Docentes se destacam em projetos, apesar da adversidades

Na contramão das dificuldades, professores apostam em iniciativas que resultam em motivos para comemorar o dia em homenagem aos educadores, lembrado nesta quinta-feira, 15.

Por Meire Oliveira, do A Tarde

Foto: Marco Aurélio Martins/Ag. A Tarde

Em meio à rotina de problemas como falta de estrutura, alunos desanimados e baixa remuneração, criar atividades que transformem a realidade tem sido a opção para a realização pessoal e profissional.

Moradora de Ilha de Maré, Fabrícia das Neves, 16, passou a ter mais vontade de frequentar o Colégio Estadual Marcílio Dias, em São Tomé de Paripe (Subúrbio), por causa do projeto intitulado A Educação Física e a Lei 10.639 – Articulando com as Matrizes Africanas através da Pedagogia Artística Crítica, da professora de educação física Josiane Clímaco.

“Resolvi agir quando me deparei com a precariedade da estrutura física da escola e com o fato de 90% dos alunos serem negros e o projeto político-pedagógico não contemplar o ensino da história e da cultura afro-brasileira”, disse a educadora com 25 anos de profissão.

Ações

Os trabalhos eram pontuais e dissociados do currículo. “Os alunos não tinham a sensação de pertencimento com essa identidade”, disse a professora. A ação começou em 2010, priorizando as danças de matriz africana.

“Mostro a dança afro desde as tradicionais até as que surgiram na diáspora. Trabalhamos com o samba de roda, o jongo, o hip hop e outros”, disse a educadora, que desde 2011 divide a atividade com a colega Márcia Lúcia dos Santos, 53.

Nas aulas teóricas, elementos como a memória, a oralidade, a ancestralidade e a musicalidade são instrumentos de transmissão de conhecimento para falar sobre drogas, cidadania, racismo, sexualidade, intolerância  e outros temas. “Conheço minha identidade e vejo o mundo de outra forma. Sou mais feliz e não aliso mais o cabelo”, afirma Fabrícia.

No início, o computador pessoal da professora era usado na sala de aula e ela também compra figurino com recursos próprios. Em 2014, a iniciativa recebeu o prêmio Petrobras de Esporte Educacional e R$ 50 mil usados para construir uma quadra e uma sala e cultura corporal em conclusão.

A escola ainda adquiriu material esportivo, figurino, data show, computadores e câmeras. Nesta quinta, 15, Josiane Clímaco recebe mais uma premiação na sétima edição do  Educar para a Igualdade Racial e de Gênero, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, em São Paulo.

Associando a literatura clássica ao cotidiano dos estudantes, a professora Mirela Gonçalves Conceição, 37, conquista alunos do Colégio Estadual Almirante Barroso, em Paripe.  Uma aula sobre o movimento literário Romantismo abre discussões para a questão de gênero. “Uso textos clássicos com música como o samba, a MPB, as telenovelas”, contou. “Não faz sentido estudar Olavo Bilac sem saber como ele se comunica comigo. Eles querem ser ouvidos e quando sabem que podem se apropriar da cultura, se interessam”, explicou Mirela Gonçalves, 37.

Ela criou o projeto  Identidades Brasil, Bahia e Subúrbio. De um tema geral, se regionaliza o estudo do assunto escolhido em várias disciplinas. “Até seduzir os colegas, recebi várias críticas. Mas o esforço é válido”, afirma a professora.

A também aluna da professora Josiane Clímaco, Tisane Sandi Pita Reis, 16, não demorou para perceber  a mudança na rotina. “O conhecimento é ampliado quando passamos a unir a vivência com o aprendizado na escola. Ficamos responsáveis, disciplinados e levamos isso para a vida”.

Na Escola Municipal Consul Schindler, a professora Cláudia Mattos, 35, instituiu uma série de projetos como o concurso  Rei e Rainha Azeviche. “Quando cheguei, alguns alunos e pais não aceitavam a forma como eu me vestia com cores fortes, meus turbantes, colares e pulseiras”, contou.

O preconceito motivou a mudança. “É o nosso papel. Eles precisavam se reconhecer como negros e a escola toda ajuda. Eles passam a ser exemplo de comportamento e autoestima. Tivemos redução do índice de brigas, sem contar a melhoria no desempenho escolar”.

+ sobre o tema

Estudo analisa mulheres e negras na educação brasileira

Um projeto desenvolvido entre 2014 e 2016 trouxe para...

MEC anuncia resultado do Prouni, mas candidatos não conseguem consultá-lo

Resultado da primeira chamada é publicado na manhã desta...

Covardia racista sem limites: A dor da professora Camila frente à barbárie escrita no banheiro

Nessa segunda-feira (06/03), estava tudo organizado, para ser uma...

Veja 8 pontos de destaque na nova base curricular do ensino fundamental

Com atraso e sem tratar do ensino médio, Base...

para lembrar

A professora que ensina o que é inspiração

Gina Vieira Ponte nasceu em uma família de seis...

Chamada para o Edital Juventude Negra – Macaé Evaristo

Macaé Evaristo, secretária de educação de Minas Gerais, faz...

“Os pais têm medo dos filhos, de dizer não”

Pediatra fala sobre os principais pecados cometidos contra a...

Em 124 anos, Larissa será uma das 10 alunas negras a se formar em Engenharia na USP

Entrevistada pela TVT, estudante relata situações com que tem...
spot_imgspot_img

Manifesto Contra a Regulamentação da Educação Domiciliar e em Defesa do Investimento nas Escolas Públicas

As Coalizões, Redes, Entidades Sindicais, Instituições Acadêmicas, Fóruns, Movimentos Sociais, Organizações da Sociedade Civil e Associações signatárias deste documento consideram que a possível autorização...

Geledés participa de evento paralelo em fórum da Unesco

Geledés - Instituto da Mulher Negra participou de evento paralelo do 3º Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação da Unesco, que começou nesta terça-feira,...

Lula cria fundo privado de R$ 20 bi para tentar manter alunos pobres no ensino médio

O governo Lula (PT) editou uma MP (medida provisória) que cria um fundo privado de financiamento de bolsas para incentivar estudantes pobres a permanecerem no ensino...
-+=