Professora de PG é acusada de racismo por mãe de aluno

Mãe realiza Boletim de Ocorrência após descobrir que o filho, de 12 anos, foi chamado de ‘Zé Preto’, pela professora dentro da sala de aula.

Chocada. Este foi o termo utilizado por Carla Viviane de Santos para explicar como ficou após saber que o filho, de 12 anos, foi, supostamente, vítima de injúria racial, da própria professora, dentro do Colégio Estadual Senador Correia, em Ponta Grossa. Ela revela que a professora de Ciências, Liliane Margraf, teria chamado o menino de ‘Zé Preto’ durante uma aula, na última segunda-feira. “Ela tem implicância com ele desde o ano passado e, até então, acreditávamos que era pelo fato de ele ter déficit de atenção. Mas, agora, já sabemos que o motivo é racial”, desabafa.

Depois de, supostamente, ter sido xingado pela professora, o garoto não quis mais ir para o colégio. “Eu estava decidida a tirar ele da escola, porque acreditava que as professoras iriam ficar se defendendo, no entanto, na quinta-feira fui chamada pelas pedagogas do Colégio que me contaram tudo o que aconteceu e falaram que meu filho é um excelente aluno”, conta Carla, ao relatar que conseguiu uma cópia da ata da denúncia do aluno feita ao corpo pedagógico do colégio, que teria, inclusive, a assinatura da professora de Ciências.

Segundo a ata apresentada por Carla, no dia 5 deste mês, às 16h30, o menino, chorando, procurou a equipe pedagógica, alegando que a professora Liliane Margraf havia o chamado de ‘Zé Preto’. No mesmo instante, a professora foi chamada e alegou que esqueceu o nome do aluno e o chamou de ‘Zé Preto’ em alusão a um funcionário que trabalha na chácara onde ela mora. De acordo com o documento, a equipe pedagógica lembrou que esta não era a maneira correta de se referir ao aluno. Liliane, então, teria pedido desculpas ao menino alegando que não tinha a intenção de ofendê-lo ou magoá-lo.

O caso já foi levado até a ouvidoria do Núcleo Regional de Educação pela mãe do menino. “No Colégio, inicialmente falaram que mudariam ela [professora] de turma, mas recebi um telefonema dizendo que meu filho seria mudado de turma a partir de segunda-feira, então, decidi fazer um Boletim de Ocorrência. Ele tem 12 anos. Tem que haver uma Lei que o proteja deste tipo de ação, porque se não outra pessoa pode fazer isso, sabendo que vai chamar meu filho de ‘Zé Preto’ e ainda vai conseguir tirá-lo da sala. Ela deve ser punida por isso. O Estado tem que me dar uma resposta. Tem que tirar ela dali. Ela é a errada, não meu filho”, frisa Carla, ao dizer que o menino está arrasado.

“Ele está triste, deprimido, oprimido, com vergonha, se olhando toda hora no espelho, passando bronzeador solar, toma banho a toda hora e passa a mão com força no braço para ver se fica branco”, relata. “Eu só quero deixar uma coisa bem clara: meu problema não é com o colégio, porque a equipe pedagógica tem feito um trabalho sensacional com meu filho, que tem déficit de atenção, mas está evoluindo a olhos vistos e se tornando uma pessoa muito independente. Além disso, eles deram todo o suporte para ele quando houve esse fato e, ele só as procurou, porque tem confiança. O problema é essa professora de Ciências”, finaliza. A reportagem do Jornal da Manhã tentou, sem sucesso, contato com a professora acusada; com a direção da escola e com o Núcleo Regional de Educação.

Trauma prejudica formação social e educacional

A psicóloga Camila da Silva explica que fatos como este podem trazer sérios problemas para a formação da criança, que passa a enxergar a escola de maneira negativa. “A primeira dificuldade é social. Dentro de um ambiente escolar, que é importante para a criança nesta idade, cria certa resistência relacionada à figura do professor, da sala de aula, lembrando que esse evento traumático aconteceu dentro da escola”, analisa a psicóloga. “Outro ponto é o da própria aceitação. A partir do momento que ele não é aceito, é bem traumático”, acrescenta Camila.

Mulher pode ser indiciada por injúria racial

O delegado-chefe da 13ª Subdivisão Policial, Danilo Cesto, esclareceu que o Boletim de Ocorrência será encaminhado ao Distrito Policial da área para instauração de inquérito policial. “O delegado responsável pelo Distrito vai tomar depoimento das partes envolvidas, das testemunhas e, caso, a acusação seja comprovada, a professora pode ser indiciada por injúria racial e responder criminalmente pelo ato”, explica.

O advogado Luís Carlos Simionato disse que a melhor atitude a se tomar em uma situação de injúria racial é tornar isso público. “A vítima tem que se expor para que o agressor não faça isso com outras pessoas. Não pode deixar uma coisa como essa passar impune, pois, assim, contribui com a sensação de impunidade. É preciso levar isso ao conhecimento das autoridades competentes”, destaca.

Informações de Michael Ferreira

Fonte: A Rede

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