Tássia Reis: “Somos fortes para lutar e temos uma voz que vai ser ouvida, queremos melhorias, queremos sair do campo das ideias e partir para o ‘front”

O Portal Geledés conversou com a cantora Tassia Reis durante a 14° edição da Feira Preta, que aconteceu no ultimo domingo (13), em São Paulo. Tássia foi uma das atrações do evento  e na entrevista falou sobre afroempreendedorismo, mulher negra e projetos para 2016 .

Por Natália Sena, do Portal Geledés

A rapper tem voz de veludo e se destacou com o primeiro EP, lançado em 2014 de forma independente. Neste trabalho Tássia mistura rap, jazz , samba  e o resultado disso são musicas de alta qualidade. Além de sua atuação artística, a cantora se posiciona em relação ao feminismo negro e ao movimento negro. Ficou curioso para saber um pouco mais sobre a Tássia? Então confira essa entrevista

 Portal Geledés –  Em diversas entrevistas você pauta o machismo no mundo do rap,. Desde quando você começou, notou alguma diferença na presença das mulheres no rap? 

Tássia Reis:  A diferença é  que nós mulheres conseguimos entender de uma outra maneira agora, eu mesma já  consigo enxergar o machismo no rap e no mundo como um fato e algo que precisamos desconstruir. O que acontece nas entrevistas é que sempre perguntam as mesmas coisas, e então acabamos caindo nos mesmos assuntos. Isso é uma realidade no mundo, não só no rap e hip hop, na mídia  e em muitos outros lugares. Poucos rapazes tem se mobilizado a ouvir o que temos a dizer sobre machismo, mais ao mesmo tempo muito mais mulheres tem conseguido dizer, então acho que isso  é uma grande vitória no sentido de que conseguimos pautar estas questões e ter espaço em alguns lugares para falar sobre isso, e criar uma provocação para poder chegar em uma convicção. 

 

PG: O que falta para a mulher negra na nossa sociedade?

Tássia Reis: Respeito e oportunidade como disse Viola Davis. Não temos as mesmas oportunidades que as outras pessoas tem, nem que o homem branco, nem que a mulher branca e nem que o homem negro. Estamos no limo da sociedade tentando galgar um espaço e quando conseguimos é porque tivemos que ser trezentas vezes melhor, e isso é muito desgastante  e criminoso. Sem contar que o corpo da mulher em geral é sexualizado, ele é  brutalmente sexualizado; somos exterminadas de diferentes formas, e também pelo estado, pela saúde pública que não nos atende pois acha que o nosso corpo é mais forte que o das outras mulheres, então vemos vários tipos de crimes. A situação é crítica, porém eu ainda sou esperançosa porque somos fortes  para lutar e temos uma voz que  vai ser ouvida, queremos melhorias, queremos sair do campo das ideias  e partir para o ‘front’

 

PG – Recentemente o cantor Liniker Barros declarou você como uma de suas referencias musicais. Como você se sente sendo referencia não só para ele mais para essa nova geração de músicos, cantoras e jovens negros?

Tássia Reis : É uma coisa incrível! O o Linilker é um artista maravilhoso e completo e eu acho uma honra ser espelho para esses artistas e jovens também, porque representatividade importa. É muito louco eu ser uma referencia e ao mesmo tempo ele ser uma referencia para mim, estão essa contemporaneidade nos promove uma grande troca. E  só penso em fazer meu trabalho da melhor maneira possível  para que eu, para que ele, e para que tantos outros artistas  e pessoas possam nos ver através de uma classe artística que tem crescido. Através disso podemos conseguir galgar muitos lugares, não só no campo artístico, mas no poder, por isso vamos para as cabeças , vamos para o judiciário, vamos ser presidente , enfim, queremos grandes coisas.  

 

PG – O tema da Feira Preta deste ano é o amadurecimento do afroempreendedorismo. Você se considera uma afroempreendedora?

Tássia Reis: Considero sim, porque eu tive que usar meu trabalho para viver dele, e através  disso desenvolvi junto com outras pessoas mecanismos de aprendizado para poder fazer uma produção artística, cultural e executiva que tem funcionado., Assim, apanhamos muito, mais do que ganhamos, não temos curso de produção cultural, o nosso curso é a vivencia, então a gente vem desenvolvendo e tentando errar menos , para poder chegar com um produto melhor, com uma imagem de qualidade,  para que as pessoas consigam ouvir um bom som, chegar no show e ser bem atendido. Oferecemos pelo menos o básico, e estamos pensando um pouco maior para aumentar este fluxo porque hoje eu não sou só a Tássia Reis , a Tássia Reis conta com muitas pessoas, são DJs, back vocals, uma produção com quatro pessoas que se articulam em produção artistica, executiva  e musical. E a cada dia que passa mais pessoas estão trabalhando nesta equipe, o que aumenta ainda mais nossa responsabilidade. São pessoas que estão entrando neste fluxo e precisam ser remuneradas de uma forma ou de outra . então eu me considero sim uma afroemprendedora, só que iniciante (risos), estamos ai no começo e tenho planos gigantes .

 

PG –  O que seu publico pode esperar para 2016?

Tassia Reis: 2016 vai ser muito lacre! Estamos planejando um disco novo, mais ainda não posso dar detalhes. Mas ele vai amarrar tudo isso que temos feito e dito, então vai falar muito de nós mesmas, vai ser de nós para nós. Ainda não posso liberar o nome , mas tem a ver com a gente , com identidade e muitas outras coisas que virão amarradas nele.,

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