Com rodas de samba, saraus, plenárias e manifestações, pretas costuram amplas alianças e, recordando Zumbi e Lélia Gonzalez, preparam-se para desaguar sua força em Brasília
Por Inês Castilho | Imagem: Larissa Isis, do Outras Palavras
“Estamos em marcha!”
Com esse grito de guerra, milhares de mulheres negras brasileiras realizarão no dia 18 de novembro, em Brasília, a “Marcha das Mulheres Negras –e Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver”.
Passados vinte anos do reconhecimento oficial de Zumbi, que originou a comemoração de 20 de novembro, e da morte de Lélia Gonzalez, teórica pioneira do feminismo negro, as pretas retomam em 2015 a ação política nas ruas.
Com sua presença marcante, demandam o empoderamento político da mulher negra, o fim do machismo, do racismo e da discriminação racial, da lesbofobia, bifobia e transfobia, e do preconceito e discriminação de qualquer natureza. Colocam-se contra a intolerância religiosa, pelo respeito e preservação das religiões de matrizes africanas e pelo reconhecimento e preservação dos saberes materiais e imateriais da população negra (cultura, tecnologia, arquitetura, culinária etc.). E levantam-se em defesa da democracia no país.
“O recrudescimento do racismo e o modelo de desenvolvimento social e econômico no Brasil impactam profundamente o extermínio de jovens e as mortes evitáveis de mulheres (por doenças tratáveis, falta de acesso a condições dignas de vida e violência)”– afirmam em seu Manifesto.
Com o lema “Nossos passos vêm de longe. Uma sobe e puxa a outra”, diferentes organizações formaram o Núcleo Impulsor do estado de São Paulo, espaço autônomo para articulação da Marcha no estado. Foi uma longa construção das mulheres dentro do movimento negro, do feminismo, do movimento de mulheres LGBT.
“O que construímos ao longo desse período não acaba lá. Nós, pretas ainda mal começamos a ocupar os nossos espaços. Enegrecemos o 8 de março, um momento político de reafirmação nossa de que a representatividade importa sim e nós temos muito a falar sobre feminismo, racismo e política no geral”, afirmam.
“Foram rodas de samba, foram plenárias, foram festas. Todas as intervenções culminando com o escrito das mulheres pretas de São Paulo dizendo o que reivindicam do poder público na Carta de Princípios – afirmam.
Nesse processo de construção, ocuparam o 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.
“A construção do Julho das Pretas com rodas de conversas, seminários, debates e muita música refletiu justamente este fazer político de ocupar os lugares que normalmente nos são negados.”
Entre as entidades que vêm compondo o Núcleo Impulsor do Estado de São Paulo e construíram juntas o Manifesto estão: CONEN/Unegro/APNs/Sindsep/Marcha Mundial de Mulheres/Geledés – Instituto da Mulher Negra/Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT)/ PSOL/Movimento Sem Terra de Luta (MSTL)/ Central de Movimentos Populares (CMP)/ Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)/ UneAfro/ Zulu Nation BR/Coletivo Quilombação/Associação Afrika/ Frida Khalo/Unicab/ Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras(AMNB) /Juntos!/ AMB/ Levante Popular da Juventude/ Negro Sim/ Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial-SP/Associação Baobá de Canto Coral e mais uma série de entidades e mulheres negras autônomas.