Jovem estuprado diz que sofre com comentários após denúncia: ‘Só eu sei minha dor’

Há um mês, quando sofreu um ataque homofóbico perto da universidade onde cursa Psicologia, em Petrolina, Pernambuco, Anderson Veloso, de 21 anos, não imaginava que sua vida pudesse se tornar mais trágica. Mas, após denunciar a violência sexual sofrida pelo trio que também o sequestrou e espancou, no último dia 30 de abril, viu seu sofrimento aumentar com comentários e olhares que vem sofrendo.

Por Carla Nascimento Do Extra

— No começo me incomodava bastante, mas agora menos, porque só eu sei do meu coração. Só eu sei da dor que eu senti e ainda sinto. Não tem um dia que eu não lembre do que sofri — diz Anderson, emocionado ao se lembrar das ameaças de morte e da truculência dos três agressores, que usaram um galho para violentá-lo.

12986926_212350285808704_3942631882489530167_n

O estudante disse que com frequência sente que, ao chegar num ambiente, as pessoas param o que estão fazendo e comentam, em cochichos, a seu respeito.

— Já cansei de passar por situações assim, mas ninguém tem coragem de falar diretamente para mim, porque sabem que vou denunciar, botar a boca no trombone. Já fiquei sabendo de muita coisa, ouvi que pessoas comentam de mim, inclusive, mas prefiro não dar valor a isso — diz Anderson, que vem se tornando alvo de comentários maldosos também nas redes sociais.

Na época do ataque, Anderson escreveu um ataque comovente no Facebook:

andersonveloso

Uma das ofensas virtuais sofridas foi num grupo de alunos da universidade, comentários que Anderson preferiu deixar de lado e focar sua energia em seus constantes protestos contra a cultura do estupro:

— É por causa desse machismo tão grande que existe a homofobia, o feminicídio e várias outras coisas, porque só existe o “homem”: ele é o mais importante, o melhor. Não existe mulher, homossexual. Enquanto isso acontecer, as pessoas continuarão apanhando, morrendo, sofrendo — afirma Anderson, que contou ter chorado quando soube do caso da adolescente estuprada por um grupo no Rio: — Fiquei arrasado, muito mal. Chorei, chorei muito — completou.

Anderson registrou o caso, acompanhado pela 26ª Seccional de Polícia.

Relembre o caso

O estudante dá detalhes da ação do trio: ele saía de casa, no fim de abril, por volta das 18h30m, quando foi abordado pelos agressores. Com uma arma, eles o obrigaram a entrar em um carro preto, em que viajou cercado por dois homens encapuzados. O motorista conduziu sozinho na dianteira do veículo, também com o rosto protegido, até um local desconhecido por Anderson. Lá, o trio começou uma verdadeira sessão de tortura que culminou com o estupro de Anderson com um objeto feito de madeira:

— Apanhei na cabeça muitas vezes, com socos, e tomei muitos chutes na barriga. Depois, mesmo debilitado, me enforcaram com o cordão do meu short. Estou com o corpo todo dolorido — diz Anderson, que contou estar habituado a palavras e atitudes preconceituosas no dia a dia: — Escuto tantas ofensas sobre meu comportamento que a violência verbal já não me afeta. Agora, a violência sexual doeu. É muito pesado, ainda estou em choque — desabafa o estudante, que passou por exames médicos que excluíram possíveis sequelas após o estupro sofrido.

+ sobre o tema

Sobre Justiça e Liberdade: E a Liberdade finalmente encontrou a Justiça

Pode ter sido apenas um sonho, pensei ao acordar. Me...

Título é alterado para destacar preconceito da mídia com pessoas trans

Para mostrar como é ridículo identificar uma pessoa somente...

Presidente Municipal do PSOL diz que não aceitará filiação de homossexuais

“Não vai ter lugar para essa gente onde a...

Universidade de Stanford lança o primeiro curso de liderança exclusivo para profissionais LGBT

Com o objetivo de aumentar o número de profissionais...

para lembrar

Vivian Beleboni a transexual crucificada na Parada LGBT foi agredida novamente

Estatísticas comprovam que o Brasil é o país que...

“Me ensinaram ódio disfarçado de religião”. Cristão fingiu ser gay por um ano para sentir preconceito

Em 2008, o americano Timothy Kurek pendurou num cabide sua verdadeira...

7 em 10 brasileiros admitem expressão preconceituosa

No entanto, apenas 20% dos entrevistados assumem ser racistas,...
spot_imgspot_img

PM que agrediu mulher no Metrô disse que ela tinha de apanhar como homem, afirma advogada

A operadora de telemarketing Tauane de Mello Queiroz, 26, que foi agredida por um policial militar com um tapa no rosto na estação da Luz do Metrô de São...

Comitê irá monitorar políticas contra violências a pessoas LGBTQIA+

O Brasil tem, a partir desta sexta-feira (5), um Comitê de Monitoramento da Estratégia Nacional de Enfrentamento à Violência contra Pessoas LGBTQIA+, sigla para...

Robinho chega à penitenciária de Tremembé (SP) para cumprir pena de 9 anos de prisão por estupro

Robson de Souza, o Robinho, foi transferido para a Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, na madrugada desta sexta-feira (22). O ex-jogador foi...
-+=