Em série de interrogatórios que terminou de madrugada, oficiais afirmam que foram atacados pelos detentos durante o massacre ocorrido em 1992
por Gisele Brito
São Paulo – Acabou na madrugada de hoje (1) a primeira parte dos depoimentos dos policiais acusados pelas mortes de 73 dos 111 presos assassinatos durante o massacre do Carandiru, em outubro de 1992. O julgamento ocorre no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo.
Dos 25 réus desta fase, dois não compareceram por motivo de doença e 18 preferiram se manter em silêncio. Às 13h de hoje (1º) será a vez do tenente-coronel Salvador Modesto Madia.
O último a depor nesta madrugada foi o tenente Edson Pereira Campos. O interrogatório acabou as 2h30. Ele afirmou que foi designado como escudeiro do grupamento e que deu apenas um tiro durante os cerca de 20 minutos da ação, mesmo sentido medo e tendo certeza de sua morte.
No primeiro depoimento do dia, por volta do meio-dia, o Coronel Alves Mendonça, comandante da operação no terceiro pavimento, afirmou que ele mesmo carregava o escudo que protegia a tropa na mão esquerda enquanto empunhava uma submetralhadora Beretta na direita. Nenhum dos outros réus, no entanto, confirmou essa versão.
O uso dos escudos seria uma das razões para o fato dos policiais não terem sido baleados em regiões frontais, apesar de todos terem afirmado que os presos possuíam armas e fizeram disparos do fundo do corredor em direção da tropa.
Os oficiais teriam sido feridos, mas de maneiro pouco contundente. O coronel Mendonça afirmou ter levado uma paulada na perna durante uma luta com presos, no que ficou classificado como o terceiro confronto durante o avanço do grupamento militar pelo corredor esquerdo do pavilhão. O major Marcelo Gonzales Marques disse ter sido esfaqueado no antibraço no quarto confronto. E o Coronel Carlos Alberto mostrou para os jurados a entrada e saída de um ferimento com trajetória ascendente, na altura da canela da perna esquerda, feito por arma de fogo.
Ainda assim, eles dizem ter atirado em revide às agressões. Não há encontro nas versões sobre o número de presos mortos ou feridos em nenhum dos cenários descritos pelos PMs, mas elas nunca ultrapassam uma dezena. “Atirei para me defender e defender meus companheiros”, disse o Tenente Pereira.
A defesa insiste na tese de que a atuação dos policiais da Rota teria sido dentro de parâmetros aceitáveis. Os assassinatos teriam ocorrido em função do conflito entre presos e durante a atuação das Tropas de Choque, sob o comando do Coronel Edson Faroro, que deu a ordem para a Rota se retirar do pavilhão e permaneceu no pavimento para realizar a operação rescaldo.
Nenhuma arma usada para conter a rebelião foi periciada e apesar dos vestígios de centenas de balas nas paredes, nenhum cartucho ou munição foi encontrado para teste de comparação balístico, o que para o perito Osvaldo Negrini é uma clara evidência de alteração deliberada da cena do crime.
O perito afirmou que não há nenhuma evidência de confronto entre presos e policiais. Mas que há centenas de vestígios de tiros dentro das celas, disparados por metralhadoras por pessoas que estavam nos corredores.
Nenhum dos réus admitiu ter atirado ou visto outros policiais atirando dentro das celas ou em presos rendidos, mas a perícia aponta que boa parte dos mortos foi alvejada de cima para baixo, o que demonstra rendição.
Desde o inicio da semana, pos policiais da Rota estão sendo julgados pela morte de 76 presos no terceiro pavimento do pavilhão 9. Em abril, 26 policiais foram julgados e 23 condenados a 156 anos de prisão por participação em 13 mortes das 111 mortes.
Fonte: Rede Brasil Atual