As pessoas tendem a elogiar os negros dizendo: Nossa, mas você é um negro lindo! Que negrinha mais linda! Que mulata bonita! Nunca ouvi ninguém falar: Que branco lindo! Que brancona mais bonita! Esse seu filhinho branco é mesmo muito fofinho. Sim, negro é um maravilhoso adjetivo e temos muito orgulho disso. Mas não há a mínima necessidade desse preconceito travestido de benevolência. Homens e mulheres são bonitos, inteligentes, cativantes e etc… Mas sempre tem aquele jeito de segregar não é? Seu negro lindo! Mulata linda! Parece que somos lembrados o tempo todo de que somos negros. Será que alguém pensa que os negros tem problema de memória?
“A gente não nasce negro, a gente se torna negro.” Lélia Gonzalez. Você precisa da sociedade te chamando de negro o tempo todo para se sentir negro? Você se percebe negro? Quando foi que você se percebeu negro pela primeira vez? Quando você era criança? No seu lar? Antes de ir para a escola pela primeira vez? Foi na escola? Foi quando saiu de casa e a sociedade te deu sua primeira dose de realidade? Antes disso você sabia que era negro? Como foi o seu primeiro encontro com o racismo? Esse primeiro momento com a segregação? Em qual situação a discriminação atingiu você? Refletiu sobre isso?
Deixando o passado no lugar dele, que é o de reflexão e aprendizado vamos falar do presente! Quem é você fora das paredes da sua casa? Como as pessoas descrevem você? Qual a primeira característica é apontada? Você é o negro, o preto, o negão, o de cor, o moreno escuro, o crioulo ou o mulato? A frase de Joice Berth é uma boa resposta para todas essas perguntas: “Não me descobri negra, fui acusada de sê-la.” Se você nunca precisou refletir sobre o racismo ou você é o negro mais privilegiado desse mundo ou você é da famosa hegemonia branca. Seja como for, falemos mais sobre essa percepção social baseada na diferença da cor da pele, uns chamam de racismo, outros de discriminação, aquele famoso preconceito puro e simples.
Quem pratica o racismo seja ele velado ou escancarado entende que o negro é de uma classe social diferente dos demais. Uma classe inferior, uma classe que deve servir aos interesses de quem se acha superior de quem se acha melhor que os outros. Tudo isso baseado na diferença da cor da pele. Privilégios para algumas raças em detrimento das outras é discriminar. A cor da pele nos separa nos distingue, nos difere. A ideia de que o branco é melhor, é superior, está acima, faz com que essa organização social discriminatória se perpetue ao longo do tempo ao longo da história. E essa a característica principal do racismo estrutural. Quando o africano foi escravizado por outros povos, isso por si só, já tornou o negro inferior aos olhos da civilização. O homem negro foi reduzido a objeto, mercadoria e raça desprestigiada. O racismo não apenas nega os direitos dos negros ele não os reconhece.
Negrinho, macaco, tição, urubu, cabelo duro, pixaim e por aí vai. É assim que muitos negros são identificados. Negras e negros que saem de suas casas todos os dias para se depararem com o duro banimento social. Ser negro, estar negro, nascer negro, se tornar negro, viver, sobreviver como negro. Façamos um pequeno exercício: Feche os olhos e imagine um rio! Ao seu lado na margem está a sua família, os seus amigos, seu trabalho, suas realizações. Na margem oposta está o que você ainda tem por conquistar. Está o que vem a seguir. Para você é fácil alcançar a outra margem do rio? Você tem todo o tempo, o planejamento, as ferramentas e o apoio que precisa para atravessar o rio e buscar o que você deseja? Ao seu dispor estão todas as oportunidades? Você teve que trabalhar para pagar os seus estudos? Você tem as mesmas oportunidades de promoção que os seus colegas de trabalho? Você ganha o mesmo salário que os seus colegas? Você mora em um bairro privilegiado? O caminho até aqui foi árduo? Não foi fácil até aqui? Será pior ainda se naturalizarmos, normalizarmos, aceitarmos o racismo. Não deixe que as suas vontades, seus desejos, suas conquistas sejam postas de lado.
Sobreviva, ou melhor, viva! Viva muito Vá além! Use todas as ferramentas que estão à disposição para que você alcance os seus objetivos. Vamos lutar por mais ações afirmativas, que visam igualar a distribuição dos direitos entre os grupos que formam a sociedade. Não pense que uma sociedade igualitária é uma utopia. Nunca saberemos se não agirmos. Não sinta vergonha de usar cotas raciais, para ingressar na faculdade, para concurso público para garantir os seus direitos. O cenário só muda e só vai mudar com a colaboração de todos.
A você meu amigo de classe social privilegiada, o antirracismo é uma luta de todos. Perceba o racismo dentro de você. Desconstrua a naturalização e a normalização do racismo em você e nos ambientes que você frequenta! Seja questionador! Combata a violência racial! Seja mais responsável e não se cale diante de falas racistas, piadas racistas e atitudes racistas. Não basta não praticar atos racistas e preciso combatê-los fortemente. Não são só os negros que devem lutar contra o racismo, mas todos devem contribuir vigorosamente para que essa prática deixe de existir. Mais uma vez, utopia? Quem sabe? Vamos tentar mesmo assim. Saiba que o problema não é a cor da pele, mas a maneira como usamos isso para atingir, oprimir e segregar o outro. Não há problema nenhum em ser branco, negro, vermelho ou amarelo. A diversidade está aí para nos lembrarmos todos os dias que a beleza está sim nas diferenças. Vamos nos perceber, refletir e acima de tudo nos respeitar!