“O nosso feminismo se inspira nas guerreiras africanas. Mães, avós, bisavós, tataravós, negra Dandara, Lélia Gonzalez, Luiza Mahin. Guerreiras que lutaram por mim”. O trecho é de um rap cantado pelo grupo Negras Ativas, de Belo Horizonte. Pode parecer atual, mas a música é do final do anos 90. Negras Ativas foi o primeiro grupo de rap da região metropolitana de BH exclusivo de mulheres.
É exatamente para reverberar a história das mulheres negras do hip hop e do funk que o livro ‘Periferias do Gênero’ está sendo lançado pela autora Larissa Amorim Borges. Ela mesma foi uma das integrantes do Negras Ativas. Da região de Venda Nova, em BH, Larissa cresceu nos circuitos da arte periférica. No hip hop, conheceu o feminismo antes mesmo de chegar à universidade.
“Esse livro nasce de uma inquietação. No debate feminista, as mulheres de periferia não estão sendo vistas e ouvidas”, provoca. “Eu vou relatando alguns encontros, transitando entre as histórias das mulheres no hip hop e no funk. É uma leitura leve, estimulante até mesmo para quem não tem o hábito, como uma forma de provocar a academia, que tem produções distantes da nossa realidade”, continua ela que também é doutora em psicologia.
Quem ler o livro vai conhecer as histórias de mulheres artistas e mobilizadoras da sociedade como Vanessa Beco, Lauana Nara e Taynara Lira. Negras Ativas também inspirou uma organização que empoderava jovens mulheres na cultura periférica da Grande BH nos anos 2000. Projetos culturais, como o Hip Hop das Minas, abriram caminhos para que as novas vozes do rap e do funk, como Clara Lima e Laura Sette, em Belo Horizonte, também fossem feministas.
Disputa por espaço ainda é tema de canção
“Se eu pedir para qualquer pessoa me dar três nomes de Mcs do cenário de Minas, será que vem? Provavelmente não. Já homens, são muitos…”, provoca Laiara Borges, uma das mulheres que participaram da construção do ‘Periferias do Gênero’. Para ela, também “cria” de Venda Nova, depois de Racionais MC’s, sua primeira referência no rap, vem Negras Ativas. “O hip hop conta a nossa realidade. É algo transformador você cantar em voz alta aquilo que você vive. As nossas vivências como mulher, como pessoa negra, de periferia, estão ali. É por isso que nos empodera”, celebra.
Mesmo tendo acompanhado as mulheres na música desde a juventude, Laiara ainda sonha com mais espaço para a arte negra e feminista. “Ainda há muito sexismo no rap e no funk. As mulheres sempre estão presentes na arte periférica, seja na produção, no apoio dos homens, no cordão de enfrentamento policial em manifestações. É por isso que escutar, ver, apreciar uma mulher negra protagonista no hip hop e no funk foi e ainda é transformador”, diz.
Arte coletiva
Uma referência para Laiara? Vanessa Beco. “Eu estou nesse pacote de mulheres pioneiras na cidade, abri espaço e mobilizei mulheres no hip hop”, apresenta Vanessa. Uma das MCs que formou Negras Ativas, Beco acompanhou o amadurecimento da cena artística de periferia a partir da intervenção das mulheres negras.
“O hip hop é uma força muito grande, desde o seu surgimento. No nosso lugar de mulheres negras, criávamos conexões com jovens periféricas desafiando uma cultura que tinha os homens na frente. Por meio dessa potência, uma universidade aberta, fizemos a diferença. Subimos no palco e vimos mulheres vivendo as diferentes formas do hip hop”, rememora.
Muito para falar
Outra mulher que abriu caminho para a arte periférica na Grande BH é Inês Mainart, mais conhecida como Castanha. “Sou dinossaura do hip hop”, brinca. Os seus 58 anos de vida são também de vivência na arte.
Castanha começou dançando break. Depois, fez parte do SOS Periferia, um grupo de hip hop de Santa Luzia, na região metropolitana de BH. Mas ela se encantou mesmo com a transformação social. “Nós fazíamos questão de mudar e mostras as possibilidades que as mulheres negras tinham”, conta.
Para ela, o hip hop e o funk precisam convidar quem escuta a refletir a realidade da mulher periférica. “A questão salarial, a violência doméstica, a falta de rede de apoio, os desafios que enfrenta uma mãe periférica, que tem que conciliar a criação com o fazer arte, com o trabalho, o estudo”.
A obra é resultado do Projeto Periferias do Gênero: Dialogando sobre Hip Hop, Funk e enfrentamento ao genocídio da juventude negra, apresentado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, por meio da Secretaria de Cultura/Edital Descentra 2022. E é realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Como adquirir o livro?
Os exemplares estão destinados à venda pelo valor de R$ 27 em livrarias físicas e online. Larissa Amorim Borges fará rodas de conversa nas nove regionais da cidade para discutir o ‘Periferias do Gênero’.
Confira a agenda abaixo.
07/07, às 14h: Regional Norte
Centro Cultural Zilah Spósito (CCZS): Rua Carnaúba, 286, Conjunto Zilah Spósito – Jaqueline. Tel.: (31) 3277-5498 – Ônibus: 5534
11/07, às 19h: Regional Oeste
Centro Cultural Salgado Filho (CCSF): R. Nova Ponte, 22, Salgado Filho. Tel.: (31) 3277-9625 e 3277-9624 – Ônibus: 1404 A, 1404 B, 9214, 3054, 9211, 4205, S22, 2033, 5250 (Move)
18/07, às 19h: Regional Barreiro
Centro Cultural Vila Santa Rita (CCVSR): Rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita. Tel.: (31) 3277-1519 e 3277-1534 – Ônibus: 309 (Estação Diamante), S31 (ao lado da Estação Barreiro
25/07, às 19h: Regional Nordeste
Centro Cultural Usina de Cultura: R. Dom Cabral, 765 – Ipiranga. Tel.: (31) 3246-0334 – Ônibus: 8103, MOVE Cristiano Machado
04/08, às 19h: Regional Noroeste
Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira (CCLAO) – Dentro do Mercado da Lagoinha: Av. Antônio Carlos, 821 – Dentro do Mercado da Lagoinha. Tel.: (31) 3277-6091 ou 3277-6077 – Ônibus: qualquer um que passe na Av. Antônio Carlos.
05/08, às 14: Regional Pampulha
Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado – CRCP: Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã. Tel.: (31) 3277-7420 / 3277-6746 – Ônibus: Todos os que passam pela Av. Pedro I, sentido Venda Nova.
10/08 (horário a definir): Regional Leste
Centro Cultural Alto Vera Cruz (CCAVC): Rua Padre Júlio Maria, 1577, Alto Vera Cruz – Tel.: (31) 3277-5612 e 3277-5618 – Ônibus: 9407, 9503 e 901
12/08, às 14h: Regional Venda Nova
Centro Cultural Venda Nova (CCVN): R. José Ferreira dos Santos, 184 – Jardim dos Comerciários. Tel.: (31) 3277-9504 – Ônibus: 635 e 634 (Estação Vilarinho)
16/08 (horário a definir): Regional Centro Sul
Centro Cultural Vila Marçola (CCVM): R. Mangabeira da Serra, 320, Serra. Tel.: (31) 3277-5250 – Ônibus: 2102, 9106, 8150 e Complementar 107