Não fossem as câmeras de segurança, caso de estrangulamento do Extra seria mais um para dentro da gaveta e do esquecimento
Por Jefferson Barbosa, Raull Santiago e Wesley Teixeira, da Carta Capital

Pedro Gonzaga, infelizmente, não foi o primeiro e nem será o último.
Enquanto as estruturas da nossa sociedade forem constituídas no racismo, casos como o de Pedro, jovem negro estrangulado até a morte pelo segurança do hipermercado Extra, irão se repetir.
O que nos cabe é constranger, denunciar a política de morte da qual não apenas o Estado, mas também a sociedade, as empresas vêm sendo cúmplice. O mata-leão que o segurança aplicou sem humanidade naquele corpo também teve as mãos de quem assiste ao vídeo e não se escandaliza.
Não vamos deixar de nos indignar. Silenciar também é uma forma de nos matar.
Para intensificar essa reação, pessoas de diferentes cantos do país se manifestaram em frente ao Extra de suas cidades no último domingo. A câmera revela uma ação absolutamente desnecessária por parte do segurança com a conivência de muitos a seu redor. Nada justifica aquilo. Nada. Ainda que Pedro tivesse ali roubado algum produto, nada justifica.
Mais grave ainda é a descoberta que sequer o segurança estava apto para o cargo, tendo em vista sua anterior condenação transitada em julgado. A rede de supermercados Extra, pertencente ao grupo Pão de Açúcar, bem como a empresa de segurança terceirizada Groupe Protection falharam em todos os níveis no treinamento e contratação, sendo diretamente responsáveis pelo acontecimento.
Quanto vale a vida? Inversão de valores é a vida de um jovem valer menos que uma mercadoria.
Nesse sentido, entre tantas medidas necessárias para o caso, uma delas certamente é uma polpuda indenização para a família do jovem pagas de forma autônoma por cada uma das empresas envolvidas.
Vale lembrar que apenas 4% dos homicídios são elucidados e não fosse uma câmera ali, o assassinato de Pedro Gonzaga seria apenas mais um caso para dentro da gaveta, com grandes mentiras contadas para relativizar e justificar o injustificável.
Pedro Gonzaga tinha 19 anos e um filho, deixa uma mãe órfã e uma oportunidade de mais uma vez refletirmos sobre a sociedade que estamos construindo.
Nesse país onde infelizmente justificativas mentirosas de assassinatos de jovens negros são comuns, lutamos para que não seja mais. O excesso de força assim como as medidas segurança pública só vem provocando morte e a cada 23 minutos um jovem negro é morto no Brasil. Isso tem que parar.
Conforme Elza Soares bradou há poucos dias em suas redes sociais, a carne mais barata do mercado não será mais a carne negra.