No mês em que comemoramos o Dia Internacional da Juventude, em 12 de agosto, é preciso aquecer o debate a respeito das questões basilares relacionadas a esse grupo social.
Criada pela ONU em 1999, a data tem como objetivo principal a conscientização de novas gerações de seu papel para o desenvolvimento e futuro do planeta.
No Brasil, as pautas mais urgentes que envolvem os mais jovens são as oportunidades educacionais, a empregabilidade, a precarização das relações de trabalho, o encarceramento, a saúde mental e a desigualdade social.
Para discutir sobre os espaços ocupados pela juventude de maneira qualificada, é preciso se atentar para as necessidades e direitos que perpassam os problemas listados acima. Quando isso acontece, identificamos essas questões como propulsoras e limitadoras das capacidades individuais e coletivas dos nossos jovens.
Nesse contexto, fica cada vez mais claro que a elaboração de políticas públicas voltadas para, de fato, cumprirem o papel transformador na vida da juventude brasileira está necessariamente fundamentada na participação das gerações mais novas no seu processo de ideação, implementação e avaliação.
Tal atuação não deve ser apenas acessória, mas sim ter um caráter de protagonismo, trazendo aqueles que enfrentam as mazelas sociais para o centro dos debates. Em outras palavras, é colocar o conceito de lugar de fala na prática.
Em ambientes marcados por vulnerabilidades sociais e pela luta diária em prol da sobrevivência, como favelas e regiões periféricas, é urgente a necessidade de lançar luz sobre o fato de que o desenvolvimento do país é atravessado pela liberdade da disputa de narrativas no âmbito político.
Dessa forma, a maturidade de uma nação está intrinsecamente ligada aos espaços de participação política que são propiciados à sua juventude para lutar por direitos.
A mudança política demanda participação social e engajamento jovem, mas só será factível a partir da criação de ágoras (local onde aconteciam debates políticos na Grécia Antiga), que democratizem o acesso da juventude nos espaços de debate público e possa trazê-los para a discussão sobre a sociedade que queremos.
De acordo com pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), a média mensal de mortos em operação policial entre outubro de 2020 até o início deste ano superou a dos últimos 14 anos.
Foram 107 mortes por mês. O período do levantamento corresponde ao aumento da violação da determinação do STF de suspender ações policiais em comunidades. A juventude periférica é um dos principais grupos vitimados.
Fica claro que nada é tão empoderador quanto ter sua voz ouvida e perceber os desdobramentos da sua atuação política impactando os rumos da história. Precisamos que esse brilho no olhar alcance a juventude, que eles exerçam seu direito à cidadania e a participação política e social previstos no Estatuto da Juventude.
Salvino Oliveira
É morador da Cidade de Deus, integrante do PerifaConnection, gestor público e o atual Secretário de Juventude do Rio de Janeiro