Autora: CELI SILVA GOMES DE FREITAS
Filiação Institucional: UERJ
}Suas crônicas espelham esse desafio: ser negro, intelectual e ao mesmo tempo um homem de opinião. Valéria Lamego 1
O presente trabalho é parte de nossa dissertação de Mestrado, “Entre a Vila Quilombo e a Avenida Central: a dupla exterioridade em Lima Barreto”, defendida e aprovada em 8/5/2003, sob orientação da Prof(a) Dr(a) Lená Medeiros de Menezes, no Programa de Pós-Graduação em História-IFCH/UERJ. Nosso objeto de estudo é a trajetória de deslocamentos de Afonso Henriques de Lima Barreto como ator do político, nas posições de intelectual e de negro. Na perspectiva teórico-metodológica, a comunicação situa-se no campo multidisciplinar que interliga a História Política – com incursões no campo biográfico – e a Análise do Discurso. Privilegiamos no corpus os artigos e as crônicas de Lima Barreto, publicados nos periódicos cariocas entre 1902 e 1922, acrescidos da correspondência ativa e passiva.
O contexto da República Velha configurou-se em principal fonte para os temas sobre os quais Lima Barreto refletiu, buscando defender uma cultura política “volta(da) para a diferença” que fosse “basicamente sensível às desigualdades na apropriação de materiais ou práticas comuns” (CHARTIER;1992:16), e que estivesse referenciada em um espaço urbano mais amplo no qual a sub-urbe estava incluída:
{xtypo_quote}Houve grande contentamento nos arraiais dos estetas urbanos por tal fato. Vai-se o monstrengo, diziam eles; e ali, naquele canto, tão cheio de bonitos prédios, vão erguer um grande edifício, moderno, para hotel, com dez andares.(…) É que eles estavam convencidos da sua fealdade, da necessidade do seu desaparecimento, para que o Rio se aproximasse mais de Buenos Aires.
A capital da Argentina não nos deixa dormir. Há conventos de fachada lisa e monótona nas suas avenidas? Não. Então esse casarão deve ir abaixo.
O Passos quis; o Frontin também; mas, a desapropriação custaria muito e recuaram.(…) Não é que eu tenha grande admiração pelo velho casarão; mas, é que também não tenho grande admiração nem pelo estilo, nem pela gente, nem pelos preceitos americanos dos Estados Unidos (…)
Esse furor demolidor vem dos forasteiros, dos adventícios, que querem um Rio- Paris barato ou mesmo Buenos Aires de tostão. (BARRETO;1911){/xtypo_quote}
Com a mesma ironia aguda característica de seu estilo, Lima Barreto contrapôs à expressão “Belle Époque Tropical”, consagrada para representar o modelo vencedor
de modernidade importada, duas outras, “Rio-Paris barato” e “Buenos Aires de tostão”. Destacamos como efeito de sentido de maior interesse a inversão de perspectiva, que transformou o que antes era positivo em expressões de conotação negativa pelo uso de “barato” e “de tostão” para qualificar a nossa modernidade republicana de inspiração “adventícia” e “forasteira”.
1 Valéria Lamego. “Lima Barreto: Críticas duras e pseudônimos”, Jornal do Brasil, B. Rio de Janeiro, domingo, 2-7-2000.
CELI SILVA GOMES DE FREITAS [email protected]
Leia o artigo completo em anexo PDF
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