A erotização e objetificação da mulher negra e a sexualidade feminina como tabu

Porque tantos homens ainda acham que a mulher está a sua disposição, assim como ele está para ser o macho alfa, porém quando a consciência sexual desta mulher, seu desejo e posicionamento são os mesmos que os dele, ela é vista como vadia? (Sim vadia, sem eufemismos!)Porque ainda hoje, vivemos numa sociedade na qual, apesar de nem sempre terem os mesmos direitos, as mulheres tem tantos deveres? Porque esse pensamento ainda persiste?! Creio eu que estes sejam questionamentos que muitas de nós se fazem, assim como muitas de nós ainda se anulam em nome do sonho do casamento, da maternidade… Mas será que esse sonho é real mesmo?

por Anne Dourado

Trabalhamos, estudamos, conquistamos cada vez mais autonomia e independência para finalmente um dia assumir uma família bonita, com filhos… De preferência hétero! Não, espera…

Mas e o cara? Você não vai perguntar se ele é rodado, no seu circulo de amigas, não vai rolar o nome dele na boca de todas em comentários do tipo “Um gato mas muito safado, pode ir que eu garanto, todas pegam!”?Agora abraçando esse cenário vamos virar a lente pra nós mulheres pretas em especial: porque nós somos vistas de forma tão mais sexualizada? Quem de nós nunca ouviu da boca de um homem branco, (com aquela cara de quem vai te comer com farinha), “Eu adoro uma mulata” “Porque você não desfila no carnaval?!” “Morenas são as melhores”. E nesse sentido que estamos discutindo aqui sabemos o que “as melhores” significa (e inclusive o porque de sermos citadas como “morenas”), creio que todas nós já ouviu algo do tipo.Apesar de estarmos no Brasil, que é um país tão miscigenado, ainda prevalece o estereótipo de raça, que determina que a mulher negra tem sempre lábios grandes, bumbum avantajado, corpo ‘atraente’ e o pior: ele vem acompanhado da ideia maluca de que ela está disponível (por ser mulher), e de que é isso que ela quer (porque o fenótipo dela sugere que ela é safada). E mesmo que seja porque ela não pode ser?

Constatando-se que ela seja sexualmente consciente e ativa, o valor dela na rodinha vai ser só o da “gostosa que pegaremos”, e só esse mesmo.

O ‘valor cultural’ que se atribui à mulher negra além da branca é físico e estereotipado. Os ‘valores’ comportamentais que a mulher (preta ou branca) ‘deve’ seguir também. E porque até hoje temos de provar nosso ‘valor’ de todas as formas? Ele existe e está explicito pessoas, não temos que provar absolutamente nada!Não é possível abrir a cabeça de um ser machista e enfiar lá que temos não só os mesmos anseios enquanto ser humano, mas os mesmo desejos e instintos, marcados pela nossa individualidade. Mas não podemos aceitar que esse seja o protocolo, anulando nossas vontades, nossa expressão natural enquanto seres viventes!Vamos nos situar e sintonizar com aquilo que nos diz ou não respeito!

Nós mulheres negras não somos todas mulatas do carnaval;
Aquilo que vestimos ou deixamos de vestir não determina nosso caráter;
Nenhuma de nós é serva de nenhum homem ou de pessoa alguma, e não temos dever ou obrigação alguns que os homens não tenham;
Mulher negra nunca foi sinônimo de mulher vulgar, bem como nenhuma mulher independente de sua postura deve ser;
E não, não é porque ele é homem que ele pode, nem tudo é elogio, e você não é um objeto!
Também na questão sexual é preciso se colocar pelo respeito de sua liberdade, bem como é dado ao homem. Seu direito de ser e estar te permite pensar como quiser, e estar com quem você quiser! E quando as pessoas que te interessam, sobretudo homens fizerem você ficar naquelas
“Poxa, mas essas pessoas são machistas…” , lembre-se de que você não está para as vontades de ninguém e sim para as suas, demonstre isso em suas atitudes, isso acaba por nos afinar com pensamentos semelhantes aos nossos, e ajuda a quebrar os tabus daqueles que nos observam.
Se o homem não é condenado por expressar sua essência na sua totalidade, nós também não seremos! Se somos mulheres, ou somos pretas, ou o que quer que ainda incomode e desvirtue tanto essas pessoas, vamos lembrar a elas sempre, que somos acima de tudo livres! (E temos plena consciência disso…)

 

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