Grupo estabelece urgência no combate ao racismo global

Enviado por / FonteKátia Mello

Artigo produzido por Redação de Geledés

Na sede da ONU em Genebra, evento promovido por Geledés conta com a presença de altas autoridades das Nações Unidas, além de especialistas em Direitos Humanos

Geledés – Instituto da Mulher Negra realizou nesta terça-feira, 12, a mesa redonda “Instrumentalização do Racismo pelos Movimentos de Extrema Direita Global”, no Palais de Nations, sede das Nações Unidas em Genebra, na Suíça. Diante de um cenário de acirramento da extrema direita em todo o mundo que trouxe à tona a instrumentalização do racismo como um dispositivo de poder, o seminário se propôs a debater estratégias de combate ao racismo global.

Participaram deste evento híbrido Tracie L. Keesee, uma das especialistas do EMLER, Jamil Chade, jornalista e colunista do UOL e a coordenadora e advogada de Geledés, Maria Sylvia de Oliveira – estes  três em Genebra. Barbara G. Reynolds, presidente do Grupo de Trabalho de Especialistas em Afrodescendentes da ONU, Salimah Hankins, diretora para a Coalizão Antirracista da ONU (UNARC) e Almaz Teffera da ONG Human Rights Watch, participaram por via remota.

Em seu discurso de abertura, Maria Sylvia de Oliveira ressaltou que os afrodescendentes ao redor do mundo “têm vivenciado situações de marcante desigualdade e marginalização socioeconômica, política e cultural e no Brasil situações de extrema violência.” “Estados em geral têm realizado baixos esforços para a reversão das desigualdades raciais nos diferentes âmbitos sociais, bem como sobre as ações para a reversão do racismo sistêmico que perpetua as péssimas condições de vida entre diferentes gerações de pessoas afrodescendentes”, disse ela.

Alguns denominadores em comum foram estabelecidos entre os participantes, como a urgência de se combater o racismo sistêmico no mundo com a ascensão de líderes da extrema direita, sejam eles participantes de governos ou não, mesmo dentro dos devidos processos democráticos, em que Brasil e Estados Unidos foram diversas vezes citados como exemplos. Tracie L. Keesee foi enfática: “Já passamos da hora”, disse.

Em sua fala, Tracie explicou como o mecanismo EMLER pode auxiliar nesse trabalho. Criado em 2021, após o assassinato de George Floyd, pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, o EMLER tem como objetivo focar especificamente na “promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais de africanos e de afrodescendentes contra o uso excessivo da força e outras violações dos direitos humanos por agentes da lei por meio de mudanças transformadoras para justiça e igualdade racial.”

Tracie observou ainda a necessidade de se entender como esses agentes da extrema direita, sejam eles de governos ou não se inter-relacionam. Nesta direção, o jornalista Jamil Chade citou como exemplo um e-mail de uma funcionária do governo Trump no final de seu governo, em 2021, em que ela dizia que se os seguidores americanos do ex-presidente quisessem saber como seria a agenda da extrema direita era só contatar a embaixada brasileira em Washington do governo Bolsonaro.

Barbara G. Reynolds abordou a desconstrução do processo democrático nos últimos anos e como isso ajudou a perpetuar as práticas do colonialismo. Ilustrou como exemplo os policiais afrodescendentes nos Estados Unidos que tratam pessoas afrodescendentes da mesma forma que os escravos foram tratados no passado. Neste sentido, chama a atenção para como o sistema político de diferentes nações perpetua essas práticas. “A democracia atual é um clone do colonialismo e do escravagismo” afirmou Barbara.

Barbara elegeu alguns caminhos para o combate ao racismo sistêmico. Ponderou, por exemplo, que a luta de combate ao racismo não deveria estar restrita apenas aos negros, mas ser uma luta de brancos também, com ênfase na linguagem. “Devemos todos lutar pelos afrodescendentes”, disse ela. Exaltou ainda a necessidade de se criar uma “educação paralela” nas diferentes comunidades. E por último, ela sugeriu que não fiquemos presos ao passado, mas que possamos pensar globalmente em novas políticas.

Salimar Hanks reforçou a ideia de ação coletiva entre os afrodescendentes no mundo. Neste panorama, destacou a relevância do papel da UNARC em estabelecer pontes entre as diversas organizações e seus mecanismos para que essas populações tenham acesso às informações e recursos. Sublinhou ainda a ONU como um agente de coalizão entre as nações no combate ao racismo global. Já Almaz Teffera iniciou sua fala um pouco mais otimista ao descrever alguns avanços dos afrodescendentes no mundo, colocando em pauta os processos de empoderamento dessas populações nos últimos anos. “Vamos trabalhar juntos e estarmos conectados”, disse ela. 

Dentro da perspectiva de acirramento da extrema direita no mundo, o jornalista Jamil Chade sublinhou a importância de renovação do conceito de democracia, que, na visão dele, não conseguiu dar conta do avanço descomunal das desigualdades sociais. Chade ressaltou que há um plano claro em andamento da extrema direita, que se coordena de forma internacional, com mecanismos implantados por grupos extremistas.

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