Em 1923, o piloto Euclides Pinto Martins chegava ao Rio de Janeiro vindo da primeira viagem de avião que cruzou as Américas. “Pinto Martins” é o nome do aeroporto de Fortaleza. Mas quem foi esse jovem natural de Camocim, além de uma personalidade da aviação mundial?

Uma coisa são fatos, nomes e datas. Outra coisa é o que foi feito disso. A história é uma área do conhecimento que se ocupa de fazer as pessoas não esquecerem de acontecimentos. Quem escreve é quem decide o que deve ser lembrado. É por isso que você conhece histórias dos europeus invasores e descendentes e não as dos indígenas e dos africanos.
Como seria a história do Brasil se o povo negro também a tivesse escrito?
Há 50 anos, o 20 de novembro se tornou Dia da Consciência Negra para celebrar o herói Zumbi do Quilombo de Palmares em contraponto ao 13 de maio. Esta foi uma conquista do movimento negro. No Ceará, do Grucon (Grupo de União e Consciência Negra do Ceará) ao Grunec (Grupo de Valorização Negra do Cariri); do Inegra (Instituto Negra do Ceara) à Mandata Nossa Cara; do MNU (Movimento Negro Unificado) às Princesinhas de Favela, gente negra em diversidade regional, geracional, de classe e de gênero tem agido em múltiplas frentes na afirmação de suas existências, avançando na luta por direitos. A História, como a vida, é um campo de disputas.
Hoje, vários veículos de comunicação no país estão sendo ocupados numa ação inédita da Rede de HistoriadorXs NegrXs. Nos últimos anos, o debate público na sociedade brasileira tem sido qualificado por esses profissionais. Perguntas incômodas são feitas ao passado e às instituições. Com isso, dão continuidade a uma luta antiga pelo direito à memória antirracista.
Em 13 de maio de 1952, uma lei federal deu o nome de Pinto Martins ao aeroporto de Fortaleza. Apesar da simbologia da data, não houve esforço de publicizar a trajetória do cearense, nem mostrar seu rosto. Pode ser surpreendente, mas Euclides foi um homem negro que morreu jovem, aos 31 anos, em circunstância trágica e suspeita, em 1924.


O genocídio do povo negro segue em marcha em 2021. As lutas também. Jovens negros estudam, escrevem e leem histórias do seu povo. E sonham com outros voos. Será que o menino camocinense – que desafiou e conquistou os ares – conheceu a história do Dragão do Mar?
*Este artigo compõe a Ocupação da Rede de HistoriadorXs NegrXs em veículos de comunicação de todo o Brasil neste 20 de novembro de 2021.


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