Shirley Chisholm foi a primeira mulher negra eleita para o Congresso dos Estados Unidos da América (EUA) em 7 de novembro de 1968. Era filha de imigrantes vindos do Caribe
Por Larissa Carvalho, no O Povo Online
Nascida no Brooklyn, um dos distritos de Nova Iorque, Shirley Anita St. Hill Chisholm (1924-2005) teve uma página especial escrita na sua trajetória de vida quando foi eleita a primeira mulher negra para o Congresso dos Estados Unidos em 7 de novembro de 1968, na época com 43 anos. Com formação em Artes pela Brooklyn College (1946), a democrata representou o 12º Distrito Congressista durante sete mandatos, de 1969 a 1983. Era filha de imigrantes vindos do Caribe.
“Em toda minha vida, nunca me dei por vencida, nem renunciei ao que queria”, foram declarações de Shirley Chisholm na época, publicadas na página 2 da edição do O POVO do dia 7 de novembro de 1968. Considerada também a primeira legisladora negra nos EUA, tinha como ideais o direito das mulheres, a atenção pelos pobres e a luta pela ascendência dos afro-americanos. Antes de Chisholm, Margaret Chase Smith (1897-1995) foi a primeira mulher a ocupar vaga no Congresso dos Estados Unidos.
Aos três anos de idade, em novembro de 1929, seus pais enfrentavam dificuldades financeiras. Shirley teve, então, de ir morar com sua avó materna Emaline Seale junto de suas três irmãs mais novas, para viver em uma fazenda na aldeia em Christ Church. Viveu em Barbados, antiga colônia britânica das Índias Ocidentais, até os dez anos. O resultado do tempo de vivência no país foi o sotaque indiano ocidental carregado por ela, que se considerava uma americana barbadiana.
Ainda com dez anos de idade, retornou a Nova York, nos EUA, na época da crise da Grande Depressão (1929-1939), cenário de desempregos e extensa recessão econômica. Devido às dificuldades, teve de frequentar escolas públicas, entre elas, uma só para meninas em Bedford-Stuyvesant, um bairro negro e central no Brooklyn, durante o ano de 1939. Shirley era destaque nas salas de aulas, a maioria composta por garotas brancas, e isso proporcionou bolsas de estudos em faculdades renomadas. Mas, as adversidades fizeram com que ela decidisse estudar na Brooklyn College, também a pedido dos pais.
Sua atuação no meio educacional teve início como professora de creches e depois passou a ser diretora nas escolas de educação infantil, a Friends Day Nursery em Brownsville, Brooklyn, e Hamilton-Madison Child Care Center em Lower Manhattan, entre os anos de 1953 e 1959. Foi ainda consultora educacional na Division of Day Care, de 1959 a 1964. Passou a ter também forte participação em grupos, como o National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), ou Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor. Fundada em fevereiro de 1909, a NAACP é uma das mais antigas e influentes entidades ligadas à luta de direitos para os negros, nos Estados Unidos.
Em 1968, resolveu concorrer ao Congresso Americano e teve como oponente o líder dos direitos civis James Farmer (1920-1999). Com a vitória, iniciou sua carreira política e participou de diversos comitês da Câmara, Agricultura, Educação e Trabalho. Sempre voltava sua atenção às necessidades de seus eleitores, as pessoas de Bedford-Stuyvesant, a quem representava. Como ativista, Shirley não hesitou em fazer parte da Liga das Mulheres Votantes e do 17º Distrito de Assembleia do Clube Democrático.
Mais tarde, aos 47 anos, Shirley Chisholm trouxe a público suas aspirações à Presidência dos Estados Unidos. “Dizem-me que seria melhor que eu me afastasse, a fim de não dividir os votos dos liberais com John Lindsay e George McGovern”, são declarações de Chisholm, presente na página 2 da edição do O POVO de 26 de janeiro de 1972. O historiador e político americano George McGovern (1922-2012) e o advogado John Lindsay (1921-2000) foram seus adversários nas primárias democratas para a Presidência em 1972.
Shirley sofreu tentativas de assassinato e foi processada por motivos não divulgados, o que a impediu de participar de debates televisivos. “Mas por que pedem a mim para renunciar à candidatura? Sou a candidata única. Sou negra e sou mulher. Por que não pedem a Lindsay e McGovern que se afastem do meu caminho?”, foram questionamentos presentes também na edição do O POVO de 26 de janeiro de 1972. Na época, McGovern venceu as primárias para ser o candidato democrata na Convenção Nacional Democrata, mas quem venceu a eleição foi o republicano Richard Nixon (1913-1994).
Os interesses da congressista eram voltados aos direitos civis, principalmente de pessoas negras. Seus discursos, então, permeavam as questões do sistema judicial do País, ação policial, reforma do sistema prisional, controle de armas e abuso de drogas. Antes das eleições, Shirley ficou com 10% dos votos dentro do partido, o que não permitiu a sua indicação pelo Partido Democrata. Ao ser questionada pelo resultado de sua candidatura, rebateu. “Prefiro ser lembrada por continuar lutando ao longo da minha vida pelos direitos das mulheres e dos afro-americanos”.
Casou-se em 1949 com Conrad O. Chisholm, um investigador particular especializado em processos judiciais baseados em negligência. Anunciou sua aposentadoria como congressista em 1982 para se dedicar à vida de professora e fundou o Congresso Político Nacional das Mulheres Negras em 1984. Aos 80 anos, morreu no dia 1 de janeiro de 2005, em Ormond Beach, cidade da Flórida, após sofrer vários Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs). Foi enterrada no Forest Lawn Cemetery, na cidade de Buffalo, em Nova Iorque.
“Eu quero que a história se lembre de mim… não como a primeira mulher negra a ter feito uma oferta pela Presidência dos Estados Unidos, mas como uma mulher negra que viveu no século 20 e que ousou ser ela mesma. Eu quero ser lembrada como uma catalisadora para a mudança na América”, é uma das declarações mais lembradas de Shirley Chisholm.
Pesquisa histórica: Fred Souza