Acusação de racismo contra professor da UFMA gera revolta entre alunos

por Guilherme Ribeiro

Você deveria “voltar à África” e “clarear sua cor”. Foi com essas palavras, num estouro da silenciosa elitização branca da universidade pública, que o professor de Engenharia Química da Universidade Federal do Maranhão, Clovis Saraiva, se dirigiu ao seu aluno, o nigeriano Nuhu Ayuba.

A declaração gerou revolta em toda a sociedade, principalmente no meio acadêmico do qual o autor das declarações infelizes faz parte. Seus alunos, companheiros de curso de Nuhu Ayuba, já reuniram 3.500 assinaturas em um abaixo-assinado que reivindica sua demissão.

Em nota publicada pelo ‘G1’, Jorge Clóvis Verde Saraiva tentou se justificar recorrendo a ‘formação de valores’: “Mesmo que você seja negro, mas você tem que ter aquelas maneiras dentro da sua formação acadêmica, dentro do seu dia a dia; aquela maneira de mostrar o seu valor independente de qualquer raça ou espécie”, afirma o professor.

A declaração rebatida pela universitária Loydi Santos, uma das participantes do abaixo-assinado, que levou a postura do professor como forma de inferiorizar o intercambista: “Se você usa seu poder para, de alguma forma, inferiorizar o ser humano você está sendo preconceituoso e não está tendo a postura que um professor deveria ter”, disse ela.

O Ministério Público Federal no Maranhão (MPF-MA) anunciou na manhã desta terça (5) que investigará o caso, e pediu à Polícia Federal que abra um inquérito para apurar o crime de preconceito racial contra o nigeriano. A requisição ainda solicita a convocação de seis alunos que assinaram o abaixo-assinado como testemunhas.

Em nota, a reitoria da universidade afirmou que o comportamento do docente será considerado lamentável e vergonhoso, caso as denúncias sejam confirmadas.

A ponta do Iceberg

O espanto gerado pelas declarações polêmicas do professor da UFMA só revelam isso, a ponta do iceberg. Pode até ser considerada como uma opinião que ‘escapuliu’ da boca do sistema universitário brasileiro que, dia após dia, pede para que os poucos negros que passam pelo filtro social do vestibular ‘voltem pra África’.

É isso o que mostram as altas taxas de desistência de curso entre negros e pessoas economicamente desfavorecidas que, segundo levantamento do IBGE, resultam em uma pequena parcela de 10% de negros entre os alunos da universidade pública e de apenas 1% entre os professores, revelando, entre outras coisas, a consequência da falta de políticas de acesso e permanência estudantil para essa população.

 

Fonte: MTV

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