“Não sei se verei meus filhos crescerem”: Pai de jovem fuzilado por PMs exige desculpas do Estado

Há dois anos e nove meses, o taxista Carlos Eduardo da Silva Souza espera por um pedido formal de desculpas do Estado do Rio de Janeiro.

no UOL

No dia 28 de novembro de 2015, o filho dele, Carlos Eduardo, 16, saiu da favela em que morava em Costa Barros, zona norte do Rio, para pegar um lanche com outros quatro amigos quando cruzou com uma patrulha da PM que atirou 111 vezes contra o carro em que estavam. Todos morreram. Carlinhos foi atingido 11 vezes.

“A última coisa que eu quero é morrer sem ver a condenação desses quatro bandidos fardados”, diz Carlos, que recusou a pensão vitalícia de cerca de R$ 312,30 mensais (um terço de salário mínimo), determinada na última terça-feira (15) pela Justiça como forma de indenização.

Não me interessa dinheiro. Quero é que o Estado venha publicamente se desculpar pela morte deles, que lembre deles

Carlos Eduardo da Silva Souza, pai de Carlinhos

Das cinco famílias, Carlos foi o único que não fechou acordo extrajudicial com o governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB).

A história de Carlos Eduardo é a segunda da série de reportagens do UOL “Guerra sem fim”, que dará voz a vítimas da violência no Estado do Rio de Janeiro.

Por ora, os quatro PMs que atiraram contra o carro com os jovens seguem presos aguardando julgamento. Caberá ao juiz decidir se os policiais, que respondem por homicídio triplamente qualificado agravado pela falsificação de provas, irão ou não a júri popular.

Na época, os policiais alegaram que participavam de operação para checar uma denúncia de roubo de carga na região.

Carlos também pede, na ação que move contra o governo, que a memória dos meninos seja homenageada batizando cinco equipamentos públicos do Estado. Já procurou até a direção do Parque Madureira, local preferido dos jovens, para fazer um painel com a imagem dos meninos.

“Aqui é sempre com o fuzil na mão”

reprodução/Facebook

Carlinhos sonhava em ser marinheiro

Wesley, 25, Wilton, 20, Cleiton, 18, Roberto, 16 e Carlinhos foram criados juntos no Morro da Lagartixa, parte do Complexo de Favelas da Pedreira, uma das regiões mais violentas da cidade, localizada a cerca de 30 km do centro do Rio. Comemoravam o primeiro salário de Roberto quando foram assassinados.

Carlos, que também cresceu no morro e hoje vive no bairro vizinho de Rocha Miranda, diz que se acostumou a ver diferença no tratamento da polícia nas zonas sul e norte do Rio. “Aqui é sempre com o fuzil na mão, não tem boa tarde, não tem bom dia. A gente já chega como culpado.”

Preocupado com o crescimento da violência na região, chegou a se dispor a ajudar a ex-mulher, que vivia com o filho, a mudar para outro bairro. “Mas nunca achei que ia acontecer algo com a gente, a gente nunca acha isso.

Onze dias antes de Carlinhos morrer, ele conta que a enteada, então com cinco anos, quase perdeu a perna ao ser atingida por uma bala perdida quando brincava na porta de casa, dentro de uma vila de casas, vizinha a Costa Barros.

Agora, diz ele, não vive, sobrevive. “O que me mantém de pé é minha filha de sete anos e meu filho de três anos. Mas fico me perguntando. Será que vou ver eles completarem 15 anos? Eles vão estar vivos até lá? Eu vou estar?”, questiona. “

Fabiano Rocha/Agência O Globo

O carro em que os jovens estavam foi atigindo por 111 disparos

+ sobre o tema

Segunda,10 – Manifestação contra o Genocídio da Juventude Negra – 17:30 MASP

RELEASE DIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 1O D CONTRA O...

Técnicos negros sofrem para quebrar preconceito e ganhar espaço no futebol

Desde que saiu do Flamengo campeão em 2009, Andrade...

Thandie Newton contra o racismo em Hollywood

A atriz reivindica que o preconceito na indústria é...

Geledés e o Projeto Geração XXI

O Projeto Geração XXI foi uma ação afirmativa fundamentada...

para lembrar

Datafolha comprova: protesto é justo

Pesquisa revela que a avaliação da população sobre o...

Pedreiro chora após ser constrangido no estacionamento do Riomar Shopping

O pedreiro Edilson dos Santos, 40 anos, foi constrangido...
spot_imgspot_img

Aluna é vítima de racismo e gordofobia em jogo de queimada na escola

A família de uma adolescente de 15 anos estudante do 9º ano do Colégio Pódion, na 713 Norte, denunciou um caso de racismo e preconceito sofridos...

Atriz Samara Felippo presta depoimento em delegacia sobre caso de racismo contra filha em escola de SP

A atriz Samara Felippo chegou por volta das 10h desta terça-feira (30) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro de São Paulo. Assista o...

Número de pessoas mortas pela PM paulista cresceu 138% no 1º trimestre

Dados divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo mostram que o número de pessoas mortas por policiais militares em serviço no...
-+=