Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero

“Quero que os homens embarquem nessa luta para ajudar suas filhas, irmãs e esposas a se livrar do preconceito.”

por Ricardo Senra

O discurso feminista da atriz britânica Emma Watson, visto por mais de quatro milhões de pessoas no YouTube, mirava a ala masculina.

À frente de uma reunião da agência ONU Mulheres, no último sábado, a intérprete de Hermione na série Harry Potter conclamou os homens a brigarem pelos direitos das mulheres – uma luta historicamente restrita a elas.

O #SalaSocial acatou a sugestão e convidou seus leitores a opinarem: “Por que muitos homens resistem em abraçar a luta pela igualdade? Você se sente ameaçado pelo feminismo?”.

Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero
Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero

Foram mais de 200 respostas. “Feminismo = machismo. São 2 lados da mesma moeda, arrogância do mesmo jeito”, opinou o leitor Danilo Iuri.

“O feminismo virou um movimento político marxista e foi adotado pela ONU e pelos controladores do mundo como uma forma de reduzir a população, via divisão e ódio entre os homens e as mulheres”, sugeriu Jossé Vieira Baptista.

“Enquanto a maioria das mulheres acharem que o que elas tem de melhor para mostrar é o próprio corpo essa igualdade ficará distante”, disse o internauta Kleber Goudinho.

Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero
Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero

No debate, que incluiu também mulheres (defendendo e criticando o feminismo), leitores da BBC questionaram alguns dos pontos do discurso da atriz, atual “embaixadora da boa vontade” da agência ONU Mulheres. A jornalista Juliana de Faria, criadora do Think Olga (um dos principais grupos de discussões feministas do país) respondeu às principais críticas ou dúvidas à pedido da BBC Brasil.

O resultado parcial da discussão você vê abaixo

Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero
Feminista responde a leitores da BBC Brasil sobre igualdade de gênero

“A luta deve ser por direitos iguais; não por direitos de um só gênero”

Juliana de Faria, feminista e criadora do Think Olga: “Isso é falta de conhecimento. É só procurar o termo feminismo no dicionário: esta é uma luta por direitos iguais para ambos os gêneros. É simples desconstruir isso: no centro da discussão está o gênero feminino porque é ele que precisa lutar para alcançar o masculino, que já tem privilégios e direitos consolidados. Exemplo: a luta contra o assédio sexual. Mais de 80% disseram que já mudaram de roupa por medo de assédio e mais de 90% já deixaram de fazer algo, como ir à padaria ou pegar um ônibus, por temor. Há então uma diferença brutal no direito à cidade, o direito de ir e vir. Eu duvido que algum homem tenha pensado em trocar de roupa por medo de sofrer qualquer abuso.”

“Enquanto as mulheres se expuserem – posando nuas, usando roupas justas ou decotes – elas não terão respeito”

Juliana de Faria: “Respeito é um direito humano, deveria funcionar igual para todos. A gente precisa brigar pela dessexualização do corpo feminino. As mulheres sempre foram vistas como objetos, feitas para satisfazer os desejos do homem. Depois da revolução sexual, quando as mulheres ganharam liberdade sobre sua vida sexual e vestiram minissaias, por exemplo, elas passaram a ser vistas como provocadoras do desejo masculino. Mas a escolha da roupa não tem necessariamente a ver com o desejo do homem, o decote não é só para atrair o homem, a saia não é para provocar – a gente veste o que quiser para se sentir bem, independente do que eles queiram. Sobre mulheres posando nuas, bom, isso é um mercado e também tem homens ganhando com isso. As mulheres têm a liberdade de fazer o que quiserem com o corpo e não vejo como isso pode influenciar no que você é como ser humano. Sei que não são todas as feministas que concordam comigo, mas eu penso assim.”

“O discurso feminista é tão radical quanto o machista”

Juliana de Faria: “Isso é uma falácia. É fácil provar a importância da discussão feminista. O machismo é uma cultura que domina e oprime as mulheres. Ele nega direitos básicos e nos coloca como seres inferiores ou incapazes. Exemplo: prefere-se contratar homens no lugar de mulheres que estão na idade de ter filhos – 40% dos gerentes evitam contratar mulheres nessa faixa. Os homens não têm licença maternidade. Isso é absurdo, não só porque eles não passam o tempo necessário com seus filhos, mas também porque se ausentam da criação e acabam deixando a mulher para trás no mercado de trabalho. O machismo é essa visão que coloca a mulher como incapaz e nós não achamos os homens incapazes, nós falamos sobre igualdade. Tanto homem quanto mulher têm que participar da formação dos filhos. Nós só queremos que as mulheres sejam tratadas como seres humanos.”

“Não gosto de feministas porque elas odeiam homens”

Juliana de Faria: “Conheço histórias de meninas que sofreram estupro quando criança, abuso quando adolescente, apanharam de um namorado. Nesses casos, e é claro que estamos generalizando, o medo virou aversão. São muitas as vertentes do feminismo que convidam os homens a participarem da discussão e consideram importante que eles abracem o feminismo. Eu acredito nisso. Também há mulheres que acham que o debate feminista deve ser feito por mulheres: ‘Homem, por favor, dessa vez não peça o espaço para falar sobre o que eu mereço para a minha vida, me deixe falar’. Elas acham que têm que ser protagonistas e faz sentido protagonizarmos discussões sobre o que as mulheres pensam, né?”

Feminismo: Teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos.
Machismo: Comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem
Misoginia: Ódio ou aversão às mulheres
Misandria: Aversão, ódio ou desprezo pelos indivíduos do sexo masculino

 

Fonte: BBC Brasil

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