Cabeleireiro é morto a facadas na avenida Paulista, em São Paulo

Cabeleireiro de 30 anos voltava com amigos do Parque Ibirapuera quando dois homens começaram a ofendê-los, dando início à discussão que culminou na agressão

por Aline Ribeiro no O Globo

Plinio Henrique de Almeida Lima, de 30 anos Foto- Reprodução – O Globo

Um cabeleireiro gay de 30 anos foi morto a facadas na noite de sexta-feira (21), na esquina das avenidas Paulista com a Brigadeiro Luís Antônio, na região Sul de São Paulo. Até a noite deste sábado (22), os dois suspeitos do ataque ainda não haviam sido identificados pela polícia. Para a família da vítima, foi um crime motivado por homofobia.

Segundo o Boletim de Ocorrência, o cabeleireiro Plinio Henrique de Almeida Lima havia deixado o Parque Ibirapuera em direção à avenida Paulista com três amigos quando dois homens começaram a ofendê-los. Ao chegarem perto do cruzamento, um dos acompanhantes de Plínio se irritou e começou a discutir com o autor do crime. O amigo agrediu o suspeito, que pegou uma faca e feriu Plinio no tórax.

Plinio era de uma família de quatro irmãos: dois homens e duas mulheres. Segundo o mais velho, Felipe de Almeida Lima, de 32 anos, Plinio era casado no papel há quatro anos de sete de relacionamento. Ele e Anderson estavam se preparando para adotar uma criança. Além de dono de salão de cabelereiro, Plinio trabalhava como cozinheiro industrial durante a semana.

– Meu irmão era pobre, gay, negro e do candomblé. Morreu porque, no Brasil, não temos mais o direito de ir e vir. Hoje a vítima é uma pessoa da minha família. Quem será a próxima? Para o estado, ele é só mais um para entrar para as estatísticas. Para mim, além de irmão ele era meu melhor amigo – disse Felipe, que também é homossexual.

Felipe diz que seu pai e sua mãe estão sob efeito de sedativos. Anderson, o marido de Plínio, está sem condições de falar. Plínio será velado e enterrado no cemitério de Cajamar, cidade de sua família.

O crime

O atendente de restaurante Marco Antonio Marcondes Junior, de 21 anos, era um dos três rapazes que estavam com Plínio. Ele diz que os quatro – dois casais homossexuais – haviam acabado de assistir ao espetáculo de luzes e cores na fonte do Parque Ibirapuera e subiam a Brigadeiro Luís Antonio a caminho do metrô. Era por voltas das 22h30. Cerca de três quadras antes de chegar à Avenida Paulista, dois homens se aproximaram e começaram a insultá-los. Plínio e o marido estavam de mãos dadas.

– Eles estavam atrás, começaram a zoar, xingar de veado, essas coisas. Depois ultrapassaram a gente e continuaram a ofender. Foi quando o Plínio foi tirar satisfação – disse Junior.

Segundo ele, quando o tom subiu, o “moreno alto” que estava junto do agressor até tentou retirá-lo dali. Mas o suspeito continuou, sacou a faca e atingiu Plínio no peito. Um homem que passava no momento do ataque socorreu o cabeleireiro e se certificou de que ele ainda tinha batimentos cardíacos. Plínio foi levado para o Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos.

Junior conta que, depois da facada, os suspeitos correram em direção à estação Brigadeiro de metrô. Ele e o marido chegaram a ir atrás do agressor, que mostrou a faca com sangue para os dois. Os homens então fugiram.

– A gente está muito abalado. Plínio era nosso pai de santo, era como se fôssemos de uma mesma família – afirmou Marco Antonio.

O caso foi registrado no 78º Distrito Policial, nos Jardins, como homicídio qualificado por motivo fútil. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que equipes da delegacia estão analisando as imagens das câmeras de segurança do metrô, prédios da região, além de vídeos do celular de uma testemunha do crime. A Polícia Civil não tem nenhuma linha de investigação fechada.

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