Há um mundo de literatura negra e feminismo negro a ser desbravado, de poesia e ficção, passando por livros para jovens adultos e autora vencedora do Nobel
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Imagem retirada da Revista OGrito
Em março de 2015, quando publiquei aqui a lista “55 obras imperdíveis de autoras incríveis”, inspirada pelos projetos #ReadWomen, de Joanna Walsh, e o #KDMulheres, promovido pela Casa de Lua, a discussão sobre maior visibilidade de obras escritas por mulheres ainda estava no início. Várias daquelas obras e autoras essenciais, como Margaret Atwood e seu O Conto da Aia, por exemplo, ainda eram pouco conhecidas do grande público, fazendo com que a lista se tornasse um sucesso de público.
De lá pra cá, muita coisa mudou para melhor: clubes dedicados à leitura de escritoras se espalharam pelo país, autoras ganharam mais visibilidade na mídia, nos eventos e nas premiações e diversas iniciativas dedicadas a promover os livros escritos por mulheres surgiram nas redes sociais, de maneira que se a questão ainda não está resolvida, pelo menos há uma resistência muito menor a ela. Há mais mulheres sendo publicadas, lidas e premiadas e hoje não me causaria espanto se alguém dissesse que já leu todos os livros da lista mencionada acima.
Porém, se é verdade que mais mulheres estão sendo lidas, também é verdade que a maioria dessas mulheres são brancas. A literatura negra, assim como a de origem asiática e indígena, ainda é vista como um nicho, e mesmo que algumas exceções estejam conseguindo furar a bolha, o saldo é insuficiente. Muitas autoras e autores negros não encontram espaço em grandes editoras ou, quando conseguem, têm poucas obras traduzidas e publicadas. Enquanto eu pesquisava algumas obras para um desafio literário que estou promovendo no Instagram, dedicado à leitura de mulheres negras, percebi uma escassez de títulos de determinados gêneros como biografias, memórias, ficção científica, literatura erótica, literatura LGBTQ+, feminismo negro. Os títulos existem, mas são poucos e difíceis de encontrar ou estão esgotados há muito tempo.
Por isso, proponho uma lista com 30 livros para ler mais autoras negras em 2019. Tem para todos os gostos: dos livros para jovens adultos à autora vencedora do prêmio Nobel, passeando por gêneros que vão da poesia à ficção literária, passando pelas memórias e ciências humanas.
Felizmente, vários desses livros foram lançados ou relançados no ano passado, o que indica que o mercado editorial, aos poucos, está mudando. Procurei priorizar títulos essenciais e fáceis de encontrar: a partir daí, há um mundo de literatura negra e feminismo negro a ser desbravado pelas leitores e leitores. Os textos utilizados nesta lista são extraídos dos releases divulgados pelas editoras, com alguma edição. Confira:
Úrsula, Maria Firmina dos Reis
Capa do livro (Divulgação)
Lançado em 1859, é considerado o primeiro romance publicado por uma mulher no Brasil. É também o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, e também, o primeiro romance da literatura afro-brasileira. A história de amor ultrarromântico entre Úrsula e Tancredo tem como pano de fundo a temática do negro a partir de uma perspectiva comprometida em recuperar e narrar a condição do ser negro em nosso país. A edição lançada em 2018 pela Edições Câmara inclui o romance Úrsula, o conto abolicionista A escrava, o indianista Gupeva e a antologia de poesias Cantos à beira-mar, reunidos pela sua inequívoca qualidade literária. A edição digital pode ser baixada gratuitamente no site da Livraria da Câmara. Edições Câmara
Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, Maya Angelou
Capa do livro (Divulgação)
A vida de Marguerite Ann Johnson, uma das mais importantes autoras norte-americanas, foi marcada por por racismo, abusos e libertação. A garota negra, criada no sul por sua avó paterna, carregou consigo um enorme fardo que foi aliviado apenas pela literatura e por tudo aquilo que ela pôde lhe trazer: conforto através das palavras.
Dessa forma, Maya, como era carinhosamente chamada, escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. As lembranças dolorosas e as descobertas de Angelou estão contidas e eternizadas nas páginas desta obra densa e necessária, dando voz aos jovens que um dia foram, assim como ela, fadados a uma vida dura e cheia de preconceitos. Com uma escrita poética e poderosa, a obra toca, emociona e transforma profundamente o espírito e o pensamento de quem a lê. Tradução de Regiane Winarski/Astral Cultural
Escritos de uma vida, Sueli Carneiro
Capa do livro (Divulgação)
Com prefácio de Conceição Evaristo e apresentação de Djamila Ribeiro, Escritos de uma vida reúne uma série de artigos publicados pela filósofa, ativista e fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra Sueli Carneiro ao longo de sua vida. Seus textos abordam temáticas imprescindíveis para refletir sobre a sociedade e moldar o pensamento. Diz Djamila Ribeiro: “Sueli nos brinda com uma coletânea de artigos publicados ao longo da vida e que refletem sobre a necessidade de se pensar novos marcos civilizatórios. O pensamento feminista negro potente de Sueli Carneiro é fundamental e atual para o debate racial e de gênero e construção de um modelo alternativo de sociedade.” Grupo Editorial Letramento
Kindred – Laços de Sangue, Octavia E. Butler
Capa do livro (Divulgação)
Com mais de meio milhão de cópias vendidas em todo o mundo, Kindred é um romance publicado pela primeira vez em 1979 que incorpora viagens no tempo e é modelado em narrativas escravas.
Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça. Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida… até acontecer de novo. E de novo.
Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado. Tradução de Carolina Caires Coelho/ Editora Morro Branco
Olhos d’Água, Conceição Evaristo
Capa do livro (Divulgação)
Conceição Evaristo, uma das escritoras brasileiras mais importantes, cujo reconhecimento fez com que o público iniciasse uma campanha pedindo para que a autora fosse aceita na Academia Brasileira de Letras, recebeu o prêmio Jabuti por Olhos d’água e chegou a declarar que alguns autores brasileiros só passaram a falar com ela após essa premiação. “Foi preciso o prêmio Jabuti para comprovar que essa mulher negra não está neste espaço literário por intromissão. É porque ela escreve mesmo”.
Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira. Editora Pallas
Amada, Toni Morrison
Capa do livro (Divulgação)
Reeditado em 2018, Amada é um dos livros mais aclamados da escritora norte-americana Toni Morrison, a primeira mulher negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura. O livro ganhou o Pulitzer de 1988 e em 2006 foi eleito pelo New York Times a obra de ficção mais importante dos últimos 25 anos nos Estados Unidos. Em 1998 recebeu uma adaptação cinematográfica, com Oprah Winfrey no papel principal.
A história se passa nos anos posteriores ao fim da Guerra Civil, quando a escravidão havia sido abolida nos Estados Unidos. Sethe é uma ex-escrava que, após fugir com os filhos da fazenda em que era mantida cativa, foi refugiar-se na casa da sogra em Cincinnati. No caminho, ela dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história. Amada tem uma estrutura sinuosa, não-linear: viaja do presente ao passado, alterna pontos de vista, sonda cada uma das facetas que compõem esta história sombria e complexa. Considerado um clássico contemporâneo, faz um retrato a um tempo lírico e cruel da condição do negro no fim do século XIX nos Estados Unidos. Tradução de José Rubens Fonseca/Companhia das Letras
Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves
Capa do livro (Divulgação)
Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens, Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, é um belo romance histórico, de leitura voraz, que prende a atenção do leitor da primeira à última página. Uma saga brasileira que poderia ser comparada ao clássico norte-americano sobre a escravidão, Raízes. Editora Record
As alegrias da maternidade, Buchi Emecheta
Capa do livro (Divulgação)
Mais importante livro da autora nigeriana Buchi Emecheta, uma das principais influências de sua conterrânea Chimamanda Ngozi Adichie, conta a história de Nnu Ego, filha de um grande líder africano, que é enviada como esposa para um homem na capital da Nigéria.
Determinada a realizar o sonho de ser mãe e, assim, tornar-se uma “mulher completa”, submete-se a condições de vida precárias e enfrenta praticamente sozinha a tarefa de educar e sustentar os filhos. Entre a lavoura e a cidade, entre as tradições dos igbos e a influência dos colonizadores, ela luta pela integridade da família e pela manutenção dos valores de seu povo. Tradução de Heloisa Jahn/Editora Dublinense
Hibisco Roxo, Chimamanda Ngozi Adichie
Capa do livro (Divulgação)
Chimamanda dispensa apresentações. A autora ganhou projeção mundial após um trecho do seu TED Talk “Todos devemos ser feministas” ser incluído na música Flawless, de Beyoncé. A palestra ganhou uma versão em livro, Sejamos todos feministas (cuja edição digital é distribuída gratuitamente pela editora Companhia das Letras), e se tornou uma das principais portas de entrada para o feminismo. Seu livro de estreia, Hibisco Roxo, é um dos mais queridos pelos fãs.
Em Hibisco roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance que mistura autobiografia e ficção, também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, traçando de forma sensível e surpreendente, um panorama social, político e religioso, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente. Tradução de Julia Romeu/Companhia das Letras
Adua, Igiaba Scego
Capa do livro (Divulgação)
“Contas as histórias que tens, da melhor forma que podes” é a frase que a personagem-título lê aleatoriamente em um livro exposto em um supermercado de Roma. Neste romance de grande apelo sensorial, a escritora Igiaba Scego, filha da diáspora somali gerada pelo colonialismo fascista na África oriental, ampliou este “conselho” em vários níveis.
Adua, cujo nome é uma homenagem à primeira vitória africana contra o imperialismo europeu, é uma das várias moças somalis que sonham com o mundo de glamour das estrelas de cinema. Para realizar seu ingênuo sonho de se tornar uma atriz, Adua acaba procurando os italianos que fazem todo o tipo de tráfico nos anos 1970 em sua cidade natal, Magalo.
Em diversos planos narrativos, tanto espaciais quanto temporais, a infâmia a que Adua é submetida é entremeada com a história de seu pai, um intérprete multilíngue que foi trabalhar ainda muito jovem para os militares fascistas na Roma da década de 1930. A relação com a figura ausente e opressiva do pai é um dos eixos principais deste livro que expõe, de maneira mordaz e autoirônica, dores terríveis como a da mutilação genital das mulheres somalis. Tradução de Francesca Cricelli
Quando me descobri negra, Bianca Santana
Capa do livro (Divulgação)
Nas palavras de Djamila Ribeiro: ”Quando me descobri negrafala com sutileza e firmeza de um processo de descoberta inicialmente doloroso e depois libertador.
Bianca Santana, através da experiência de si, consegue desvelar um processo contínuo de rompimento de imposições sobre a negritude, de desconstrução de muros colocados à força que impedem um olhar positivo sobre si.
Caminhos que aos poucos revelam novas camadas, de um ser ressignificado. Considero este livro um presente, é algo para se ter sempre às mãos e ir sendo revisitado. Bianca, ao falar de si, fala de nós.” Editora SESI-SP
A mulher de pé descalços, Scholastique Mukasonga
Capa do livro (Divulgação)
Premiado romance da autora africana Scholastique Mukasonga, A mulher de pés descalços foi escrito em memória de Stefania, a mãe da escritora, assassinada pelos hutus, durante a guerra civil de Ruanda.
Às lembranças de um paraíso perdido, onde Stefania era uma senhora alegre e casamenteira, que dava conselhos às moças em torno do amor e da vida matrimonial, se mesclam imagens terríveis, como o medo constante e busca de esconderijos seguros para salvar seus filhos do extermínio.
Nas palavras da autora: “O genocídio de Ruanda fez de mim uma escritora. Em 2004,quando tive coragem de ir à minha cidade-natal tomei consciência do meu compromisso com a memória, porque eu podia escrever.” Tradução de Marília Garcia/Editora Nós
Fome — Uma autobiografia do (meu) corpo, Roxane Gay
Capa do livro (Divulgação)
Nesta autobiografia escrita com sinceridade impressionante, a autora best-seller Roxane Gay fala sobre como, após sofrer um abuso sexual aos doze anos, passou a utilizar seu próprio corpo como um esconderijo contra os seus piores medos. Ao comer compulsivamente para afastar os olhares alheios, por anos Roxane guardou sua história apenas para si. Até conceber este livro.
Esta não é uma narrativa bem-sucedida de perda de peso. E este também não é um livro que Roxane gostaria de escrever. Entretanto, é uma história que precisa ser contada, e ela o faz com seu estilo contundente e impetuoso, ainda que dotado de um humor mordaz, características que a tornaram uma das vozes mais marcantes de sua geração. “Fome” é um relato ousado, doloroso e arrebatador. Tradução de Alice Klesck/Globo Livros
Sangue Negro, Noémia de Sousa
Capa do livro (Divulgação)
Noémia de Sousa, conhecida como “Mãe dos poetas moçambicanos”, é autora de densa obra poética, que representa a resistência da mulher africana. Seu único livro, Sangue negro, é composto por 46 poemas, escritos entre 1948 e 1951.
A edição da Editora Kapulana mantém a estrutura original das edições moçambicanas e conta com ilustrações de Mariana Fujisawa, prefácio da Profa. Dra. Carmen Tindó, estudos de Fátima Mendonça, Francisco Noa e Nelson Saúte, além de depoimentos de amigos, companheiros, leitores apaixonados pela obra de Noémia de Sousa. Editora Kapulana
O alegre canto da perdiz, Paulina Chiziane
Capa do livro (Divulgação)
Paulina Chiziane foi a primeira mulher moçambicana a escrever um romance, embora rejeite o rótulo de romancista: “Eu afirmo: sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte”.
Em O alegre canto da perdiz ela conta a história de Delfina, “uma negra daquelas que os brancos gostam”. A história de vida desta Delfina é a história da mulher africana, a história da apocalíptica perda do sonho. Esta mulher debate-se entre “escolher o caminho do sofrimento”, o amor que sente por José dos Montes, e “eliminar a sua raça para ganhar a liberdade”, procurando o homem branco que lhe dará o alimento e o conforto que deseja. Mas o que é o amor para a mulher negra? Na terra onde as mulheres se casam por encomenda na adolescência? O problema arrasta-se ao longo do livro, aparentemente sem solução. O sufoco das palavras outrora silenciadas, a valentia e a frontalidade gritam alto nos romances de Paulina Chiziane. Neste diálogo consigo própria, a conhecida escritora moçambicana, mistura imaginação, fantástico, misticismo, num retrato poderoso e peculiar da sociedade e da mulher africanas. Editora Dublinense
Tudo nela brilha e queima: poemas de luta e amor, Ryane Leão
Capa do livro (Divulgação)
Estreia em livro de Ryane Leão, criadora da página onde jazz meu coração, com mais de 150 mil seguidores nas redes. Diz a autora: “A poesia é minha chance de ser eu mesma diante de um mundo que tanto me silencia. é minha vez de ser crua. minha arma de combate. nossa voz ecoada. nossa dor transformada. nela eu falo sobre amor, desapego, rotina, as cidades que nos atravessam, os socos no estômago que a vida dá, o coração desenfreado, a pulsação que guia as estradas, os recomeços, os dias, as noites, as madrugadas, os fins, os jeitos que a gente dá, as transições, os discos, os tropeços, as partidas, as contrapartidas, os pés firmes que insistem em voar, e tudo isso que é maluco e lindo e nos faz ser quem somos”. Os breves versos de Leão irão agradar os admiradores de Rupi Kaur. Editora Planeta
O ódio que você semeia, Angie Thomas
Capa do livro (Divulgação)
Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro necessário em tempos tão cruéis e extremos. Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. O livro ganhou adaptação cinematográfica em 2018.
Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial: Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas, Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Tradução de Regiane Winarski/Galera Record
Filhos de sangue e osso: O legado de Orïsha, Tomy Adeiemi
Capa do livro (Divulgação)
Filhos de Sangue e Osso é o primeiro livro da trilogia de fantasia baseada na cultura iorubá. No romance, Zélie Adebola se lembra de quando o solo de Orïsha vibrava com a magia. Queimadores geravam chamas. Mareadores formavam ondas, e a mãe de Zélie, ceifadora, invocava almas. Mas tudo mudou quando a magia desapareceu. Por ordens de um rei cruel, os maji viraram alvo e foram mortos, deixando Zélie sem a mãe e as pessoas sem esperança. Agora Zélie tem uma chance de trazer a magia de volta e atacar a monarquia. Com a ajuda de uma princesa fugitiva, Zélie deve despistar e se livrar do príncipe, que está determinado a erradicar a magia de uma vez por todas.
O perigo espreita em Orïsha, onde leopanários-das-neves rondam e espíritos vingativos aguardam nas águas. Apesar disso, a maior ameaça para Zélie pode ser ela mesma, enquanto se esforça para controlar seus poderes — e seu coração. O Legado de Orïsha e está sendo adaptado para o cinema. Tradução de Petê Rissatti/Fantástica Rocco
A quinta estação, N. K. Jemisin
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N. K. Jemisin foi a primeira pessoa negra a receber um Hugo Awards com o livro A quinta estação, início de uma trilogia intitulada como A Terra Partida. Não parou por aí: os outros dois livros da trilogia fizeram Jeminsin entrar para a história como a primeira mulher negra a receber três Hugo Awards seguidos na mesma categoria.
É assim que o mundo termina. Pela última vez. Três coisas terríveis acontecem em um único dia: Essun volta para casa e descobre que seu marido assassinou brutalmente o próprio filho e sequestrou sua filha. Sanze, o poderoso império cujas inovações têm sido o fundamento da civilização por mais de mil anos, colapsa frente à destruição de sua maior cidade pelas mãos de um homem louco e vingativo. E, no coração do único continente, uma grande fenda vermelha foi aberta e expele cinzas capazes de escurecer o céu e apagar o sol por anos. Ou séculos. Mas esta é a Quietude, lugar há muito acostumado à catástrofe, onde os orogenes – aqueles que empunham o poder da terra como uma arma – são mais temidos do que a longa e fria noite. E onde não há compaixão. Tradução de Aline Storto Pereira/Editora Morro Branco
O ano em que disse sim, Shonda Rhimes
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Você nunca diz sim para nada. Foram essas seis palavras, ditas pela irmã de Shonda Rhimes — uma das mulheres mais poderosas da televisão norte-americana, criadora das séries Grey’s Anatomy e Scandal –, durante uma ceia de Ação de Graças, que levaram a autora a repensar a maneira como estava levando sua vida. Apesar da timidez e introversão, Shonda decidiu encarar o desafio de passar um ano dizendo “sim” para as oportunidades que surgiam. Os “sins” iam desde cuidar melhor de sua saúde até aceitar convites para participar de talk shows e discursos em público. Além disso, Shonda deu um difícil passo: dizer sim ao amor próprio e ao seu empoderamento. Em O Ano em que disse sim, Shonda Rhimes relata, com muito bom humor, os detalhes sobre sua vida pessoal, profissional e como mergulhar de cabeça no “Ano do Sim” transformou ambas. Tradução de Mariana Kohnert/Editora Best Seller
Esse cabelo, Djaimilia Pereira de Almeida
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Além de contar a inusitada história de um cabelo crespo, este livro fala também de racismo, feminismo e identidade. Um romance surpreendente que mistura memória, imaginação e crítica social com humor e leveza na medida certa, mas que também discute temas atuais e fundamentais como racismo, feminismo, identidade e pertencimento. Esta é a história de uma menina que chegou em Lisboa, Portugal, aos três anos de idade, saída de Luanda, em Angola, e das suas memórias ao longo do tempo. Sua autora, Djaimilia Pereira de Almeida, está despontando como uma promessa da literatura contemporânea portuguesa. Editora Leya
Enterre seus mortos, Ana Paula Maia
Capa do livro (Divulgação)
Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2018, o mais recente romance de Ana Paula Maia é uma mistura de novela policial, faroeste de horror e romance filosófico.
Sinopse: Habituados a conviver com a brutalidade, Edgar e Tomás não se abalam diante da morte, mas conhecem a fronteira, pela qual transitam diariamente, entre o bem e o mal, o homem e o animal. Enquanto Tomás se empenha em salvar a alma, Edgar se preocupa com a carcaça daqueles que cruzam seu caminho. Por isso, os dois decidem dar um fim digno àqueles infelizes cadáveres.
Em sua tentativa de devolvê-los ao curso da normalidade, palavra fugidia no universo que Ana Paula Maia constrói magistralmente, os dois removedores de animais mortos conhecerão o insalubre destino de seus semelhantes. Com uma linguagem seca, que mimetiza as estradas pelas quais o romance se desenrola, a autora faz brotar questões existenciais de difícil resolução. O resultado é uma inusitada mescla de romance filosófico e faroeste que revela o poderoso projeto literário de Maia. Companhia das Letras
A cor púrpura, Alice Walker
Capa do livro (Divulgação)
Vencedor do Prêmio Pulitzer em 1983 e inspiração para a obra-prima cinematográfica homônima dirigida por Steven Spielberg, o romance A cor púrpura retrata a dura vida de Celie, uma mulher negra no sul dos Estados Unidos da primeira metade do século XX. Pobre e praticamente analfabeta, Celie foi abusada, física e psicologicamente, desde a infância pelo padrasto e depois pelo marido. Um universo delicado, no entanto, é construído a partir das cartas que Celie escreve e das experiências de amizade e amor, sobretudo com a inesquecível Shug Avery. Apesar da dramaticidade de seu enredo, A cor púrpura se mostra muito atual e nos faz refletir sobre as relações de amor, ódio e poder, em uma sociedade ainda marcada pelas desigualdades de gêneros, etnias e classes sociais. Tradução de Betúlia Machado, Maria José Silveira, Peg Bodelson /José Olympio
Diário de Bitita, Carolina Maria de Jesus
Capa do livro (Divulgação)
Diário de Bitita, publicado após a morte da autora, resgata a força literária da produção de Carolina Maria de Jesus. Trata-se de memórias da infância e da adolescência, em Sacramento e nas fazendas onde trabalha como colona, bem como de seus primeiros tempos em Franca. Nesta obra, os temas da injustiça social, da opressão, do preconceito contra os negros, dos abusos dos poderosos são apresentados a partir da perspectiva daquela que os viveu. Apesar de suas condições materiais, Carolina Maria de Jesus lutou para conquistar dignidade e para se constituir como alguém que resiste à exploração e à desumanização. A obra testemunha a história dessa luta e da opressão a que estão confinados os pobres no Brasil das primeiras cinco décadas do século XX. Editora SESI-SP
Chica da Silva: Romance de uma vida, Joyce Ribeiro
Capa do livro (Divulgação)
São muitos os motivos que tornam Chica da Silva, mulher distante de estereótipos, tão relevante até os dias de hoje. Sem nenhum talento para queixar-se ou chorar pelos cantos, fosse qual fosse a dificuldade, ela seguia em frente, altiva. Não se deixava derrubar nem demonstrava sofrimento, por mais que se sentisse massacrada ou esmagada por dentro. Sua missão foi sempre viver da melhor forma, de cabeça erguida, enfrentando o que fosse necessário, e principalmente acreditando em si mesma. Era toda feita de autoestima. Viver à luz de exemplos como o de Chica da Silva é a nossa missão. Lutar pelo amor, pelo respeito, pelo direito de sonhar. Lutar contra a servidão e o comodismo. Lutar pelo direito ao amor, em todas as suas nuances. Com a coragem capaz de inspirar homens e mulheres do século XXI. Editora Planeta
Jinga de Angola: A rainha guerreira da África, Linda M. Heywood
Capa do livro (Divulgação)
Mulher livre, corajosa e orgulhosa que soube defender ardentemente sua posição e africanidade. A “Cleópatra da África Central” teve petulância o suficiente para enfrentar as impiedosas lutas de poder dominadas pelos homens de seu tempo. Poderosa e destemida, a rainha Jinga não recuou um centímetro para tentar preservar seu território dos colonizadores portugueses na África. No século XVII, essa figura, cuja inteligência tinha o mesmo grau de sua ferocidade, desafiou todas as limitações impostas ao seu gênero. Este livro certamente abala as narrativas hegemônicas sobre a história da África. No auge de seu reinado, na década de 1640, Jinga governava quase um quarto do norte de Angola nos dias de hoje. Perto do fim de sua vida, cansada da guerra, fez as pazes com Portugal e se converteu ao cristianismo – embora sua devoção à nova fé fosse questionada. Em um mundo onde as mulheres eram subjugadas pelos homens, Jinga reiteradamente superava seus competidores do sexo masculino e desrespeitava as normas estabelecidas, arrebanhando inclusive um sem-número de amantes de ambos os sexos. Hoje ela é reverenciada em Angola como heroína nacional e homenageada nas religiões populares. Seu complexo legado forma parte crucial da memória coletiva do mundo afro-atlântico. Tradução de Pedro Maia Soares/Editora Todavia
Mulheres, raça e classe, Angela Davis
Capa do livro (Divulgação)
Mais importante obra de Angela Davis, Mulheres, raça e classetraça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista, passando pelos dilemas contemporâneos da mulher. O livro é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe. Publicado em 1981, logo se converteu em referência obrigatória para se pensar a dinâmica da exclusão capitalista, tomando como nexo prioritário o racismo e o sexismo. Ordena-se sobre um arco de temas inescapável para compreendermos o modo de funcionamento das sociedades marcadas pela tragédia da escravidão moderna (o papel da mulher negra no trabalho escravo; classe e raça na campanha pelos direitos civis das mulheres; racismo no movimento sufragista; educação e libertação na perspectiva das mulheres negras; sufrágio feminino na virada do século; estupro e racismo; controle de natalidade e direitos reprodutivos; obsolescência das tarefas domésticas). Tradução de Heci Regina Candiani/Editora Boitempo
O feminismo é para todo mundo, bell hooks
Capa do livro (Divulgação)
Eleita uma das principais intelectuais norte-americanas, a aclamada feminista negra bell hooks nos apresenta, nesta acessível cartilha, a natureza do feminismo e seu compromisso contra sexismo, exploração sexista e qualquer forma de opressão. O livro apresenta uma visão original sobre políticas feministas, direitos reprodutivos, beleza, luta de classes feminista, feminismo global, trabalho, raça e gênero e o fim da violência. Além disso, esclarece sobre temas como educação feminista para uma consciência crítica, masculinidade feminista, maternagem e paternagem feministas, casamento e companheirismo libertadores, política sexual feminista, lesbianidade e feminismo, amor feminista, espiritualidade feminista e o feminismo visionário. Tradução de Ana Luiza Libânio/Rosa dos Tempos
Quem tem medo do feminismo negro?, Djamila Ribeiro
Capa do livro (Divulgação)
Quem tem medo do feminismo negro? reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de “silenciamento”, processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação. Foi apenas no final da adolescência, ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, que Djamila entrou em contato com autoras que a fizeram ter orgulho de suas raízes e não mais querer se manter invisível. Muitos textos reagem a situações do cotidiano — o aumento da intolerância às religiões de matriz africana; os ataques a celebridades como Maju ou Serena Williams – a partir das quais Djamila destrincha conceitos como empoderamento feminino ou interseccionalidade. Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir. Companhia das Letras
Dororidade, Vilma Piedade
Capa do livro (Divulgação)
Não é só Sororidade, é Dororidade, diz-nos Vilma Piedade. Aqui, ela luta com palavras: o que é, afinal, Dororidade? O que este conceito aprofunda no diálogo feminista? Vilma Piedade desenvolve, com sua força, com sua militância e com seu estilo autêntico, legítimo Pretoguês, um conceito que nasceu de sua intuição e se espalhou amplamente, tornando-se necessário. Será possível construir o Feminismo Interseccional Inclusivo? Não sem todos os tons de Pretas. Não sem compreender o que é Dororidade.Editora Nós