Sobre futuros colecionáveis

Trabalho com tendências futuristas, tecnologia e inovação social. Muito prazer!

Na última terça (8/2), foi o dia da #internetsegura e gostaria de compartilhar uma reflexão com você.

Você já deve ter ouvido falar nas NFTs, certo?

Caso não, me permita guiar você em uma introdução básica.

É um cripto ativo que polarizou muito o mundo virtual, existem grupos contra e a favor da tecnologia. E para entender melhor, vamos entrar na teoria: 

De forma mais técnica: NFTs são certificados baseados em blockchain que garantem a autenticidade de uma mídia digital. NFT é uma sigla para: token não fungível, em inglês.

De forma mais acessível: é um tipo especial de token criptográfico, que representa algo único. Por ter uma unicidade, pode-se classificar como obra de coleção, provocando escassez digital. Diferente de criptomoedas, que têm um foco em serem intercambiáveis.

Algo semelhante à dinâmica de compra e venda de obras físicas de artistas famosos. Para comprar uma obra única pintada por algum artista, você possivelmente participará de um leilão, comprará a única peça disponível e se quiser pode reunir mais obras criando uma coleção única. 

Uma das polêmicas mais recentes do mundo das NFTs foi a coleção publicada no fim de janeiro na Open Sea (uma das maiores plataformas de NFT do mundo) com o título META SLAVES (Meta Escravos, em tradução livre).

As imagens da coleção foram colocadas à venda como um ativo digital apenas com fotos de pessoas negras. A primeira NFT da coleção é uma foto de George Floyd, homem preto norte-americano que foi brutalmente assassinado, vítima do racismo, por um policial em 2020, nos Estados Unidos.

Prints: BrasilNFT / Kris Antoni (Twitter)
Prints: BrasilNFT / Kris Antoni (Twitter)

No dia da publicação, outra atualização foi postada nas mídias sociais sobre a nova coleção: 

“Com este projeto, queremos mostrar a todos que nunca esqueceremos as vítimas e o sofrimento de nossos ancestrais, devemos lembrar da história para que isso não aconteça novamente.”

Vários NFTs foram postados sobre a coleção acompanhados de nomes e frases que incluíam “trabalho duro, sorriso através da dor, mergulho, dinheiro de sangue”, entre outros.

Além disso, a conta dizia que “todo mundo é escravo de alguma coisa” durante o lançamento inicial.

Posicionamentos de intelectuais brasileiras como Nina da Hora e Nina Silva foram instantâneos. Chegando a conclusão de que a coleção estava utilizando tecnologia como meio para “divulgar” a escravidão com fins lucrativos.

“Apesar da justificativa na descrição de que ‘todos são escravos de alguma coisa’, o Meta Slave colocou à venda apenas fotos com pessoas negras. A polêmica nas redes também atingiu a própria Open Sea, que permitiu que a venda destes artigos racistas acontecessem em sua plataforma”, disse Nina Silva para o canal CNN.

A Open Sea é um marketplace que oferta NFTs com termos de serviço para seus clientes. A mesma retirou a coleção do ar com a justificativa de que estava violando os termos de serviços da plataforma.

Além disso, não há regulamentação oficial no universo da tecnologia de blockchain, no Brasil e no mundo.

É cada vez mais urgente pensar o futuro com intersecções necessárias para que o universo da tecnologia se torne um ambiente acolhedor e livre de racismo. Caminhamos para uma realidade incerta, com previsões e ficções que assustam e dão esperança, ao mesmo tempo. 

Fica a reflexão, como proteger nosso futuro de ataques sombrios digitais como o Meta Slave

Como protagonistas do presente, temos o dever e direito como cidadãos digitais de construir o caminho que queremos. O que precisamos para continuar essa caminhada com embasamento, proteção e voz ativa? 

BIO:

Vitorí da Silva nasceu no interior de Santa Catarina, em 1998. Se encaixa no que muitos chamam de Geração Z. Formada em Marketing Digital com ênfase em Ciência de Dados,atualmente trabalha com projetos relacionados à inovação social, futurismo e dados. Em um mercado de trabalho líquido e cheio de transformações urgentes e não opcionais, se apresenta como: “trend forecaster”, usando o bom português: uma caçadora de tendências.

Referências bibliográficas: 

https://afrotech.com/meta-slave-nft-collection-racism-metaverse?item=1

https://www.cnnbrasil.com.br/business/nina-silva-criptoativo-que-simboliza-periodo-escravocrata-e-um-grande-retrocesso/

https://veja.abril.com.br/coluna/radar-economico/projeto-vende-nft-de-escravos-negros-e-gera-revolta/

https://brasilnft.art.br/meta-slaves-uma-colecao-racista-de-nfts/

https://twitter.com/BrasilNFT/status/1488594151658688512


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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