Já imaginou o que aconteceria no Brasil se os negros parassem de comprar produtos comercializados por estabelecimentos ou pessoas que compactuam direta ou indiretamente com a manutenção do racismo institucionalizado?
Sonhei com isso depois de mais uma denúncia de racismo envolvendo um homem negro dentro da loja Zara. O consumo era consciente e focado na promoção da equidade racial, fazendo com que o dinheiro circulasse mais entre pretos e pardos. Foi um devaneio lindo, repleto de oportunidades para toda uma comunidade negligenciada e discriminada no nosso país há mais de quatro séculos.
O pastor Martin Luther King Jr, líder do movimento dos direitos civis nos EUA, teve um sonho imensamente maior. Tão potente que lhe custou a vida por sustentar que “a injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”.
O sonho dele englobava a precariedade do ensino nas escolas públicas; a segregação social dos negros em comunidades apartadas da infraestrutura urbana; o fato de os mais impactados pelas crises econômicas serem os pretos e pardos; além de todas as consequências da inconstitucional e permanente marginalização da maioria (55,9%) do povo brasileiro que, segundo o IBGE, se autodeclara negro.
Para estes, é quase impossível frequentar o comércio sem, em algum momento, despertar o interesse dos seguranças ou ser escaneado de cima abaixo numa loja de grife onde os vendedores identificam um “corpo estranho” e costumam oscilar entre a apatia e a afirmação “as ofertas estão lá no fundo”.
A primeira vez que ouvi essa frase foi perturbadora. Depois tornou-se “só” irritante. Mas sempre é doloroso. Minha reação costumava ser a de comprar para provar que eu podia pagar. Até me dar conta de que estava premiando um racista.
A população negra consome R$ 1,9 trilhão por ano, ou seja, cerca de 40% do consumo nacional segundo o Instituto Locomotiva. Dinheiro é poder. Por que não empoderar os nossos?