Quem está no poder não pode ficar tão folgado, diz Paulo Betti em ato na favela da Maré

O ator Paulo Betti esteve no ato ecumênico em homenagem às dez pessoas mortas na operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) em junho no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, na tarde desta terça-feira (2). “As instituições precisam dar ao povo mais do que elas estão dando e de forma mais clara, sem corrupção. Quem está no governo não pode ficar tão folgado como está”, afirmou.

Ele disse que tem acompanhado as manifestações no Brasil, mas só pôde participar desta, que caiu em um dia em que não estava gravando. “Foi um absurdo essa violência que aconteceu na Maré. Nós da classe artística estamos solidários com vocês [moradores]. É um momento muito estimulante no Brasil, uma chacoalhada geral para que as coisas não continuem como estão”, disse o ator.

A manifestação  reúne cerca de 2.000 pessoas. A estimativa é de policiais militares que fazem a segurança no local do protesto. A manifestação fechou a pista da direita da avenida Brasil, sentido zona oeste, na altura da passarela 9.

O ato contou ainda com a participação do MC Leonardo, que cantou o rap “Eu só quero é ser feliz”, de pastores que fizeram uma reza e de um grupo de teatro. O estudante Andrey da Silva, 17, faz parte do grupo do Centro de Artes da Maré, que prestou a homenagem aos mortos na operação do Bope. Dez jovens se deitaram no chão com panos pretos e fizeram um minuto de silêncio. “Os panos pretos representam nosso luto e deitamos no chão para mostrar a morte dessas pessoas”, disse. “A Maré não está mais apagada, tem gente com educação, trabalhadora, precisa de respeito.”

A Polícia Militar entrou na comunidade no fim da tarde do dia 24 de junho, em busca de homens que aproveitaram uma manifestação nas proximidades para promover arrastão, roubando mercadorias de lojas e assaltando motoristas que passavam pela avenida Brasil. Entre os mortos, estão um policial do Bope e outros três moradores que não tinham antecedentes criminais.

Processo

O motorista Cláudio Duarte Rodrigues, 41, um dos feridos na operação do Bope, afirmou que pretende entrar com um processo contra o Estado. Ele participa do ato ecumênico em memória dos mortos que reúne cerca de 400 pessoas na comunidade, segundo a Polícia Militar.

Rodrigues contou que chegava em casa na noite do dia 24 de junho, quando foi atingido. “Era por volta de 23h30, eu estava na van, voltando do trabalho. O caveirão estava logo atrás. Eles (a polícia) começaram a atirar e me atingiram”, disse ele, que está andando de muletas. “Vou entrar com um processo contra o Estado e pedir uma indenização.”

Morador da Maré há 41 anos, Rodrigues acredita que a manifestação no complexo de favelas pode contribuir para melhorar a entrada da polícia no local. “Esperamos chamar a atenção das autoridades para que a polícia entre com mais cautela na favela. Aqui tem criança, jovem, trabalhador”, disse ele, que passou um dia internado no Hospital Geral de Bonsucesso, onde foi submetido a uma cirurgia.

Falta de respeito

“Tudo de ruim acontece aqui dentro, porque a gente se cala. Se botar a boca no mundo, a polícia não vai mais chegar aqui de forma truculenta”, diz a ascensorista Maria José Pereira, 41, moradora há 40 anos do Complexo da Maré. Segundo Maria, a polícia não tem respeito por quem mora na favela. “Aqui é na base do tapa na cara, do esculacho. Em abril, a polícia chegou aqui e entrou na minha casa. Eu fui acordada com um fuzil na cara”, conta.  “As pessoas têm medo de vir, mas têm que protestar.”

Ela contou que as entradas do Bope na Maré têm sido constantes este ano. No dia da operação que terminou com a morte das dez pessoas, ela estava chegando ao complexo. “Fiquei do lado de fora esperando acabar para entrar. Era muito tiro. Bandido tem que prender, e não matar”, disse. “Matar é um troféu para eles [policiais].”

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Fonte: UOL

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