Ex-presos voltam ao DOI-Codi do Rio para reconhecer instalações de tortura

Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) esteve hoje (23) com peritos e ex-presos políticos no local que foi considerado o principal centro de tortura da ditadura militar no Rio de Janeiro: o antigo prédio do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Tijuca, na zona norte. Nos cálculos da CNV, pelo menos 30 ativistas que presos no local estão desaparecidos e podem ter sido levados para outros centros do regime militar, como a Casa da Morte, em Petrópolis, na região serrana do estado.

Segundo o presidente da CNV, Pedro Dallari, o objetivo da diligência é detalhar, no relatório final do órgão que deve ser apresentado até o final de 2014, a utilização da instalação militar para a tortura, a morte e o desparecimento de pessoas. “Nosso objetivo é apurar os fatos. A visita de hoje, com a presença das vítimas indicando com clareza os locais [da violação de direitos humanos] nos permitirá ter um croqui de como era a distribuição desse espaço”, disse. A CNV também fará, hoje, o reconhecimento do Hospital Central do Exército, no bairro de Benfica, onde foi comprovada a morte, sob tortura, do ativista Raul Amaro Nin Ferreira.

Com mais elementos que provam o uso de instalações militares para a tortura, em desvio de finalidade, o presidente da CNV avalia que poderão ser abertos, pelas Forças Armadas, processos administrativos para cassar a aposentadoria dos militares envolvidos nas práticas. “As instalações militares não foram criadas para isso [tortura]”, reforçou Dallari.

Durante a diligência, ex-presos políticos indicaram salas onde ficaram presos. “Está bem modificado, têm construções novas,  mas alguns locais nós reconhecemos bem, como a sala roxa, o local da geladeira (onde a temperatura variava ao extremo), o local onde colocaram jacaré no meu corpo nu, o local do fuzilamento simulado e a enfermaria, onde atendia o médico Amílcar Lobo para nos liberar de volta para a tortura”, contou a ativista Ana Miranda.

Integrante da Comissão Estadual da Verdade (CEV-Rio), o ex-preso político Álvaro Caldas, que já esteve no local outras vezes, disse que visita, com os ativistas entrando pela porta da frente, é um marco. “Hoje estou revistando o local da minha tortura – em pau de arara- de forma mais demorada, longa, com peritos analisando. Cumpri uma missão histórica para o país”, disse. Ele lembrou que testemunhos e documentos compravam que morreram ali o deputado Rubens Paiva e o desaparecido político Mário Alves, fundador do PCBR, durante o regime.

Em junho, as instituições militares declararam à Comissão Nacional da Verdade que não houve desvio de finalidade do uso de suas instalações, durante a ditadura militar.

 

 

 

Fonte: Agência Brasil

+ sobre o tema

Das 163 recomendações feitas pela ONU, Brasil cumpriu apenas uma

O Brasil cumpriu apenas uma das 163 recomendações formuladas...

Mais um líder guajajara é morto em terra indígena no Maranhão

O governo do Estado do Maranhão confirmou nesta terça-feira...

Os povos indígenas no Canadá lutam com ‘perda inimaginável’.

Tradução: Sara Wagner YorkRestos de 215 crianças indígenas foram...

para lembrar

spot_imgspot_img

Ministério da Igualdade Racial lidera ações do governo brasileiro no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, está na 3a sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU em Genebra, na Suíça, com três principais missões: avançar nos debates...

Conselho de direitos humanos aciona ONU por aumento de movimentos neonazistas no Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, acionou a ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer um alerta...

Eu era menino quando os da caserna confundiram-me com um comunista

Eu tinha pouco mais de dois anos quando raiou a ditadura militar no Brasil. Criança, preso à barra da saia da minha mãe, Flora, e morador...
-+=