O Brasil esteve aqui

Posso não saber muitas coisas, mas sei que angolanos valorizam visitas como a de um chefe de Estado

Eu entendo de diplomacias tanto quanto entendo de dirigir um carro: sei as bases, mas não me meto a explicar ou fazê-lo. Nunca fiz aula de direção, assim como não estudei Relações Internacionais, mas acho lindo quem sabe bem as duas coisas.

Posso não saber os “paranauês” todos, mas sei da importância de um presidente visitar outro presidente, assim como sei como entrar na casa de alguém. Depois de 12 anos sem uma visita, o Brasil esteve aqui. Posso não saber muitas coisas, mas sei que os angolanos valorizam visitas, mais ainda visitas ilustres, como a de um chefe de Estado.

Tem uma coisa que eu sei: o quanto é emocionante quando você sai da casa dos seus pais e eles vão te visitar na sua casa nova. Você tenta ter tudo lindo, a casa limpa e organizada para mostrar o quanto você é agradecido por ter aprendido tudo tão bem com eles e agora poder se virar sozinho.

Em Angola, somos mais de 30 mil brasileiros que saíram de casa e estamos aqui organizando nossa vida. A maioria de nós está em Luanda, Cabinda e Benguela. Parece até profecia daquela música do Jorge Ben.

Aqui a gente é amado, cuidado, bem pago (na maioria das vezes), bem alimentado, querido. A gente é estrangeiro, mas é um estrangeiro diferente, como um primo distante que você quase nunca vê, mas que, quando chega na sua casa, tem a liberdade de abrir a geladeira.

Grandes poderes requerem grandes responsabilidades.

Eu inclusive nunca vi o presidente angolano, João Lourenço, sorrir tanto quanto nos dias da visita do Lula. É mesmo como receber um parente querido… Até porque temos a fama de sermos bem dispostos, falantes, piadistas, sorridentes.

O storytelling oficial falava de retorno à casa. A gente sabe bem que não existiria o Brasil, pelo menos não dessa forma, se não existisse Angola. Para além do mesmo colono, o que nos une são os mesmo laços de sangue, que passa por estômago, pulmão, coração e pele.

Lula trouxe a primeira-dama, mais de 150 empresários, uma comitiva de dezenas de deputados e seis ministros. Assinou acordos de cooperação nos setores da agricultura, educação e saúde, ao todo foram 25 ações anunciadas, incluindo a primeira fábrica de medicamentos de Angola.

Falou de retorno, de beleza, de grandezas, de possibilidades que vão até onde vai o nosso sonho. Mas sonho é feito nuvem, difícil de engarrafar e vender. Então aqui, do alto de um quinto andar na Maianga, e com toda a aura desconfiada que viver em Angola me deu, espero que este seja mesmo um novo ciclo. Um ciclo de trocas reais, de crescimento, de diálogo e de sonho.

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