Cresce número de mulheres chefes de família e de jovens negros universitários

Dados da SIS 2015 (Síntese de Indicadores Sociais), pesquisa produzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e divulgada nesta sexta-feira (4), mostram que, em dez anos, aumentou a participação feminina na condição de responsável pelos domicílios onde vivem casais com filhos.

Por Hanrrikson de Andrade Do Uol

Em 2004, 3,6% das casas brasileiras onde moravam casais e pelo menos um filho tinham a mulher como chefe da família. Já em 2014, essa proporção chegou a 15,1% (alta de 11,5 pontos percentuais).

Em uma década, o IBGE também constatou crescimento na proporção de universitários na faixa etária de 18 a 24 anos –de 32,9%, em 2004, para 58,5%, em 2014–, com destaque para o recorte por cor ou raça, de acordo com os critérios de classificação do instituto.

Do total de estudantes pretos ou pardos de 18 a 24 anos, 45,5% estavam na universidade no ano passado. Há dez anos, essa proporção era de 16,7%. Entre os brancos, também houve aumento –de 47,2%, em 2004, para 71,4%, em 2014.

Homens são maioria

Segundo a Pnad, a pessoa de referência no domicílio era “assim considerada pelos demais membros da família”, independentemente dos critérios utilizados pelos indivíduos que responderam os questionários.

À medida que a participação feminina como chefe de família (em lares onde há casal com filhos) cresceu 11,5 pontos percentuais em dez anos, a masculina passou de 67,7%, em 2004, para 54,9%, no ano passado (queda de 12,8 pontos percentuais no período).

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Curvas mostram aumento da participação feminina e, proporcionalmente, queda no percentual de homens como chefes de famílias formadas por casais com filhos

Isso significa dizer que, embora os homens ainda sejam a maioria dos chefes de família nessas residências, eles vêm dando espaço gradual às mulheres, visto que os outros arranjos familiares se mantiveram estáveis.

Os domicílios que têm responsável sem cônjuge (pessoas que criam filhos sozinhas, por exemplo) tiveram variação de um ponto percentual para aqueles ocupados por mulheres (de 25,6% para 26,% em dez anos) e 0,3 ponto percentual para os ocupados por homens (de 3,1% para 3,4%).

O crescimento da participação feminina também foi observado pelo IBGE nos domicílios ocupados por casais cujos filhos saíram de casa. Em 2004, a proporção de residências que tinham esse perfil e eram chefiadas por mulheres era de 3,4%. Dez anos depois, o percentual passou para 10,9%.

Tendências

Os responsáveis pela pesquisa não investigam causalidades, fato comum em estudos do IBGE, mas elencam algumas tendências que podem ajudar a explicar as variações estatísticas. Os números são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

No caso das mulheres, em geral, há um movimento histórico de consolidação da mulher como responsável pela casa. Em 2014, com base nas amostras censitárias (2000 e 2010), o instituto já havia concluído que, considerando todas as combinações possíveis (casais com filhos, casais sem filhos e homens e mulheres que moram com filhos sem a presença de um cônjuge), mais de um terço dos domicílios existentes no país estavam sob responsabilidade feminina.

Das 57,3 milhões de residências brasileiras, em 2010, 38,7% eram chefiadas por mulheres –dez anos antes, essa proporção era de 24,9% (aumento de 13,8 pontos percentuais).

Mais casais sem filhos

A Síntese de Indicadores Sociais revela ainda que, de 2004 a 2014, cresceu o número de casais sem filhos, e houve redução no indicador de casal com filhos.

De acordo com os pesquisadores, essas mudanças na composição das famílias podem estar associadas com fenômenos específicos, como a queda de fecundidade, a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, entre outras hipóteses.

Embora ainda seja predominante, o arranjo familiar composto por casal com filhos apresentou redução significativa na série histórica –de 51%, em 2004, para 42,9%, em 2014. Em contrapartida, o número de casal sem filhos vem crescendo ano após ano, atingindo 19,9% em 2014 –dez anos atrás, essa proporção era de 14,7%.

Centro-Oeste é região mais inclusiva

Na distribuição por região, o IBGE observou que o maior crescimento quanto à participação da população preta ou parda de 18 a 24 anos no ensino superior se deu no Centro-Oeste. O percentual de jovens negros na universidade (em relação ao total de pessoas nessa faixa etária) superou os 60% em 2014 –dez anos atrás, essa proporção era de 28,2%. O aumento foi de 32,3 pontos percentuais.

As demais regiões ficaram acima dos 24 pontos percentuais de variação, com destaque para o Sudeste –que passou de 23,5%, em 2004, para 51,9%, em 2014. Ou seja, no ano passado, mais da metade da população negra de 18 a 24 anos residente no Sudeste estava no ensino superior.

De acordo com os pesquisadores, a SIS observou que, de 2004 a 2014, houve contexto favorável à ampliação do acesso ao ensino superior no país, o que pode estar associado a políticas públicas de inclusão (reserva de vagas, concessão de bolsas e financiamento estudantil, por exemplo), ao aumento do nível educacional da população em geral e a melhorias nas condições econômicas das famílias que liberam jovens para seguirem estudando em vez de se dedicarem exclusivamente ao trabalho.

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