Alunos da PUC ocupam o campus em represália à demissão de professora negra

De acordo com os alunos, Marcia é a única professora negra que o curso admitiu em seus 80 anos de funcionamento

Da Revista Fórum 

Foto: Reprodução/Facebook

Alunos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo ocuparam o campus de Perdizes exigindo a contratação efetiva de Marcia Eurico, de acordo com os alunos, a única professora negra que o curso admitiu em seus 80 anos de funcionamento. A ocupação acontece em represália à demissão da professora.

Com a hashtag #MarciaFica, o Centro Acadêmico de Serviço Social da PUC emitiu nota onde os alunos dizem que não recuarão um milímetro sequer, “Mesmo com pessoas que compõem essa universidade (professores e alunos) ameaçando a nossa integridade física”.

A reitoria da PUC divulgou nota listando as ações já tomadas pela universidade sobre a questão racial, como a instituição de cotas para os estudantes e o início de debates sobre cotas para o corpo docente também.

Leia a íntegra da nota do Centro Acadêmico:

“NOSSA LUTA É POR REPARAÇÃO HISTÓRICA, ATUALIZAÇÃO E QUALIDADE DO CURSO:

NÓS, ALUNAS E ALUNOS DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA PUC-SP, PARALISAMOS NOSSAS AULAS NA MANHÃ DESSA SEGUNDA-FEIRA (21) EM PROL DO FORTALECIMENTO DA PAUTA #MARCIAFICA. NÃO RECUAREMOS 1MM SEQUER, MESMO COM PESSOAS QUE COMPÕEM ESSA UNIVERSIDADE (PROFESSORES E ALUNOS) AMEAÇANDO A NOSSA INTEGRIDADE FÍSICA. OCUPAREMOS E RESISTIREMOS.

*É DE GRANDE IMPORTÂNCIA QUE QUEM QUEIRA SOMAR COM A LUTA FORTALEÇA DE CORPO PRESENTE SE POSSÍVEL, MAS CASO NÃO SEJA, AJUDARÁ MUITO O FORTALECIMENTO COM ALIMENTOS DE FÁCIL CONSUMO.

#MARCIAFICA

“No último processo seletivo ocorrido na Faculdade de Serviço Social da PUC/SP para a contratação de docente substituta a Profa. Marcia Eurico foi uma das entrevistadas e aprovada para a vaga, entrando assim para o quadro de docentes da referida instituição. A Profa. Marcia Eurico tem uma trajetória pública e notória. É professora universitária há mais de 12 anos, têm experiência tanto no campo acadêmico como nos espaços sócio ocupacionais. Foi a autora mais citada nos trabalhos enviados ao 15º CBAS e tem diversos artigos publicados em revistas científicas, tais como Serviço Social e Sociedade e Revista Ser Social, e no próximo dia 25 deste mês defenderá sua tese na PUC/SP.

A chegada de uma mulher negra naquele espaço tão restrito reacendeu uma discussão que há tempos faz parte das pautas de reivindicações das/os estudantes que constroem o CA da PUC/SP. Assim, no último dia 07 de maio de 2018, durante a realização do 11º Seminário Anual de Serviço Social iniciou-se uma mobilização com o movimento #MARCIAFICA, entendendo a importância de uma professora negra naquele espaço.

Destacamos que o Curso de Serviço Social da PUC/SP é pioneiro no País, com mais de 80 anos de existência, e em toda sua história nunca houve em seu quadro de docentes efetivos um/uma docente negro/a. Ressaltamos ainda que as orientações da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, bem como do Conjunto CFESS/CRESS (2016-2018) é direcionada para a imediata inclusão de disciplinas e núcleos de pesquisas que discutam as opressões, e entre elas, o racismo e as determinações étnico-raciais, e neste sentido, a reivindicação das/os alunos/as é legítima e portanto reafirmamos #MARCIAFICA.

Nesta direção, reafirmamos nosso compromisso com essa categoria profissional e ressaltamos o necessário e urgente apoio frente a essa trincheira, que neste momento histórico nos convoca a continuar nessa articulação entre entidades, e neste sentido conclamamos à todas/os que historicamente constroem essa categoria profissional, aos profissionais assistentes sociais, discentes e docentes da graduação e da pós-graduação, aos supervisores de campo e acadêmico e a cada um/uma que compactua com o mesmo projeto societário, que assinem o abaixo-assinado que já conta com mais de 1.200.00 ASSINATURAS, e que participem das assembleias e demais atividades que ocorrerão durante a ocupação que reivindica a imediata CONTRATAÇÃO EFETIVA da Profa. Marcia Eurico, e por cotas no corpo docente da graduação e pós graduação.
Segue na íntegra o abaixo assinado https://www.change.org/p/reitoria-da-puc-sp-marciafica.

ENESSO É PRA LUTAR!!! O MESS EXISTE E RESISTE! #MARCIAFICA.

Assinem esta nota:

Comissão Gestora da Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social.

Coordenação Regional da ENESSO – Região VII.

Maio/2018”

Leia a íntegra da nota da Reitoria da PUC:

A Reitoria da PUC-SP vem manifestar o seu reconhecimento da relevância das demandas dos alunos do curso de Serviço Social, que incorporam questões acerca da temática racial na Universidade.
Nesse sentido, em conjunto com os Coletivos da Universidade, tem estabelecido uma agenda de ações concretas relacionadas a essa temática, que envolvem a participação da comunidade universitária, da Reitoria e da FUNDASP. Entre elas, destaca-se a implementação do Programa “Inclusão social: cotas étnico-raciais” para a concessão de bolsas de estudo na Pós-graduação stricto sensu, desde o 2º semestre de 2017. Esse Programa foi discutido e aprovado pelos órgãos colegiados da Universidade.

Além disso, vem realizando reuniões com o conjunto de representações do corpo discente para o estabelecimento de uma política de permanência dos estudantes na Universidade, iniciada com bolsas alimentação.
Em continuidade a essas ações, a Reitoria, com base no modelo utilizado na Pós-graduação, já elaborou proposta de política de bolsas de estudos, com critério de recorte racial, para alunos da graduação, cuja implantação está prevista para o 2º semestre de 2018.

Reconhecendo a necessidade de diversificação e mudança do perfil do quadro docente da Universidade, está em elaboração uma política de cotas étnico-raciais para a contratação de docentes, a ser amplamente discutida pela comunidade, ainda neste ano, e aprovada nas instâncias colegiadas.

Em relação à demanda específica de permanência da professora Marcia Eurico, no quadro docente do curso de Serviço Social, os Departamentos de Fundamentos do Serviço Social e de Política Social e Gestão Social responderam expressando sua posição. A Reitoria, preservando a autonomia dos Departamentos e da Faculdade de Ciências Sociais, tal como previsto no Estatuto da Universidade, acompanha as tratativas em curso entre os estudantes e aquela unidade acadêmica, com forte expectativa de que se chegue à melhor solução.

A Reitoria reafirma sua disposição em manter o diálogo com os estudantes acerca de suas demandas e reitera a necessidade de que a Universidade retome seu funcionamento normal, uma vez que questões estruturais relativas ao tema continuarão sendo tratadas e implementadas em âmbito institucional.

Com informações da Revista Exame

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