Substância tóxica é usada como alisador

Glutaraldeído está substituindo o formol no alisamento de cabelos; Anvisa permite seu uso apenas como conservante

Especialistas constatam aumento de problemas devido ao uso inadequado de alisadores; glutaral pode provocar reações graves

Por GABRIELA CUPANI, da Folha de São Paulo

Reprodução/ Good Hair Movie

Uma nova substância, tão nociva quanto o formol, vem sendo usada no alisamento de cabelos em concentrações acima das permitidas. Trata-se do glutaraldeído, conhecido como glutaral, que é acrescentado a outros cosméticos para intensificar o efeito alisador. Ele também pode ser encontrado como princípio ativo de produtos alisadores clandestinos.

Em altas dosagens, a substância pode causar queimaduras, dermatite química, inflamações, coceira, descamação e reações alérgicas graves.
A inalação pode provocar crises de bronquite e asma e, em casos extremos, a chamada pneumonia química (que pode levar à morte).
Assim como o formol, o glutaral é um conservante -e não um alisador- e só pode ser empregado em produtos cosméticos na concentração máxima de 0,1%. No caso do formol, esse valor é de 0,2%.

Na internet, circulam anúncios de produtos à base de glutaral como alisador. Grupos de discussão em redes de relacionamento também discutem os benefícios dos produtos alisadores clandestinos.

“Todos os dias recebo no meu consultório pacientes com fios destroçados e queimaduras no couro cabeludo, decorrentes de alisamento malfeito”, conta Luciano Barsanti, presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia e diretor médico do Instituto do Cabelo, em São Paulo.
Segundo o tricologista, além das substâncias inadequadas, causam problemas o excesso de tempo na aplicação e as lavagens feitas incorretamente. “Mas normalmente é difícil rastrear qual foi o produto utilizado”, diz a dermatologista Flávia Addor, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia regional São Paulo.

Denúncias

“Temos recebido denúncias do uso do glutaral como alisador”, confirma a farmacêutica Érica França Costa, especialista em regulação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Atualmente, há três ou quatro marcas em investigação”, diz ela, lembrando que a adulteração de um produto registrado (por exemplo, adicionando glutaral) é crime. Em caso de dúvida, no site da Anvisa (www.anvisa.gov.br) é possível consultar informações sobre produtos. A agência também dispõe de uma ouvidoria para denúncias.

Altas concentrações

Segundo o tricologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo, todos os alisadores quebram a queratina [a proteína do cabelo]. “O quanto vai quebrar é dose-dependente, ou seja, em altas concentrações pode destruir tudo e ficar impossível reconstruir”, diz. “Isso acontece porque as pessoas acabam ultrapassando as concentrações permitidas.”

Usado como conservante e na concentração permitida, o glutaral não causa danos à saúde. Entre as substâncias que podem ser empregadas como alisadores, estão o hidróxido de sódio, o hidróxido de cálcio e o tioglicolato de amônia.

Segundo o tricologista Arthur Tykocinski, mesmo os alisadores permitidos pela Anvisa agridem os fios. “Eles abrem a cutícula, a camada mais externa, e mudam a estrutura química do cabelo”, explica.

De acordo com especialistas, o ideal é esperar três meses entre cada aplicação.

 

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