Uma pesquisa dos observatórios de segurança pública de sete estados brasileiros revelou que cinco pessoas negras foram mortas diariamente em ações policiais em 2021. Os resultados estão na pesquisa “Pele Alvo: A cor que a polícia apaga”.
O Rio de Janeiro tem o maior número absoluto, com 1.060 mortes, 87,3% do total do Estado em 2021. A maior porcentagem, no entanto, é na Bahia: 97,9% dos mortos são pretos ou pardos, que constituem a classificação de negros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Maranhão, os dados não puderam ser analisados porque a Secretaria de Segurança, de acordo com os pesquisadores, não divulga a distribuição de cor dos mortos.
A pesquisa ainda apresentou dados de Pernambuco, Ceará, São Paulo e Piauí.
Com 51,7% da população formada por negros, o Estado do Rio teve 87,3% das mortes em ações policiais atingindo esta camada da população.
A capital teve mais mortes registradas, com 458, seguida por São Gonçalo, com 209, e Duque de Caxias, com 114.
Veja abaixo a lista completa:
- Rio de Janeiro- 458
- São Gonçalo- 209
- Duque de Caxias- 114
- Belford Roxo- 81
- São João de Meriti- 66
- Niterói- 60
- Japeri- 50
- Angra dos Reis- 34
- Nova Iguaçu- 34
- Itaboraí- 31
O Observatório de Segurança do Rio fez outra análise: dos 57 registros policiais com três vítimas ou mais – ocorrências consideradas pela organização como chacinas – 30 apresentam totalidade de vítimas negras. No total, foram 155 vítimas e 138 delas eram pretas ou pardas.
Capital
As áreas sob responsabilidade do 41º BPM (Irajá) e do 3º BPM (Méier), ambos na Zona Norte, foram as regiões com mais mortes de pessoas da população negra em operações policiais.
Foram 90 mortes na área do batalhão de Irajá, e 82 mortes na área do batalhão do Méier, que inclui o Jacarezinho.
A região foi palco de uma ação policial que terminou com 27 suspeitos mortos em uma ação da Polícia Civil.
O batalhão de Irajá, na Zona Norte, já foi, por outras vezes, o recordista de mortes por ação de agentes do Estado.
Foi nessa região que, em novembro de 2015, cinco jovens foram executados por policiais da unidade quando retornavam de um lanche na comunidade de Costa Barros.
Outro batalhão que tem número elevado de mortes de pessoas negras é o 14º BPM (Bangu), com 76 registradas em 2021.
Respostas
A Polícia Militar afirmou, através de nota, que “não há qualquer viés racial na atuação da Polícia Militar em suas missões constitucionalmente previstas”.
Segundo a PM, “as ações da corporação no enfrentamento ao crime organizado são planejadas com base em informações de inteligência, tendo como preocupação central a preservação de vidas.”
A Polícia Civil, procurada, disse que desconhece a metodologia utilizada na pesquisa e a possibilidade de rastreabilidade dos dados. “A atuação operacional da instituição é com base no tripé inteligência, investigação e ação. Todas as mortes de criminosos em confronto ocorridas nos últimos dois anos – independentemente de raça, credo ou gênero – são em decorrência de injusta agressão praticada pelos mesmos em desfavor de agentes do estado, que atuam visando a captura e submissão ao crivo da Justiça”, disse a corporação.