Enfim chegamos a um ano da Coluna Negras que Movem! Uma coluna assim como nós mulheres negras, diversas, com múltiplas visões e conhecimentos, intensas, e sedentas por levar a luta de nossas ancestrais para o mundo.
Quando começamos a coluna no ano passado, um ano que desafiou a todas, todex e todos e que impôs desafios gigantescos, e aprofundou o abismo das desigualdades. Nós mulheres negras vivenciamos perdas, luto e sobrevivência. Aprendemos a nos reinventar, mais uma vez, e estamos esperançosas em um futuro (ainda incerto), mas estamos movendo, vivendo e entendendo que é tudo pra ontem!
Entendam caros leitores, que não estou aqui para nos colocar no lugar de mulheres fortes, super heroínas ou coisas do tipo. É uma constatação. Nós movemos a pirâmide que sustentamos a muitas gerações. E poucos são aqueles que estão interessados em compreender ou saber sobre nossas dores.
O cálculo e a dimensão do estrago que a pandemia do coronavirus terá em nosso futuro, visto que sabemos que somos a população mais impactada, nos traz a missão de encaminhar uma geração inteira, pois os impactos são incalculáveis. A covid-19, desnudou o que estudiosos e militantes dos Direitos Humanos vem denunciando a anos, que as desigualdades sociais e econômicas no Brasil e no mundo, estão aí, e que é preciso olhar com seriedade para a implementação de políticas públicas e enxergar que a ausência delas mata!
Políticas no campo do acesso a serviços básicos, como saneamento básico, saúde, educação, segurança, assistência social, direitos humanos, emprego e renda são fundamentais ao bem viver, sobretudo dos corpos pretos.
É doloroso, e diz muito sobre a necessidade de mudança na sociedade brasileira, que a primeira vítima de Covid-19 no Brasil tenha sido uma Mulher, Negra, Mãe, Periférica, Empregada Doméstica. A covid-19 nós mata, mas ela é só a doença. Os sintomas são anteriores à sua dissipação em escala mundial. Vivemos em uma sociedade doente, que não reconhece o seu passado como fruto do problema, e minimiza, buscando desculpas e justificativas para não se reconhecer racista. Vamos Brasil, façamos uma terapia para reconhecer nosso problema para assim seguirmos!
Enquanto isso, nós mulheres negras, continuamos movendo a pirâmide é batendo de frente todos os dias com racismo estrutural, machismo, sexismo e patriarcado que não nós dão um minuto de sossego. Ligamos a TV e entendemos que os pretensos projetos sobre a economia do país não irão nos contemplar, porque a cesta básica está cada vez mais cara e nosso dinheiro cada vez mais curto!
Buscamos em nossa ancestralidade forças para cuidar da nossa saúde mental para conseguir manter nossa participação nas lutas do dia a dia. Mesmo diante dos desafios, estamos apontando os caminhos, denunciando sim, sobrevivendo sim, nós vamos pautar, fazer e refazer os caminhos e mudar as nossas trajetórias e do nosso povo, pois estamos ampliando nossa tecnologia ancestral que carregamos no DNA.
Sim, mulheres negras, que diante de tantos desafios, com o aumento das vulnerabilidades que percebemos em nossos corpos, nós da Coluna Negras que Movem, criamos aqui um espaço potente, com representatividade, afetos e superações. Falamos nesses espaço de nossa construção, colocamos o dedo nas nossas feridas e dores; apontamos para o nosso afrofuturo, reverenciamos as nossas ancestrais e construímos um ponto de partida, que assim como nos ensina a cultura africana, será um espiral de trocas que nunca findará em si.
Aqui expresso minha gratidão à Mayara Silva, que trouxe para o nosso grupo a oportunidade de expor nossos pensamentos na coluna. E agradecer as 23 componentes do movimento Negras que movem, vocês são incríveis!
Graças ao Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, do Fundo Baobá, nós conhecemos e ampliamos nossa voz! O Brasil inteiro de potências negras reunidas em um só lugar! Somos 63 apoiadas individuais e 15 coletivos. Nossa jornada como primeira turma se aproxima do fim, mas a ponte que construímos, só faz com que nos lembremos que nada é por acaso.
E por último e não menos importante, aproveito para agradecer a parceria com o Portal Geledés, que possibilitou dar visibilidade às nossas potências.
Colunas Negras que Movem é a constatação de que somos nós por nós, nós por todas nós!
Àsé!
¹ Monalyza Alves é Carioca. Historiadora formada pela Universidade Veiga de Almeida, especialista em Políticas Públicas em Direitos Humanos pelo Instituto de Políticas Pública em Direitos Humanos do Mercosul – IPPDH. É uma liderança apoiada pelo “Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, realizado pelo Fundo Baobá e seus parceiros. Foi Diretora Executiva do Instituto MiGRA – Migração, Gênero e Raça, cujo objetivo é trabalhar a transversalidade dos Direitos Humanos, com ênfase na agenda de Migração, Gênero e Atualmente é chefe de Gabinete da Secretaria Especial de Políticas e Promoção da Mulher do Município do Rio de Janeiro.
** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.