Cai participação de mulheres negras no mercado de trabalho em relação ao período pré-pandemia

E elas têm salários menores do que as não negras e os homens. No primeiro trimestre deste ano, das 48,8 milhões de mulheres negras em idade para trabalhar, apenas metade estava inserida no mercado de trabalho, mostra pesquisa da FGV.

No mercado de trabalho, só metade das mulheres negras consegue uma vaga e, mesmo assim, com salários baixos e em condições ruins. É o que mostra uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (25), Dia Nacional da Mulher Negra.

Comunicativa e atenta aos detalhes para não perder nenhum cliente, aos 19 anos, Júlia Vitória do Nascimento, é vendedora em uma loja de produtos para cabelo no Mercadão de Madureira, Zona Norte do Rio. Ela foi contratada há quatro meses.

“Eu sou uma mulher negra que trabalha. Privilégio. Carteira assinada, tudo direitinho. Mas até para eu poder ter minha carteira assinada foi uma batalha”, conta Júlia.

Esse é terceiro emprego dela, em uma trajetória sem boas lembranças. Ficou sem receber o que era de direito e sofreu discriminação quando trabalhava em uma empresa de empréstimo consignado.

“Eu me esforçava muito. Lá foi questão de: ‘nossa, você, bem vestida, trabalha com isso. Agora estou vendo cada vez mais pessoas como você trabalhando assim. Antes era uma menina branquinha que tinha vindo aqui em casa, hoje é você?’ Foi basicamente isso”, relembra.

Mesmo enfrentando o racismo e dificuldades, ela não desistiu. Mas não é sempre assim. Entre janeiro e março deste ano, das quase 49 milhões de mulheres negras em idade para trabalhar, apenas metade estava inserida no mercado de trabalho (51,2%). Entre os homens brancos e amarelos, eram 72,2%. A pesquisa é da FGV e usou como base dados do IBGE.

“A mulher negra vai aglutinar dois problemas sociais: o problema da desigualdade de raça e a de gênero. Acredito que a gente possa dizer que, de uma forma generalizada, elas representam um grupo mais vulnerável quando a gente analisa o desempenho dos indicadores de mercado de trabalho”, explica a economista Janaína Feijó.

Se as vagas com carteira assinada geralmente não são delas, o que sobra é a informalidade. Para conseguir sobreviver, muitas mulheres negras se viram como conseguem: são vendedoras ambulantes, por exemplo. O estudo mostra que 43% das mulheres pretas e pardas ocupam postos de trabalho informais, uma taxa superior à média nacional. E com esse tipo de trabalho, elas acabam ganhando menos.

Segundo a pesquisa, as mulheres pretas e pardas ganham, em média, menos da metade que os homens brancos, e o equivalente a 60% do rendimento médio das outras mulheres.

Monique Tavares trabalhava em uma padaria e foi demitida na pandemia. Agora vende doces na rua.

“Às vezes aqui fica ruim, mas às vezes melhora. Meu sonho é conseguir um serviço melhor e trabalhar para manter o que a gente tem que manter”, afirma.

“Para gente conseguir reverter o quadro é necessário desenvolver politicas publicas para promover a igualdade de oportunidade, para que desde o início da vida dessa mulher negra, ela tenha a mesma condição de partida dos outros grupos. Só assim a gente vai conseguir, de fato, minimizar ou mitigar esses problemas de gênero e de raça”, aponta economista.

“Eu tenho que comemorar as minhas raízes. Não posso esquecer de onde eu vim; não posso esquecer de jeito nenhum para que eu vim e porque eu vim. E tenho que mostrar, sim, o meu valor para as pessoas. Trabalhando, estudando, fazendo o seu melhor para você poder sobreviver. Porque hoje é o que a gente faz, a gente sobrevive, mais nada”, diz a vendedora Júlia Vitória.

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