paraná. Tanto a vítima quanto os acusados permanecem em Paranaguá até que o caso esteja completamente solucionado e os custos da hospedagem dos estrangeiros são pagos pelo proprietário do navio e pela agência marítima.

Como afirmou o procurador da república Alessandro José Fernandes de Oliveira, responsável pela denúncia, os acusados estão sob liberdade vigiada, portanto, impedidos de sair de Paranguá.

Os cinco acusados vão responder por homicídio tentado quadruplamente qualificado, racismo, e tortura. Não há data para o julgamento, porém, o procurador acredita que deve ocorrer até novembro. Oliveira avalia que o processo está transcorrendo de forma rápida, por isso, estima um desfecho em curto prazo.

Releembre o caso
Wilfred passou oito dias escondido embaixo do motor do guindaste de trigo do navio. Ele saiu porque não havia mais água e alimentos que pudessem garantir a sobrevivência dele. Do momento em que o camaronês saiu do esconderijo e até ser lançado em alto mar, segundo a denúncia, passou por atos de tortura, ofensas racistas e ameaças.

“(…) a vítima recebeu ‘cerca de quatro chutes na altura do peito, que o fez cair no chão; que no chão, recebeu alguns socos e tapas no rosto’; que ‘em razão dos golpes violentos chegou a ficar aproximadamente dois minutos desacordado; que após as agressões, passou a sentir dores no peito e na cabeça’; que na sequência a vítima foi arrastada ‘até uma cabine isolada e o deixaram por algum tempo, que poucos minutos depois arrastaram-no ao local onde o encontraram e perguntaram o local que se escondera no guindaste; que quando mostrou o local onde se escondeu (…) o mesmo que o agrediu voltou a desferir-lhe socos; que não conseguiu sequer se defender das agressões pelo estado de fraqueza que se encontrava pela falta de comida e água'”, diz trecho da decisão. Um dos acusados disse ainda que “não gostava de preto” e que para ele “todos são animais”.

Para jogar Wilfred ao mar, os acusados o prenderam em um estrado de madeira de aproximadamente um metro quadrado e amarraram em galões de água. Os acusados decidiram lançar o camaronês ao mar, mesmo sabendo que ele não sabia nadar e que a distância do local onde estavam até o continente era grande.

 

Fonte: G1 

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