Menina de 11 anos, grávida por estupro, passa por cesárea, em vez de aborto, na Argentina

“Tirem da minha barriga o que o velho colocou”, disse a criança, que foi violentada pelo marido de sua avó.

Do Crescer 

Ativistas em meio a um protesto, abraçadas segurando um cartaz escrito a mão: "cesária não é ILE".
Ativistas protestam contra a demora para interromper a gestação de Lucia. “Cesárea não é ILE”, diz o cartaz. ILE é a sigla usada para Interrupción Legal del Embarazo, que significa “Interrupção Legal da Gravidez”, prevista na lei argentina em casos extremos, como este (Foto: Reprodução/ Facebook)

Uma criança de 11 anos passou por uma cesárea, em vez de um aborto, na província de Tucumán, na Argentina. A cirurgia, que aconteceu sem a autorização da mãe da garota, foi realizada nesta quarta-feira (27). De acordo com a ginecologista Cecilia Ousset, a cesárea foi necessária porque o corpo da menina, que tem sido chamada pelo nome fictício de Lucia pela imprensa local, para preservar sua identidade, ainda não estava completamente desenvolvido. “Via vaginal não era possível. O corpo dela não estava suficientemente desenvolvido para uma gravidez de 23 semanas e, mesmo que estivesse, ela não estava pronta psicologicamente, dados os abusos que sofreu”, disse, em entrevista à TV TN.

Segundo a agência EFE, a menina estava sofrendo com pré-eclâmpsia e já havia tentado cometer suicídio duas vezes. O caso comoveu a Argentina e reacendeu o protesto de grupos pró-aborto. Grupos foram protestar diante do Hospital Eva Perón.

Lucia, que morava com a avó há seis anos, foi estuprada pelo marido dela e a gravidez foi detectada por volta da 19ª semana. A mãe da garota, então, entrou com um pedido para o aborto, que é legal no país em casos de estupro ou quando a vida da gestante está em risco – a situação se enquadrava em ambos. A “ILE”, que é a interrupção imediata da gravidez, poderia ter sido feita imediatamente, segundo a lei em vigor no país. “Tirem da minha barriga o que o velho colocou”, disse à menina, de acordo com registro anexo ao processo judicial.

No entanto, a Justiça demorou até a 23ª semana para liberar a autorização. Segundo grupos de ativistas pró-aborto, isso acontece, muitas vezes, para que a gestação chegue a um ponto em que a interrupção legal não seja mais possível e que a vida do feto fora do útero se torne viável. “O Estado é responsável por torturar Lucia”, protestou uma porta-voz da #NiUnaMenos, uma das organizações feministas que lutam pela legalização do aborto.

Quando a família conseguiu a autorização para o procedimento, na terça-feira (26), os médicos, anestesistas e enfermeiros se recusaram a executá-lo, alegando “objeção de consciência”. A opção foi, então, realizar a cesárea. O bebê foi retirado vivo do útero de Lucia e colocado em uma incubadora neonatal, em estado grave. Segundo os médicos, é pouco provável que sobreviva. Amostras de material genético do cordão umbilical e da placenta foram coletadas para análise do DNA. Os resultados confirmaram a identidade do estuprador, que está preso.

Não foram divulgadas informações sobre o estado de saúde e psicológico de Lucia.

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