Secretário-geral da ONU adverte para ameaças aos direitos das mulheres

Enviado por / FonteONU

Na abertura da Comissão sobre o Estatuto da Mulher da ONU, António Guterres destaca ameaças aos direitos femininos, incluindo conflitos armados, o impacto das tecnologias digitais e a persistência da desigualdade salarial.

Na abertura da 68ª Sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que muitas mulheres e meninas enfrentam uma batalha crescente pelos seus direitos fundamentais, tanto em casa quanto em suas comunidades.

Para o chefe das Nações Unidas, conquistas duramente alcançadas estão sob ameaça e sofrem especialmente com duas tendências negativas: o aumento do discurso patriarcal e o impacto das tecnologias digitais, que podem perpetuar a desigualdade de gênero.

Retrocessos pelo mundo

O secretário-geral citou diversos conflitos pelo mundo em que mulheres e meninas sofrem desproporcionalmente com a violência. Além da situação em Gaza e no Sudão, Guterres lembrou que no Afeganistão, o Talibã revogou pelo menos 50 leis que garantiam diretos às mulheres.

Ele ainda citou o relatório divulgado na última semana sobre os casos de violência sexual nos atos terroristas do Hamas em Israel, em 7 de outubro do último ano. 

Ao afirmar que as mulheres devem contribuir para processos de paz, Guterres apontou que a presença feminina é inexistente nas negociações na Etiópia, no Sudão, em Mianmar e na Líbia.

Patriarcado digital

O secretário-geral avaliou que o patriarcado está atacando as liberdades das mulheres, bem como seus direitos sexuais e reprodutivos, em nome de ‘valores tradicionais’. Para ele, é inaceitável que atualmente avós temam que suas netas terão menos direitos que elas.

Com o avanço de tecnologias digitais, Guterres aponta que este mercado é feito e dominado por homens. Assim, há inúmeras evidências que o algoritmo reforça vieses perigosos.

Ele adicionou que governos, sociedade civil e centros de inovação devem se unir em um esforço maciço para eliminar a exclusão digital de gênero e garantir que as mulheres tenham funções de tomada de decisão na tecnologia digital em todos os níveis. 

Segundo Guterres, essa é uma das principais metas do Pacto Digital Global, que será fundamental para a Cúpula do Futuro em setembro. 

Pobreza é feminina

Guterres reforçou dados que apontam como as mulheres globalmente são mais vulneráveis a sofrer com a pobreza. Ele citou que elas têm menos acesso à terra, aos recursos naturais e financeiros. Além disso, sofrem mais com os impactos climáticos e com insegurança alimentar.

Ao declarar que “a pobreza tem o rosto de uma mulher”, ele destaca que, em escala global, as mulheres recebem apenas US$ 0,51 para cada dólar pago a profissionais homens. Além disso, ele lembra do valor do trabalho doméstico, que embora seja “invisível” é fundamental para economias inteiras.

Por isso, ele reforçou seu apelo para o estímulo aos ODSs de US$ 500 bilhões anuais em financiamento de longo prazo acessível para os países em desenvolvimento. A proposta inclui uma linha de vida da dívida para criar espaço para os países que enfrentam cronogramas de pagamento impossíveis. 

Acelerar a representação feminina

Destacando a importância de ter mais representatividade feminina em postos de liderança, ele alerta que mais de oito em cada dez ministros da Fazenda são homens e eles também são mais de nove em cada dez presidentes de bancos centrais.

Segundo Guterres, a atual paridade de gênero nos altos escalões das Nações Unidas foi alcançada com esforço determinado para mudar a cultura da organização e acolher as mulheres em cargos de liderança. 

Ele afirma que os esforçou trouxeram resultados: pela primeira vez na história, alcançamos a paridade total de gênero entre a alta administração e os líderes da ONU em todo o mundo. 

Segundo o secretário-geral, se as Nações Unidas podem garantir equidade de gênero, os governos e bancos também são capazes. Ele adiciona que em todo o sistema da ONU, a representação de mulheres nas categorias profissional e superior está em um nível histórico de 49,5%.

Guterres afirmou que a instituição segue buscando a paridade total de gênero em todos os níveis e em todas as entidades, priorizando as áreas em que o progresso é lento – especialmente nas missões de campo. 

+ sobre o tema

Conceição Evaristo é a entrevistada do Roda Viva da próxima segunda-feira (6)

A escritora, poetisa e ensaísta Conceição Evaristo é a entrevistada do Roda Viva...

Lei cria mecanismos para combate à violência obstétrica

Informação e proteção à gestante e parturiente contra a...

Encontro em Goiânia lembra 30 anos do movimento de mulheres negras no Brasil

As três décadas do movimento de mulheres negras no...

Marchando Junto

Eu quero fazer um convite muito especial à vocês...

para lembrar

spot_imgspot_img

A médica brasileira que lutou por negros nas universidades muito antes da Lei de Cotas

"Dizemos com muito orgulho e responsabilidade: nós somos brasileiros vivos. Não queremos mais, queremos o igual", discursou a médica Iracema de Almeida (1921-2004) na...

Me Too Brasil recebeu denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida

A organização Me Too Brasil afirmou nesta quinta-feira que o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi acusado de assédio sexual. Em nota, o...

“Minha literatura convoca todo mundo”, afirma Conceição Evaristo

Conceição Evaristo se emociona escrevendo. Chora, precisa levantar e retomar o fôlego ao fim de uma cena particularmente dolorosa. Edifica os personagens como quem...
-+=