Mulheres negras na tecnologia

Panorama, desafios e perspectivas

Embora as mulheres sejam a maioria no ensino superior de acordo com dados MEC (Ministério da Educação) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), elas ainda são minoria em ciências exatas e engenharia – e estes números afunilam ainda mais quando avaliamos a interseccionalidade entre gênero e raça.

Uma pesquisa recente (2022) da Pretalab mostra que as mulheres negras ocupam apenas 11% dos cargos na indústria de tecnologia. Já um estudo da #QuemCodaBR mostrou dados sobre a diversidade das equipes de tech no Brasil: 32,7% dos entrevistados disseram que não têm pessoas negras em seus times de trabalho.

Estes dados são reflexos da desigualdade social que temos no nosso país. Diante deste contexto, surgem perguntas como: Por que temos um número tão pequeno de mulheres negras em tech? Quais os desafios das empresas? Quão importante é reverter este cenário?

A diversidade nos recortes de gênero e raça ainda é um desafio da indústria de tecnologia, dominada tradicionalmente por homens brancos. Por mais lento e árduo que seja, as mulheres negras estão consolidando sua permanência em carreiras relacionadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), desafiando as culturas organizacionais, estereótipos e quebrando barreiras.

A inclusão de mulheres negras na indústria de tecnologia é essencial, não apenas por uma questão de justiça social e representatividade, mas também pelo caráter inovativo. A diversidade de perspectivas, histórias, vivências e experiências trazidas por mulheres negras enriquece o setor, impulsionando, inclusive, o desenvolvimento de novos produtos e serviços mais inclusivos e relevantes para uma sociedade plural.

Reverter este cenário é um tanto desafiador, afinal, os obstáculos já começam no ensino médio, onde muitas alunas negras são desencorajadas a seguir carreira STEM, muitas vezes por falta de um modelo referencial. Isso se torna ainda mais grave nas regiões Norte e Nordeste do país e em áreas periféricas, nas quais os avanços educacionais em termos de gênero ainda não alcançaram todas as mulheres.

E para consolidar o senso de pertencimento e auxiliar o crescimento em suas carreiras, programas de mentoria que conectem mulheres negras, bem como capacitações para desenvolvimento de habilidades técnicas, socioemocionais e cuidado com saúde mental são essenciais.

É de extrema importância que a indústria e empresas de tecnologia tenham compromisso formal na promoção de equidade de gênero/raça nas oportunidades, e que todos os níveis hierárquicos organizacionais tenham representatividade destas mulheres. Para consolidação destas políticas é importante a criação de ambientes cada vez mais acolhedores, com processo de escuta ativa, e um compromisso para que os processos seletivos garantam que a contratação não seja apenas simbólica. Uma pesquisa realizada pela McKinsey em 2020 em mais de 15 países revela que há uma ligação direta entre o nível de inclusão e diversidade existente numa empresa e o retorno financeiro dela, e que esta relação está no nível de pertencimento e engajamento.

Sou uma mulher negra, engenheira e acadêmica, que sabe o quão desafiador é enfrentar o sexismo e racismo, muitas vezes implícito em nossa sociedade. Venho com este artigo enfatizar a importância da conscientização desta problemática, mas também da necessidade de não encaramos estes fatos e dados com conformismo, mas com consciência, planejamento, mudança e com consolidação de políticas de diversidade para mulheres negras garantindo seu pertencimento e encorajando evolução na carreira tech.

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