Do transporte público para transportar o público

Mulher preta, nascida na periferia de São Paulo e criada na igreja – local que a viu produzir os primeiros sons. Evelyn Santos, de 23 anos, é uma entre os 10 brasileiros aprovados para estudar na EICTV, uma das mais importantes escolas de cinema do mundo.

A artista, que tocava bateria e participava do coral da igreja no bairro da Cachoeirinha, zona norte da capital paulista, descobriu o cinema na ETEC Jornalista Roberto Marinho, onde estudou Produção de Áudio e Vídeo. A lembrança mais recorrente que ela guarda dessa época, além do encantamento pela sétima arte, são as longas viagens de transporte público. Não é um exagero dizer que Evelyn atravessava a cidade todos os dias para trilhar um sonho.

No Instituto Criar, ela aprendeu a usar o som para contar, interpretar, transformar. E para reverberar a mudança que ela quer ser no mundo. Foi por intermédio do Criar que Evelyn conquistou uma bolsa para estudar Direção Cinematográfica na Academia Internacional de Cinema (AIC).

Aruanas, YouTube Negro, Blá Blá MTV, Todos os Mortos, Dentro da MInha Pele, Aqui Não Entra Luz, O Pai da Rita, Eleições, Rastro, Bia 2.0, Raquel 1:1, Perifericú, Dead Teenager Seance, Mato Adentro, Roma e Correntes. A lista de trabalhos é longa para quem tem pouco tempo de estrada, mas o roteiro de Evelyn parece se estender até além do horizonte. O percurso da cineasta já conta com produções que rodaram os festivais de Berlinale, Tiradentes, Kinoforum, Mix Brasil, Recifest e outros, além de produções para a TV e, recentemente, uma produção autoral. Premiado pelo júri técnico do projeto Curta em Casa, o curta-metragem Dádiva, produzido e dirigido por ela, não poderia ter um nome mais simbólico.

A próxima parada de Evelyn será em Cuba, onde vai estudar cinema com especialização em som na renomada escola fundada por Gabriel García Márquez. Para completar mais essa etapa do itinerário, foi aberta uma campanha na plataforma Benfeitoria, que recebe doações a partir de R$25,00 reais para ajudar a custear o curso.

Ajudar Evelyn do Santos a completar sua formação significa também dizer a todas as meninas pretas e periféricas que elas podem – e devem – sonhar. Que é possível – e necessário – ocupar espaços em profissões até então então majoritariamente masculinas e brancas. Mandar Evelyn para Cuba é abrir o caminho para as próximas Evelyns que virão.

Você pode contribuir e ajudar a divulgar a campanha Me Leva Pra Cuba pelo link:
https://benfeitoria.com/melevapracuba

 

 

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