Carnaval carioca tem apenas três mulheres carnavalescas. Nenhuma delas é negra. Por que isso ainda acontece?

Rosa Magalhães, Márcia Lage e Annik Salmon contam suas experiências e refletem sobre predominância de homens na função mais importante da festa

Por Amanda Pinheiro, Do O Globo

Foto de Rosa Magalhães- mulher idosa branca, vestindo camiseta com estampa preto e branca- sentada
Rosa Magalhães: 50 anos de carreira no carnaval carioca (Foto: Marcos Ramos / O Globo)

Ao assistir ao desfile de carnaval no Sambódromo, perceba a quantidade de mulheres na avenida como rainhas, musas e passistas das escolas de samba. Todas sendo um referencial de beleza, boa forma e glamour. No entanto, ao observar também as posições de carnavalescos, onde estão essas mulheres, sobretudo as negras?

Segundo a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), entre os carnavalescos das 13 escolas do Grupo Especial, apenas três são mulheres, sendo duas carnavalescas e uma integrante de comissão de carnaval. Já na Série A, o número é menor ainda. Dos 14 carnavalescos do grupo, apenas uma é mulher. Em nenhum dos dois grupos existe uma mulher negra na posição de carnavalesca. João Vítor Araújo, carnavalesco da Paraíso do Tuiuti, é o único homem negro ocupando a função mais importante do carnaval.

Com diferentes formas de expressão pelo Brasil, o carnaval é uma festa que também tem fortes raízes na cultura negra. No Rio de Janeiro, a folia nasceu por meio do samba que era tocado nos quintais das Tias Baianas, em especial, na casa de Tia Ciata, onde os artistas se reuniam. Foi na região da Praça Onze, na Pequena África, que os primeiros ranchos começaram a desfilar, originando os primeiros blocos e a primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1928. A historiadora Angélica Ferrarez explica como o carnaval, embora negro desde o princípio, se tornou um ambiente pensado por pessoas brancas.

— A figura do carnavalesco surgiu em 1970. Ele vem da universidade e tem formação em Belas Artes. Logo, a maioria é formada por homens e brancos, com exceção de Rosa Magalhães, que é uma das poucas mulheres dentro desse universo. Então, é muito difícil encontrar pessoas negras nesse lugar — afirma Angélica, que ressalta a importância dos carnavalescos:

— Costumo dizer que, se não fossem Fernando Pamplona e sua turma, as escolas não seriam o que são hoje. O papel desse mediador cultural é importante inclusive para os negros. Não apenas porque o carnavalesco é a cabeça pensante que pesquisa e constroi o carnaval, mas principalmente, pelo encontro, pela sua união com a comunidade negra, com as pessoas que mantêm as raízes negras das escolas de samba.

De acordo com o IBGE, mais de 1,14 milhão de estudantes (50,3%) autodeclarados pretos ou pardos estão matrículados na rede pública de ensino superior. Para Angélica, a entrada dos negros nas universidades irá refletir no carnaval.

— Sabemos que a mudança será possível pela política de ação afirmativa nas universidades. Daqui a alguns anos, a figura do carnavalesco ganhará em diversidade, para que pessoas negras construam o lugar social desse carnavalesco a partir de uma base que é “de dentro”.

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