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quinta-feira, fevereiro 25, 2021
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    Camila Moura de Carvalho (Arquivo Pessoal)

    Camila Moura de Carvalho: Por que o feminismo negro?

    Djamila Ribeiro – Filósofa e Escritora “Não é preciso ser negro para se engajar na luta antirracista” (Foto: Victor Affaro)

    Mulheres de Sucesso: Forbes destaca 20 nomes em 2021

    Anielle Franco (Foto: Bléia Campos)

    A importância da proteção de defensores e defensoras de direitos humanos 

    Ilustração/ Thaddeus Coates

    Quando eu descobri a negritude

    Bianca Santana - Foto: João Benz

    Queremos uma presidenta em 2022!

     A24 Studios/Reprodução

    O Homem Negro Vida

    A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala prepara seu discurso após ser nomeada, em sua casa de Potomac, Maryland. (Foto: ERIC BARADAT / AFP)

    A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala será a primeira mulher africana a dirigir a OMC

    (Foto: Divulgação/ Editora ContraCorrente) 

    Por ela, por elas, por nós

    Lorena Lacerda (Foto: Reprodução/ Instagram @lorenlacre

    Alisamento, corte químico, tranças e turbantes: Do processo racista ao coroamento estético-racial

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      Bianca Santana, jornalista, cientista social e pesquisadora - Foto: Bruno Santos/Folhapress

      Notícia sem contexto contribui para o genocídio negro no Brasil, afirma pesquisadora

      Alice Hasters (Foto: Tereza Mundilová/ @terezamundilova)

      Alice Hasters – Por que os brancos gostam de ser iguais

      Geledés

      Família diz que menino morto no Rio foi retirado da porta de casa pela PM

      Foto: Diêgo Holanda/G1

      Perigo: ele nasceu preto

      Foto: Ari Melo/ TV Gazeta

      Moradores carregam corpos e relatam danos psicológicos após ações da PM na Baixada Fluminense

      Keeanga-Yamahtta Taylor (© Don Usner)

      O que o Black Lives Matter diz ao mundo e ao Brasil

      83% dos presos injustamente por reconhecimento fotográfico no Brasil são negros

      Ilustração/ Thaddeus Coates

      Quando eu descobri a negritude

      Foto: @Artsy Solomon/ Nappy

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      Bandeira do orgulho trans hasteada em São Francisco, nos Estados Unidos. Foto: Flickr (CC)/torbakhopper

      Brasil segue no topo de ranking de assassinatos de pessoas trans no mundo

      Maíra Vida: Advogada, Professora, Conselheira Estadual da OAB BA e Presidenta da Comissão Especial de Combate à Intolerância Religiosa (Foto: Angelino de Jesus)

      Do crente ao ateu, não faltam explicações para o racismo religioso no Brasil

      Foto: Deldebbio

      Prefeito de Duque de Caxias é investigado por intolerância religiosa a crenças de matriz africana

      FÁBIO VIEIRA/ESPECIAL METRÓPOLES

      Após ser alvo de ataques transfóbicos e racistas, Érika Hilton irá processar 50 pessoas

      A parlamentar Laetitia Avia propôs a nova nova lei, enquanto o primeiro-ministro Jean Castex foi ridicularizado por seu sotaque (GETTY IMAGES)

      Por que a França pode criminalizar a discriminação pelo sotaque

      Adolescente de 16 anos foi espancada pelo pai por ser lésbica, na Bahia — Foto: Divulgação/Polícia Civi

      Adolescente é espancada pelo pai na BA e relata que motivo é ela ser lésbica; avó da vítima denunciou homem à polícia

      (Jonathan Alcorn/AFP/)

      Painel trata combate ao racismo como exercício de cidadania e justiça

      Imagem: Geledes

      Racismo Estrutural – Banco é condenado a indenizar cliente por discriminação racial

      GettyImagesBank

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        Chiquinha Gonzaga aos 47 anos, em 1984 (Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Edinha Diniz/Ciquinha Gonzaga)

        Negritude de Chiquinha Gonzaga ganha acento em exposição em São Paulo

        Edusa Chidecasse (Foto: Reprodução/ @tekniqa.studios)

        Websérie Bantus entrevista atriz angolana

        Itamar Assumpção/Caio Guatalli

        Itamar Assumpção para crianças

        Lula Rocha, expoente do movimento negro do Espírito Santo - Arquivo pessoal

        Morte: Agregador, articulou cultura e educação no movimento negro

        Chiquinha Gonzaga  Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Edinha Diniz/Divulgação

        Itaú Cultural abre a série Ocupação em 2021 com mostra dedicada à maestrina Chiquinha Gonzaga

        Vacinação contra a Covid-19 dos Quilombolas da comunidade Sucurijuquara, região isolada do Distrito de Mosqueiro, no Pará (Foto: FramePhoto / Agência O Globo)

        Covid-19: maioria da população, negros foram menos vacinados até agora

        Osaka comemora título do Austraçlian Open após vitória contra Brady (Foto: ASANKA BRENDON RATNAYAKE / REUTERS)

        Osaka conquista Australian Open e chega ao 4º título de Grand Slam

        Viviane Ferreira (Foto: Imagem retirada do site Glamurama)

        Cineasta Viviane Ferreira será a nova diretora-presidente da SPCINE

        Steve Granitz/WireImage

        Regina King interpretará a primeira congressista negra dos Estados Unidos

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              Adriana Meireles Melonio: Babaçu, identidade e magistratura

              20/02/2021
              em Artigos e Reflexões
              Tempo de leitura: 5 min.

              Fonte: Por Adriana Meireles Melonio, do Justificando
              Adriana Meireles Melonio (Foto: Arquivo Pessoal)

              Adriana Meireles Melonio (Foto: Arquivo Pessoal)

              Meus pais são migrantes nordestinos. Chegaram ao Rio de Janeiro no início dos anos 70, trazendo como bagagem um garfo, uma faca e uma esteira, além do sonho de construir uma vida melhor que aquela que tinham no interior do Maranhão. Ante a escassez de recursos na cidade grande, passaram-se muitos anos sem que pudessem retornar à terra natal. E foi por isso que cresci sem meus avós por perto.

              Já se passaram mais de quarenta anos de quando aqui se estabeleceram. Nos últimos dias, aproveitando o recesso das festas de fim de ano, peguei-me observando meu pai: sentado na soleira da porta da cozinha de nossa casa, descascava uma laranja. Retirava a casca sem quebrá-la e a visão daquela espiral inteira, mas imperfeita, ora mais grossa, ora quase por um fio, fez-me pensar nos caminhos percorridos por meus ancestrais, para que eu pudesse hoje ser uma juíza.

              Inundada por aquela imagem, lembrei-me de uma das minhas avós. Seu nome era Esterlina Lídia. Esterlina significa “forte”, “duro”, “indestrutível”. Lídia significa “trabalho árduo”. Seu nome parece ter determinado seu destino, pois a Dona “Istulina”, como era conhecida entre parentes e vizinhos, foi uma mulher incansável, como tantas outras mães pretas.

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              10/01/2021

              Era quebradeira de coco babaçu. Passava o dia coletando os frutos, quebrando-os ao meio para extrair suas amêndoas, das quais se extrai óleo precioso e de usos múltiplos. Coletava cerca de 10 quilos por dia, vendidos a preços baixíssimos a atravessadores e, com os parcos valores, comprava açúcar, farinha, café, arroz e outros alimentos. A carne era de pequenos animais e aves caçados por ela ou por seus “pequenos”. Peixes miúdos como cascudos e bagrinhos eram a alimentação de suas onze crianças, criadas praticamente sozinhas por ela.

              Ainda vendo meu pai na soleira da porta, penso o quão pouco eu sabia de minha avó até pouco tempo atrás. O ingresso na magistratura fez nascer não somente a juíza, mas floresceu a mulher negra escondida dentro do meu peito. E na busca pelo meu lugar no mundo, entendi que esse encontro passaria necessariamente pelo encontro com minha ancestralidade.

              Perseguindo os galhos mais altos de minha árvore genealógica, descobri que Esterlina era filha de Catarina e Ladislau. Seus irmãos eram Joana, Raimundo (apelidado Cabelo Velho, por desde jovem ter os cabelos grisalhos), além de Paulo, Antônio e Amadeu. Catarina e Ladislau eram netos de escravizados. E o conhecimento da história familiar paterna só chega até este ponto.

              Conversando recentemente com um amigo, eu disse que tinha dúvidas acerca da origem do sobrenome Melonio, herdado de minha avó paterna. Ao contrário de descendentes de europeus, que conseguem afirmar se tem ascendência italiana, portuguesa ou alemã, por exemplo, raramente um descendente de escravizados no Brasil consegue ter acesso à sua origem desde África.

              Estudos da história da escravidão no Brasil revelam que após a chegada às terras brasileiras, à exceção de mulheres acompanhadas de recém-nascidos, as famílias de africanos eram propositalmente separadas. Além disso, eram batizados e recebiam um nome cristão, enquanto o sobrenome se relacionava ao porto africano onde haviam sido embarcados ou ao sobrenome de seus proprietários. Estes violentos rituais simbólicos marcaram a vida dos recém chegados, que perderam sua liberdade, tiveram suas famílias esfaceladas, seus costumes e língua desprezados, seus nomes originais ignorados e por fim, se tornaram escravos.

              Mas tal violência não foi suficiente. Por meio de despacho de 14 de dezembro de 1890, o Ministro Ruy Barbosa determinou a destruição de todos os papéis, livros de matrícula e documentos relativos à escravidão, existentes nas repartições do Ministério da Fazenda. O intuito desta determinação, segundo o Ministro, era “destruir esses vestígios por honra da pátria e em homenagem aos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que pela abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira”.

              No entanto, seu intuito principal foi evitar pedidos indenizatórios por parte de ex-proprietários de cativos, mas também apagar os rastros da entrada ilegal de escravos, proibida desde a Lei Feijó. Vigente desde 1831, a norma sistematicamente desprezada proibia a importação de escravizados para o Brasil, além de declarar livres todos aqueles trazidos para terras brasileiras.

              Deste modo perdemos o acesso às nossas origens, às nossas heranças culturais. Sofremos um apagamento histórico e um silenciamento de nosso discurso identitário.

              Esterlina criou onze filhos. Às vezes me surpreendo imaginando o que se pensava em sua mente enquanto quebrava cada um daqueles cocos com suas mãos pequenas, mas fortes e ágeis. Em algumas ocasiões acho que não pensava, apenas quebrava, quebrava e quebrava, pois a fome e a necessidade tem o poder de entorpecer nossos sonhos e nos fazer apenas idealizar a próxima refeição ou no máximo, a do dia seguinte. Em outras vezes, imagino que pela força da sabedoria das mulheres negras, ela tinha a consciência de que seu sacrifício faria com que sua gente tivesse uma vida melhor que a por ela vivida.

              Tornei-me Juíza do Trabalho há cinco anos. A magistratura é um lugar de poder estatal de forte cunho material e simbólico, em que a presença de corpos negros ainda não é natural. Mulheres negras, segundo a Pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil de 2019, continuam na base da pirâmide da desigualdade de renda, recebendo salários inferiores aos percebidos homens negros e correspondentes a 44% do salário recebido por homens brancos.

              No entanto, ainda que o cenário não seja o mais auspicioso para a população negra brasileira, percebo que estamos despertando, deixando de ser objetos para nos tornarmos sujeitos de nossa própria história. Nas palavras de Neusa Souza: vivendo a experiência de nos comprometermos em resgatar nossa história e em recriar-nos em nossas potencialidades.

              Hoje posso dar visibilidade à história de minha avó. Posso dar volume à sua voz por tantos anos silenciada. No caminho pela Justiça, piso em cima de suas pegadas, perseguindo orgulhá-la todos os dias.

              No ano de 2009 minha avó se tornou uma ancestral, aos 93 anos. Não pode contemplar a neta tornar-se juíza e preta ao mesmo tempo. Em 2017 estive, junto com meu pai, no Cemitério da Vila Nova, no interior do Maranhão para visitar seu túmulo. Também passei por lugares onde viveu e tentei quebrar alguns cocos, talvez tentando aproximar-me dela de algum modo. Demorei mais de quinze minutos a bater, sem romper um único fruto e tudo o que consegui foi um dedo quase quebrado. Ao ver meu insucesso, entendi que aquelas mãos pretas se machucaram durante toda a vida sem cogitar a dor, a opressão e a pobreza.

              O tempo e a distância não permitiram que convivêssemos fisicamente. Não pude ter meus cabelos trançados por suas mãos nodosas, as quais eu tanto gostaria de beijar ao pedir a bênção. Não pude ouvir suas histórias, mas gosto de saber que dela herdei a risada farta e uma vontade de viver que beira à teimosia.

              O sangue e a coragem de Esterlina Lídia correm e pulsam em minhas veias. E em cada decisão, cada assinatura em busca pelo justo, está a marca do seu nome que jamais será esquecido pelos que dela foram gerados.

              Hoje, no exercício da minha carreira reencontro com minha avó em cada reclamante, idosa negra de cabelos crespos e grisalhos, que olha para mim visivelmente surpresa, emocionada e diz: “meu Deus! A juíza é da minha cor. Eu não sabia que tinha juiz preto, Doutora”.

              Meu olhar se encontra com o seu, em um sorriso de ancestralidade e sororidade, que só as mulheres pretas conseguem significar.

              Nelas vejo não apenas a minha mais velha, mas todas aquelas mulheres negras desde África que deram seu sangue e sua alma para que eu pudesse estar aqui.

              Adriana Meireles Melonio é juíza do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região
              Fonte: Justificando, por Adriana Meireles Melonio
              Tags: ancestralidadeapagamento históricosororidade
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              • Para fechar fevereiro, a coluna Nossas Histórias vem com a assinatura da historiadora Bethania Pereira, que nos convida a pensar sobre as camadas de negação da história do Haiti. Confira um trecho do artigo do artigo"O Pioneirismo haitiano nas lutas pela liberdade no Atlântico"."A partir de 1824, o presidente Jean-Pierre Boyer passou a oferecer terras e cidadania para os imigrantes exclusivamente negros, vindos dos Estados Unidos. Ao chegar no Haiti, as pessoas teriam acesso a um lote de terra, ferramentas e, após um ano, receberiam a cidadania haitiana. A fim de fazer seu projeto reconhecido, Boyer enviou Jonathas Granville como seu representante oficial para os Estados Unidos. Lá, Granville pode se reunir com afro-americanos de diferentes locais mas, aparentemente, foi na cidade de Baltimore, onde ele participou de reuniões na African Methodist Episcopal Church – Bethel [Igreja Metodista Episcopal Africana] e pode se encontrar com homens e mulheres negros e negras. Acesse o material na íntegra em: A Coluna Nossas Histórias é parceria entre a Rede de HistoriadorXs NegrXs, o Geledés e o Acervo Cultune #Haiti #Liberdade #Direitos #SéculoXIX #HistoriadorasNegras #NossasHistórias.
              • #Repost @naosomosalvo • • • • • • A @camaradeputados, o @senadofederal e o @supremotribunalfederal precisam frear a política armamentista da Presidência da República, que coloca em risco nossa segurança e nossa democracia. 72% da população brasileira é contrária à proposta do governo de que é preciso armar a população: precisamos unir nossas forças e vozes contra esses retrocessos! Pressione agora: www.naosomosalvo.com.br As armas que a gente precisa são as que não matam.
              • No próximo sábado, dia 27 de fevereiro, às 17h, as Promotoras Legais Populares- PLPs, realizam uma live para falar sobre ações e desafios durante a pandemia, no canal do YouTube de Geledés Instituto da Mulher Negra.
              • Abdias Nascimento, por Sueli Carneiro “Sempre que penso em Abdias Nascimento o sentimento que me toma é de gratidão aos nossos deuses por sua longa vida e extraordinária história fonte de inspiração de todas as nossas lutas e emblema de nossa força e dignidade. A história política e a reflexão de Abdias Nascimento se inserem no patrimônio político-cultural pan-africanista, repleto de contribuições para a compreensão e superação dos fatores que vêm historicamente subjugando os povos africanos e sua diáspora. Abdias Nascimento é a grande expressão brasileira dessa tradição, que inclui líderes e pensadores da estatura de Marcus Garvey, Aimé Cesaire, Franz Fannon, Cheikh Anta Diop, Léopold Sedar Senghor, Patrice Lumumba, Kwame Nkruman, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Steve Biko, Angela Davis, Martin Luther King, Malcom X, entre muitos outros. A atualidade e a justeza das análises e das posições defendidas por Abdias Nascimento ao longo de sua vida se manifestam contemporaneamente entre outros exemplo, nos resultados da III Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, ocorrida em setembro de 2001, em Durban, África do Sul, que parecem inspiradas em seu livro O Genocídio do Negro Brasileiro (1978) e em suas incontáveis proposições parlamentares.Aprendemos com ele tudo de essencial que há por saber sobre a questão racial no Brasil: a identificar o genocídio do negro, as manhas dos poderes para impedir a escuta de vozes insurgentes; a nos ver como pertencentes a uma comunidade de destino, produtores e herdeiros de um patrimônio cultural construído nos embates da diáspora negra com a supremacia branca em toda parte. Qualquer tema que esteja na agenda nacional sobre a problemática racial no presente já esteve em sua agenda política há décadas atrás, nada lhe escapou. Mas sobretudo o que devemos a ele é a conquista de um pensar negro: uma perspectiva política afrocentrada para o desvelamento e enfrentamento dos desafios para a efetivação de uma cidadania afrodescendente no Brasil, o seu mais generoso legado à nossa luta.” 📷Romulo Arruda
              • #Repost @brazilfound • • • • • • InstaLive Junte-se a nós para uma conversa com Januário Garcia, ícone da história do movimento negro no Brasil, enquanto celebramos o mês da história negra (Black History Month).⁠ ⁠ 📆: Terça-feira, 23 de fevereiro ⁠ ⏱: 18 hs horário de Brasília⁠ 📍: Instagram da BrazilFoundation (@brazilfound)⁠ ⁠ Fotógrafo brasileiro, Januário Garcia há mais de 40 anos vem documentando os aspectos social, político, cultural e econômico das populações negras do Brasil. Formado em Comunicação Visual, passou por prestigiados jornais e grandes agências de publicidade do Rio de Janeiro e é autor das fotos de álbuns icônicos de artistas consagrados. ⁠ ⁠ Januário participa de importantes espaços de memória, arte e cultura do povo negro; é co-fundador do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, é membro do Conselho Memorial Zumbi e, atualmente, Presidente do Instituto Januário Garcia, um Centro de Memória Contemporâneo de Matrizes Africanas.⁠ ⁠ *⁠ #BrazilFoundation #mêsdahistórianegra #blackhistorymonth #januáriogarcia #brasil @januariogarciaoficial
              • Hoje é o dia nacional de luta por um auxílio emergêncial de 600 reais até o fim da pandemia! Fortaleça em todas as redes: #AuxilioEmergencial600reais #AteOFimDaPandemia #VacinaParaTodesPeloSUS Acompanhe os atos: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/ato-nacional-pelo-auxilio-emergencial/
              • "As estratégias de liberdade desempenhadas pelos escravizados tiveram muitas dinâmicas. Em algumas oportunidades, era a carta de alforria o recurso daqueles que buscavam conquistar a saída da escravidão." Leia o artigo do historiador Igor Fernandes de Alencar, para a coluna
              • "Os ares colonizatórios destroem nossos pulmões. A população negra no mundo vem sendo asfixiada desde o processo de escravidão que mortificou as almas e os corpos do povo negro para dar “vida” a um novo modo de existência que podem ser compreendidos como mutações coloniais." Leia o Guest Post de Francélio Ângelo de Oliveira em www.geledes.org.br
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              Geledés Instituto da Mulher Negra

              GELEDÉS Instituto da Mulher Negra fundada em 30 de abril de 1988. É uma organização da sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e do sexismo vigentes na sociedade brasileira.

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