Superintendente da Valec é indiciado por racismo contra estagiária

Servidor foi acusado de supostamente ter dito que “o país não avançava pelo fato de a princesa Isabel ter assinado alforria dos escravos”

Por CARLOS CARONE, do Metrópoles 

Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A Polícia Civil do Distrito Federal abriu inquérito para investigar denúncia de racismo ocorrido na Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa pública federal em Brasília. Um dos superintendentes regionais foi indiciado nesta quarta-feira (13/6), após uma estagiária negra de 16 anos o acusar de cometer crime racial no ambiente de trabalho. A Valec, vinculada ao Ministério dos Transportes, também abriu sindicância em seu Conselho de Ética para apurar o caso

Segundo o inquérito instaurado na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), o caso ocorreu em 3 de maio, por volta de 15h, dentro do elevador da empresa. Estavam no local a estagiária, identificada como Sandra*, o superintendente administrativo Rolando Marreta e uma mulher com quem ele conversava.

De acordo com o termo de declaração prestado pela estudante na delegacia, o executivo, em tom de indireta, comentou que a educação no Brasil não caminhava bem e o “país não avançava pelo fato de a princesa Isabel ter assinado a alforria dos escravos”. Ainda segundo o depoimento da adolescente, Rolando Marreta teria dito que “as coisas estavam ruins porque não eram levadas na rédea curta como antigamente”.

Chorando sem parar
De acordo com a deposição da jovem à polícia, o superintendente a olhava a todo instante enquanto fazia os ataques racistas. A delegada-chefe da Decrin, Gláucia da Silva, confirmou que o inquérito está em andamento e Rolando Marreta foi indiciado por racismo após uma testemunha confirmar a versão contada pela estagiária. Outras pessoas foram intimadas e já começaram a prestar esclarecimentos. Marreta também será ouvido.

A delegada explicou que a unidade teve acesso às imagens das câmeras de segurança instaladas no elevador. “Vamos apurar todas as circunstâncias e confirmar que as palavras usadas pelo autor são justamente essas relatadas pela vítima. É preciso ressaltar que, enquanto a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem, o crime de racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça“, disse.

O outro lado
Metrópoles procurou a direção da Valec para falar sobre o caso. Por meio de nota, a assessoria de comunicação da empresa confirmou que o Conselho de Ética foi acionado e abriu procedimento de apuração.

O texto ainda frisa que a Valec “tem o compromisso de promover um ambiente livre de qualquer tipo de discriminação. Participa do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça [da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres] e vem promovendo campanhas e eventos voltados à conscientização do seu corpo funcional. Nossa empresa repudia qualquer atitude discriminatória”.

A vítima do ataque racista foi procurada, mas não quis comentar o caso. A reportagem também tentou falar diretamente com Rolando Marreta, porém não obteve resposta.

*Nome fictício

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