TRE aceita denúncia de violência política de gênero contra Wellington Moura por dizer que colocaria cabresto na boca da deputada Mônica Seixas

Enviado por / FontePor Paola Patriarca, do G1

Mônica Seixas (PSOL) chegou a pedir cassação de Wellington Moura (Republicanos) após fala, mas Conselho de Ética negou abertura do processo em junho deste ano. Denúncia foi oferecida pelo Ministério Público Eleitoral em julho.

O Tribunal Regional Eleitoral aceitou a denúncia do Ministério Público Eleitoral contra o deputado estadual e vice-presidente da Alesp, Wellington de Souza Moura (Republicanos), por crime de violência de gênero após afirmar que colocaria um “cabresto na boca” da deputada Mônica Seixas (PSOL) no dia 18 de maio, durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo.

O crime de violência política de gênero foi estabelecido no Código Eleitoral pela Lei nº 14.192/2021 e esta foi a primeira denúncia feita pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo. Caso haja condenação de Wellington durante a ação penal, a pena prevista é de um a quatro anos de reclusão, mais multa.

Em nota, a deputada Mônica Seixas disse que a denúncia ter sido aceita “é só o começo de uma batalha”.

“Temos a total consciência de que se trata somente de uma batalha e temos um caminho longo a percorrer. Mas, isso em um cenário no qual temos mais de nós, mulheres negras, eleitas na Alesp, traz a esperança de que não mais seremos silenciadas em nenhum espaço, sobretudo esse, onde fomos democraticamente eleitas. Vamos continuar na política e em todas as áreas. Vão ter que nos aceitar. Racistas não passarão. Não vão nos calar”.

A reportagem do g1 tenta contato com o deputado Wellington Moura.

Votação unânime

Durante a sessão do TRE, realizada na quarta-feira (23), o Procurador Regional Eleitoral Paulo Taubemblatt alegou que o deputado disse a frase “em tom ameaçador” e que “a intenção era de impedir a atuação parlamentar Mônica”.

“A liberdade de opinar, reportar e emitir posições não pode existir que suprima de uma colega parlamentar”, afirmou.

Já o advogado Geraldino Santos, que representou Wellington Moura, argumentou que a deputada “tumultuou a sessão no dia 17 de maio” e que o caso não deveria ser considerado violência política.

“No dia anterior ela impediu que colegas atuassem. A deputada tem como estratégia política esse tipo de comportamento de criar tumulto e, com isso, causa indignação dentro da casa e nunca o Ministério Público interferiu”.

“Não há como falar em violência política porque a vítima não entendeu como algo político e, sim se sentiu injuriada. A vítima que tem que saber o que feriu. Não há como se imputar crime de violência política”, argumentou.

O relator do processo, o juiz Afonso Celso da Silva, afirmou que a denúncia “reúne condições de ser aceita tendo como objeto a análise que deve ser feita no momento” e determinou providências para o início da ação penal.

O juiz Marcio Kayatt também foi a favor da denúncia.

Processo negado

No dia 7 de junho, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) negou a abertura de um processo contra Moura.

Foram cinco votos contrários e quatro favoráveis à abertura do processo. Votaram contra os deputados Campos Machado (Avante), Adalberto Freitas (PSL), Altair Moraes (Republicanos), Delegado Olim (PP) e Estevam Galvão (União).

Na época, Moura disse: “Foi feito justiça e desconstruídas as acusações quanto a racismo e machismo”.

E completou: “Reitero que nunca houve qualquer intenção de menosprezar a deputada Mônica Seixas, lamento ela não ter me recebido para dialogar sobre o ocorrido, mas respeito sua decisão. Nem os próprios colegas de legenda da deputada, que fazem parte da Comissão, compareceram, sugere-se que não concordam com a postura da deputada, mas vida que segue. A verdade sempre prevalece!”

Após o caso, a deputada também entrou com uma representação no conselho pedindo a cassação do mandato de Moura. Em defesa prévia, o parlamentar do Republicanos afirmou ter avó negra e que utilizou o termo com conotação de “algo que controla”.

+ sobre o tema

Ludmilla responde a Val Marchiori

Socialite e comentarista de carnaval disse que cabelo de...

População negra do Brasil ainda sofre com o preconceito

O Brasil está “muito atrasado” na questão dos direitos...

Consórcio ABC inicia formação regional sobre enfrentamento ao racismo

O Consórcio Intermunicipal Grande ABC promoveu, nesta quinta-feira (8/8),...

Falta de negros no Direito gera discriminação em condenações, diz advogado

Os negros são 54% da população brasileira, mas apenas...

para lembrar

Teorias e práticas científicas legitimam produção de iniquidades, alertam pesquisadores reunidos no Recife

O Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambuco) promoveu,...

Relato coletivo da violência: “Corram que vamos atirar”

Manifestantes cercados e atacados pela Força Policial: democracia, só...

Onde está Amarildo? por Eliane Brum

O fato de o ajudante de pedreiro ser visto...
spot_imgspot_img

Marca de maquiagem é criticada ao vender “tinta preta” para tom mais escuro de base

"De qual lado do meu rosto está a tinta preta e a base Youthforia?". Com cada metade do rosto coberto com um produto preto,...

Aluna é vítima de racismo e gordofobia em jogo de queimada na escola

A família de uma adolescente de 15 anos estudante do 9º ano do Colégio Pódion, na 713 Norte, denunciou um caso de racismo e preconceito sofridos...

Atriz Samara Felippo presta depoimento em delegacia sobre caso de racismo contra filha em escola de SP

A atriz Samara Felippo chegou por volta das 10h desta terça-feira (30) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro de São Paulo. Assista o...
-+=