Defensora aposentada acusada de racismo tem registros por injúria e lesão corporal

Suspeita de 59 anos tem ao menos cinco boletins de ocorrência anteriores; ela deve prestar depoimento na semana que vem

A defensora pública estadual aposentada de 59 anos, acusada por dois entregadores de injúria racial em um condomínio de Niterói, no Rio de Janeiro, já tem ao menos cinco registros na Polícia Civil pelo crime de injúria.

Segundo informações obtidas pela CNN, em um dos casos, em 2014, quando ainda era defensora, teria se referido à funcionária de um plano de saúde, usando expressões como “surda”, “muda”, “infeliz”, além de dizer que “pagava por seu salário”. Após os ataques, supostamente feitos ao telefone, a mulher procurou a delegacia da Polícia Civil para registrar um boletim de ocorrência.

Além de injúria, a Polícia Civil do Rio de Janeiro já recebeu registros contra a defensora por crimes como lesão corporal e constrangimento.

De acordo com a polícia, a mulher deve ser ouvida na próxima semana em uma investigação que apura o caso de injúria por preconceito.

Segundo o boletim de ocorrência realizado na terça-feira (3), o caso teve início quando Eduardo Peçanha e mais um colega faziam entrega em um condomínio de luxo e estacionaram uma van em frente à garagem da ex-defensora pública. A mulher, por sua vez, pediu que o veículo fosse retirado da entrada da residência, o que não foi prontamente atendido pelos entregadores.

Joab Gama de Souza, advogado das vítimas, afirma que a espera pela retirada do veículo durou apenas alguns minutos. Ele explica que o motorista da van fazia uma entrega em uma residência vizinha e, por isso, não retirou imediatamente. Ainda segundo o advogado, o entregador que ficou no veículo não tinha carteira de motorista para removê-lo do local, dando início à discussão.

“A mulher pediu que o veículo fosse removido da garagem. O ajudante respondeu que ele precisaria esperar o motorista chegar, porque ele não era capacitado para dirigir. Logo em seguida, ela perdeu o controle e começou a ofender os trabalhadores. Ela chamou os dois de ‘macacos’. Em seguida, começou a jogar objetos na direção da van. Fizemos o registro de ocorrência e esperamos que o caso seja designado para uma delegacia especializada”, contou. Joab Gama.

O caso, que aconteceu no último sábado (30), também é acompanhado pela Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia e Religião da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Por meio do advogado Daniel Vargas, a comissão oficiou a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), para que se junte às investigações da denúncia.

À CNN, Daniel Vargas também confirmou que a ex-defensora tentou quebrar o retrovisor do veículo antes de chamar o funcionário de ‘macaco’.

Em nota, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou que é “absolutamente contrária a qualquer forma de discriminação” e que tem coordenações atuantes nesses tipos de caso. O órgão, por fim, destaca que a mulher do vídeo “está aposentada desde novembro de 2016.”

Em comunicado oficial, a Polícia Civil afirmou que pediu imagens de câmeras de segurança para a investigação do caso.

Na quinta-feira (5) uma equipe da CNN foi até o condomínio onde a defensora aposentada mora, para ouvir sua versão.

A pedido da reportagem, o porteiro ligou para ela três vezes, mas a mesma informou não gostaria de falar sobre o assunto. A CNN ainda não conseguiu contato com a defesa da acusada.

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