Dilma condena uso generalizado da força na ONU

No discurso de abertura da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a presidenta acusou a comunidade internacional de não evitar o surgimento de crises

A presidente Dilma Rousseff inaugurou nesta quarta-feira a 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas com um discurso em que acusou a comunidade internacional de ser incapaz de lidar com antigos conflitos e impedir o surgimento de novas crises.

Neste contexto, Dilma afirmou que o Brasil está pronto a dar sua contribuição em um cenário de grandes desafios internacionais. Para a presidente brasileira, o ano de 2015 desponta como “um verdadeiro ponto de inflexão” .

“Estou certa de que não nos furtaremos a cumprir, com coragem e lucidez, nossas altas responsabilidades na construção de uma ordem internacional alicerçada na promoção da Paz, no desenvolvimento sustentável, na redução da pobreza e da desigualdade”, garantiu.

Em seu enérgico discurso, Dilma afirmou que a geração de líderes mundiais, à qual ela própria pertence, foi “incapaz de resolver velhas disputas e evitar o surgimento de novas”.

“O uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas de conflito”, acrescentou.

Dilma declarou que essa questão fica em evidência na “persistência da questão da Palestina, no massacre sistemático do povo sírio, na trágica desestruturação nacional do Iraque, na insegurança na Líbia, nos conflitos no Sahel, assim como na Ucrânia”.

“Cada intervenção militar não nos permite caminhar na direção da paz, e sim no aprofundamento dos conflitos”, ressaltou a presidente brasileira.

Esse recurso à força armada leva a uma “trágica proliferação no número de vítimas civis e catástrofes humanitárias”.

“Não podemos permitir o aumento destes atos de barbárie, que ferem nossos valores éticos, morais e civilizatórios”, enfatizou.

Em apoio a uma já conhecida posição da diplomacia brasileira, Dilma pressionou por uma reforma do Conselho de Segurança, que torne esta instância um representante mais fiel do mundo atual.

“O Conselho de Segurança tem dificuldades em promover soluções pacíficas para os conflitos. É necessária uma reforma profunda do Conselho para superar a paralisia atual. Este processo já demorou muito”.

O discurso de Dilma Rousseff, no primeiro dia da Assembleia Geral da ONU, acontece um dia depois de os Estados Unidos terem realizado ataques aéreos contra posições do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na Síria. A operação que virou o tema central da cúpula em Nova York.

Avanços sociais. Dilma ainda destacou o Brasil como um país democrático e mais inclusivo.

Um dos resultados desse processo social transformador foi a notícia de que o Brasil saiu do mapa da fome da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Segundo Dilma, a valorização dos salários, o aumento dos empregos e as políticas sociais e de transferência de renda reunidas no Plano Brasil Sem Miséria, tiraram 20 milhões de pessoas da miséria durante o seu governo. Desde 2003, 36 milhões saíram da pobreza extrema, segundo Dilma.

Ela também destacou que o Brasil atingiu as Metas do Milênio de redução da mortalidade infantil.

Dilma reiterou a importância do uso de recursos finitos – como os do petróleo do pré-sal – em educação, conhecimento científico e tecnológico e inovação.

Ela informou dados que demonstram como o Brasil está preparado para o cenário de volatilidade externa. Lembrou que o país é hoje a sétima maior economia do mundo, que a renda per capita mais que triplicou e que a desigualdade caiu. Além disso, os investimentos externos e em infraestrutura foram retomados e a situação fiscal é sólida.

Mesmo com bons números, Dilma afirmou que a crise atingiu o Brasil, de forma mais aguda, nos últimos anos. Para ela, a crise é uma consequência da falta de dinamismo da economia global.

A presidente brasileira também alertou que as principais instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), correm o risco de perder legitimidade e eficácia.

Isso acontece, frisou, pela “disparidade entre a crescente importância dos países em desenvolvimento na economia global, e sua insuficiente representação nos organismos financeiros”.

“É inaceitável a demora em ampliar os direitos de voto dos países em desenvolvimento nessas instituições”, insistiu.

O grupo do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – pretende continuar esperando que essa reforma na representação dos organismos financeiros avance e já deram passos concretos para elaborar sua própria rede de proteção, afirmou a presidente.

O grupo já assinou acordos para o estabelecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e Acordo de Reservas, com fundos de 100 bilhões de dólares cada um.

O NBD ajudará a atingir os objetivos de financiamento de infraestrutura do Brics e de outros países em desenvolvimento e o Acordo de Reserva “protegerá esses países da volatilidade financeira”.

Dilma também reafirmou o empenho do Brasil no “combate sem tréguas à corrupção”. Ela disse que o fim da impunidade e a melhora da fiscalização são os caminhos para o fim dessa prática. A presidenta citou a criação do Portal da Transparência, a aprovação da Lei de Acesso à Informação e a criação de leis que punem corrupto e corruptor.

“O fortalecimento de tais instituições é essencial para o aprimoramento de uma governança aberta e democrática”.

Por fim, a sucessora de Lula pediu o compromisso dos países desenvolvidos com o desenvolvimento sustentável, definindo metas de financiamento e cooperação científica.

“A mudança do clima é um dos grandes desafios da atualidade. Necessitamos, para vencê-la, de sentido de urgência, coragem política e o entendimento de que cada um deverá contribuir segundo os princípios da equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, defendeu.

Dilma lembrou o comprometimento brasileiro com a redução voluntária de emissões e a redução do desmatamento em 79% nos últimos dez anos.

Na terça-feira, durante a Cúpula do Clima de Nova York, o Brasil se negou a assinar um documento propondo a redução do desmatamento no mundo pela metade até 2030.

O compromisso foi assinado por mais de 30 países, incluindo Estados Unidos, Canadá e União Europeia, além de dezenas de empresas, organizações ambientalistas e grupos indígenas.

O Ministério do Meio Ambiente alegou que o país não havia sido consultado sobre o acordo.

Fonte: Carta Capital

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