É impressionante como podemos ter uma memória tão frágil, tão curta ou tão enganada. Tenho andado confuso com os últimos acontecimentos, aliás, acredito que não seja o único com essa sensação de ter perdido uma parte do filme. O filme em questão falava da nossa vida, dissertava sobre a vida do povo brasileiro, esse mesmo povo que é tão hospitaleiro e cordial com os estrangeiros, mas que de repente se mostra tão arrogantemente bestial ao bradar em plenos pulmões que lugar de bandido é atrás das grades mesmo que esse “bandido” seja uma criança.
por Jordhan Lessa via Guest Post para o Portal Geledés
Não quero impor a minha opinião, afinal um país democrático é isso, permitir ideias e opiniões divergentes das suas, mas muito me preocupa ver tanta gente se deixando levar por uma cortina de fumaça ou se deixando manipular para que objetivos escusos sejam alcançados.
Cortina de fumaça? Sim, claro ou alguém acha mesmo que esse é o assunto mais importante a ser tratado nesse momento crítico que estamos atravessando?
Manipulados? Exatamente como sempre, se não vejamos:
Por que não vejo a mesma mobilização e insatisfação quando se sabe comprovadamente que nossas escolas e nossos professores estão abandonados, uns evadindo-se e jogando fora seus futuros, outros adoecendo em sala de aula por não ter apoio de ninguém para ensinar o básico, apoio esse que em outros tempos era dado especialmente pela família (seja ela qual for) que se fazia presente e cuidava da educação de seus bebês, deixando para a escola a parte que realmente lhe é pertinente: O Ensino.
Não bastasse esse distanciamento da realidade, algumas pessoas parecem também esquecer que hoje temos jovens envolvidos e sendo usados pela marginalidade, por que simplesmente há muitos anos nós fechamos os olhos para uma parcela da população que cresceu sofrendo do aniquilamento de seus direitos, de seus benefícios e de sua existência.
Durante décadas, nós todos, fomos encurralando seres humanos e empurrando-os para a pobreza e o desemparo.
Como um bicho acuado essas pessoas começaram a resistir, a se organizar, a se fortalecer ainda que de maneira errada, mas era só o que tinham para sobreviver e passaram a nos atacar depois de se atacarem primeiro. Passaram a saquear para usufruírem de tudo aquilo que lhes foi negado. Conheceram as drogas que dá a eles um poder sobrenatural que é capaz de matar homem, mulher, velho e criança sem a menor sombra de arrependimento.
E nessa escalada mórbida tiveram seus filhos e seus filhos seus netos, como não conheciam outra realidade deram continuidade aos atos mais insanos como se tudo fosse muito normal. E é, pois quando não se aprende a viver, quando lhe roubam esse direito todo o resto parece surreal demais para ser possível.
Cometemos erros no passado e tentamos fingir que essas gentes não existiam, tentamos confiná-los em seus cárceres, mas eles se reproduziram e agora eu lhes pergunto: Até quando continuaremos cometendo os mesmos erros e condenando cada vez mais pessoas ao exílio social?
Por que não fazemos o mesmo barulho para exigir que escolas com professores de qualidade funcionem de maneira exemplar e em suas salas de aula sejam confinados esses mesmos “di menor” que estamos tentando fingir que não existem?
Jordhan Lessa
1º Guarda Municipal Transexual – RJ