Rede de professores contra o racismo já reúne 3.500 mestres que debatem o tema nas escolas

Grupo dá cursos a educadores para intensificar a aplicação de lei 10,639 e ganhou Prêmio à Igualdade Racial este ano

Junto com os livros didáticos, alunos do 9º ano da Escola municipal Embaixador Barros Hurtado, em Cordovil, na Zona Norte do Rio, têm na bibliografia obras de bell hooks, Djamila Ribeiro e Nilma Lino Gomes, e artigos da jornalista e colunista do GLOBO Flávia Oliveira. Além da proximidade com autores negros, a discussão sobre racismo é frequente nas aulas. O trabalho é desenvolvido na unidade pela professora de língua portuguesa Monica Aniceto Barros, de 51 anos.

Desde que começou a integrar a Rede de Professores Antirracistas, Monica busca aprimorar a rotina à qual se dedica há alguns anos: pôr em prática a Lei Federal 10.639, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas.

— A Rede ratificou aquilo em que eu já acreditava e me deu embasamento, mostrando que o que eu fazia no dia a dia tinha teoria. A partir dali, passei a conhecer outras formas de colocar a Lei 10.639 em prática — explica Monica.

Criado há um ano, o grupo já tem adesão de mais de 3,5 mil professores nas redes sociais. A fundadora, a professora de história Lavini Castro, de 43 anos, começou a preparar o solo para seu projeto após concluir o mestrado em relações étnico-raciais, em 2019:

— Meu trabalho foi sobre “Leituras evangélicas frente ao estudo da história do negro — história e cultura do negro na educação brasileira”. Entrevistei alunos, professores e cheguei à constatação de que a visão religiosa, por mais que não seja fundamentalista, acaba sendo entrave para a aplicação da Lei 10.639.

Lavini Castro, com alguns das leituras que compartilha na Rede de Professores Antirracistas (Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo)

Na pandemia, em parceria com a estrategista digital Cássia Lopes, Lavini começou a produzir cursos on-line voltados para professores. Cássia cuida da metodologia e da engenharia de distribuição de conteúdos. Lavini, da produção de conteúdo.

— Saí do mestrado e virei essa produtora de conhecimento voltado para a educação antirracista — conta ela.

Encontros virtuais

O primeiro curso, em julho do ano passado, foi intitulado “A ferramenta do professor antirracista — Lei 10.639”. Gratuito, o conteúdo foi oferecido a 700 professores.

— Era a Lavini educadora antirracista promovendo a sensibilização dos professores para a prática de educação antirracista — diz a educadora.

Em seguida, Lavini e Cássia começaram a oferecer outras aulas. Com o retorno positivo dos docentes, as duas decidiram criar a Rede de Professores Antirracistas.

Este ano, a rede ganhou o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2021, na categoria Educação e Oportunidades. A premiação é uma iniciativa do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), que reconhece os principais nomes de pessoas, empresas, iniciativas e organizações que atuam em prol da igualdade racial no país.

Nos encontros virtuais, além de compartilhar conhecimento e leituras, Lavini também ouve desabafos, depoimentos e denúncias de professores sobre o racismo no ambiente escolar:

— Eles perguntam: “Como faço se um aluno xinga o outro?”, “É preto ou negro que se fala?”. É um lugar onde se compartilha experiência, se estuda junto, falamos do olhar diferenciado que o professor tem que ter para a criança negra, de ensinar a criança a enxergar pelo olhar do outro para aprender a conviver com esse outro.

Para Lavini, a rede é mais um espaço de empoderamento desses profissionais para a prática da educação antirracista. Foi lá que Monica assimilou conhecimento para aprofundar seu trabalho na escola onde leciona há seis anos. Desde que começou a trabalhar na unidade, em Cordovil, ela sempre quis chamar a atenção dos alunos para as formas de racismo na sociedade.

A professora Monica Ancieto apresenta autores negros e discute racismo com seus alunos da Escola municipal Embaixador Barros Hurtado, em Cordovil (Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo)

Em 2016, Monica iniciou na escola um ciclo de palestras. Todos os profissionais que participam são negros. A atividade já recebeu a jornalista Flávia Oliveira e o historiador e babalaô Ivanir dos Santos, entre outros.

Aluna do 9º ano, Maria Luiza Machado Delfino fez a transição capilar há um ano. Cortou o cabelo bem curto e, desde então, usa os fios de forma natural. Mas a principal mudança de Maria foi interna.

— Já sofri racismo na escola, ouvi piadas com meu cabelo, minha cor do pele. Cresci escutando que ser preto é ser feio. Depois de muitas palestras na escola, de ouvir tantas pessoas negras falarem sobre racismo, fui me reconstruindo — diz ela, que tem 15 anos e ganhou em 2020 o Prêmio Literário do Ensino Fundamental.

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