Mulheres negras blogueiras, responsabilidade e ação

O trabalho de uma mulher negra blogueira não tem o devido reconhecimento e visibilidade, mesmo que seus artigos alcance milhares de leitores.

Existe uma visão distorcida dos papéis que formulam os conceitos e importância do que é ser uma digital influence com milhares de seguidores e, uma blogueira com acessos de leitura nos artigos escritos.

A ampla maioria das pessoas acreditam que o número de seguidores é o único lado positivo para quem desenvolve algum tipo de trabalho nas redes sociais.

Muitos não sabem que para elaboração de um artigo, uma blogueira precisa de muito tempo, responsabilidade, estudos, pesquisas, investigações, tornando o trabalho árduo e dispendioso.

É comum ouvir afirmações que não existem uma fórmula para ser uma blogueira ou uma influence.

Dentro deste fasto universo deve-se, compreender os papeis e entender o potencial e relevância de cada uma, bem como, as diferenças nas produções apresentadas, sejam audiovisuais ou escritas.

As produções podem provocar impactos nas vidas das pessoas e levar uma equipe inteira alterar conteúdos para que as métricas (alcance, engajamento, seguidores) sempre sejam positivas.

Existem conteúdos que podem impactar de maneira positiva e negativa nas vidas das pessoas. Fotos, vídeos, podcasts e, obvio, textos.

“As expectativas levam uma pessoa a produzir e conhecer as preferências do público e os esforços podem se tornar alinhados para melhor atendê-los”.

A depender de certos valores, princípios e conceitos pessoais, uma blogueira ou influence podem deixar de lado a resiliência e com isto, ter seus trabalhos contaminados de conceitos pejorativas, depreciativos, racistas, machistas, homofóbicos, intolerantes, xenofóbicos.

A preocupação de permanecer somente com resultados de engajamento e seguidores altíssimos também tende a afastar o influencie e/ou blogueira do zelo no conteúdo que agregam valores humanos e das pautas específicas das desigualdades existentes nas relações humanas, as consequência direta e indireta e das mazelas.

É muito comum encontrar informações em plataformas sociais, sites, grupos WhatsApp que induzem ao erro, interferem em tomadas de decisões sérias, chegam a comprometer a estrutura administrativa, social e política de uma nação. Interferem na cultura, economia e modo de viver de um povo.

Eu fiz uma pesquisa particular no primeiro semestre de 2023, e constatei que são poucas blogueiras negras que escrevem, independente do número de seguidores, mesmo, diante dos desafios impostos, nunca desistem, pois, tem como um dos propósitos a manutenção de sua militância, do ativismo e distribuição de informações corretas.

São formadoras de opiniões e não de comportamentos.

1) No início do movimento das celebridades da internet, eram os blogueiros e blogueiras quem comandavam tudo. Já “digital influencer” é um termo utilizado para designar aquelas pessoas que formam opinião, tendência e influenciam outras pessoas pelas redes sociais. Podem ou não ter um blog.

Na minha pesquisa, também observei que as mulheres negras blogueiras, em sua maioria, tem acima de 45 anos. Lendo as publicações realizadas e avaliando os conteúdos, observei que a maioria não abre mão do estudo e da pesquisa baseada nas evidências histórica e científicas.

Com isto, impressionantemente, mesmo diante da complexidade dos segmentos e assuntos específicos, produzem em maioria os denominados blogs de gêneros.

2) “Conforme o estudo “Blogs do Brasil: Panorama 2017”, conduzido pela BigData Corp, atualmente existem mais de cinco milhões de blogs ativos no Brasil…… Nem todas as blogueiras se transformaram em influenciadoras, como nem todas as influenciadoras foram ou são blogueiras…… ”

Muitos Blogs tem os números de seguidores bem menor que o número de acessos/leituras.

Mesmo tendo inúmeros leitores, nem todas as blogueiras negras, possuem a mesma condições financeiras, visibilidade e reconhecimento que uma digital influencie que trabalham com fotos, frases/chavões, vídeos ou podcasts.

As condições financeiras, garantem uma equipe técnica com pessoas conhecedoras em marketing de Influência.

“Produção para que as marcas encontram uma oportunidade de estabelecer parcerias para utilizarem, apresentem e divulguem seus produtos e serviços”.

Mas, este debate do que existe no mercado por trás dos números de seguidores, deixaremos para outro momento. Voltemos as Blogueiras negras.

Neste vasto e de pequeno número de blogueiras negras, cito duas: Arísia Bairros em Pernambuco e Mônica Aguiar de Minas Gerais, esta que vos escreve.

O que tem em comum? – Militantes em defesa da cidadania negra, combate ao racismo, liberdade e dos direitos humanos das meninas e mulheres negras.

Arísia Bairros do Instituto Raízes. Mônica Aguiar do Blog Mulher Negra. São centenas de matérias publicada por elas.

É muito fácil observar a influência que exercem em muitos conteúdos. Um texto publicado, por menor que seja, vira chavão para fotos ou podcast de muitas pessoas que vem se destacando através do “ativismo”.

Neste mercado onde a disputa é solta e não existem regras, a produção de uma mulher negra é abertamente criticada e desqualificada.

Nos modelos propostos, os pressupostos, os métodos operantes e “teorias” são eurocêntricos.

Os parâmetros que deveriam existir, baseados nos princípios dos direitos humanos, meio ambiente, igualdade, oportunidade, saúde, confinam-se em discursos.

Na prática, imperam o silenciamento e dominação.

Na maioria, técnicas fadadas para não garantir o acesso igualitário aos direitos fundamentais.

Eu, mulher negra, blogueira, se faço opção de participar do jogo dos lobos, terei que aceitar silenciosamente condições impostas. A ruptura nesta casta, sempre trouxe perdas.

Abdicar da imagem de papel de conciliadora, boazinha, subserviente, vulnerável, concedente, defensora dos interesses universais, é NÃO dar sustentação a algo maior que domina o tempo e transforma valores arcaicos e invisibilidade em condições desumanamente reais.

O meu dicionário é bem memorial, formulado por anos. Muitas palavras e seus significados são mantidas através da oralidade.

Existe nome novo para “apropriação temporária”: empréstimo para produção coletiva.

Para mim, condiciona a outros fatores como: invisibilidade, não reconhecimento, subordinação, escravidão intelectual e dentre outros.

Entre tudo, respiro e ganho forças para manter escrevendo.

Fontes biograficas :
1) 1) https://www.mundodomarketing.com.br/
2) 2) https://m.leiaja.com/

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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