Advogado aciona justiça contra personagem racista do Zorra Total

A quem o personagem faz rir? Àqueles que não se comovem com o sofrimento e a luta das mulheres negras brasileiras. E que ainda lhe imputam a responsabilidade pela situação de descuido

por Humberto Adami,

Não há outros personagens negros femininos no programa, e a caricatura só reforça o preconceito contra a mulher negra, pobre e sem trabalho.

Não há escusas para a Rede Globo, nem para o silêncio de grande parte do Movimento Negro brasileiro, e das instituições ligadas ao enfrentamento do racismo no Brasil. Essas imagens levadas ao plano internacional envergonhariam qualquer nacional.

A representação ao Ministério Público, acompanhada de eficiente ação de reparação de dano coletivo, nos moldes do Caso Tiririca & SONY, já passou da hora. Uma insatisfação do quadro do programa.

Não há como se fugir ao debate da “liberdade de expressão, censura, e liberdade artística” , que por certo será levantado, mas sim impor a reparação do dano coletivo, com os rigores de expressiva jurisprudência nacional a respeito.

A quem o personagem faz rir?

Àqueles que não se comovem com o sofrimento e a luta das mulheres negras brasileiras. E que ainda lhe imputam a responsabilidade pela situação de descuido.

Única personagem negra do programa, a Rede Globo sabe perfeitamente onde quer chegar, tanto que no mesmo quadro, incluiu uma mulher índia, que fica sorrindo o tempo todo, de forma infantilizada, reforçando também o preconceito contra indígenas.
Creio que a Globo se prepara para o debate, já sabendo o que virá por aí.

Na verdade, todo o Capítulo VI do Estatuto da Igualdade Racial, a lei 12.288, abaixo reproduzido, vem sendo desrespeitado.

CAPÍTULO VI
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a herança cultural e a participação da população negra na história do País.
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou artística.
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica aos filmes e programas que abordem especificidades de grupos étnicos determinados.
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas o disposto no art. 44.
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas públicas e as sociedades de economia mista federais deverão incluir cláusulas de participação de artistas negros nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário.
§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, nas especificações para contratação de serviços de consultoria, conceituação, produção e realização de filmes, programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou serviço contratado.
§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de emprego o conjunto de medidas sistemáticas executadas com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço contratado.
§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de emprego, requerer auditoria por órgão do poder público federal.
§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às produções publicitárias quando abordarem especificidades de grupos étnicos determinados.

Nada disso tem sido respeitado, nem cobrado, por quem devia estar cobrando, de forma institucional.

Penso que as entidades de mulheres, negras em especial, (mas não apenas essas), possam promover uma representação ao MP, e a ação de reparação de dano coletivo, cujo limites já ultrapassaram o aceitável.

Ação contra personagem Adelaide, do programa Zorra Total

Já foi distribuída a primeira ação civil pública contra a Rede Globo de Televisão, pelo personagem ADELAIDE, de ZORRA TOTAL.

Recebi, anteontem, a cópia da inicial, que aguarda despacho sobre a liminar. Outras ações devem se somar a esta em breve. As entidades de mulheres negras são parte importante deste esforço. Instituições interessadas em somar, favor mandar email para [email protected]

 

 

Mais sobre o Tema

 

A necessidade do ‘negro imbecil’ para o racismo brasileiro

Urubu Branco: O racismo explicito

Sérgio Martins – A personagem Adelaide do Zorra Total não é humor é Racismo!

Racismo explícito no Zorra Total relembra humor segregacionista dos EUA

Ong acusa personagem do Zorra Total de racismo

 

 

+ sobre o tema

Revista é acusada de clarear a pele de atriz candidata ao Oscar Lupita Nyong’o

Indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo filme...

Racismo: lei deve entrar em vigor até julho

Romualdo Cruz Filho O Executivo piracicabano protocolou segunda-feira,...

Bahia terá rede de combate ao racismo

  A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) lança...

para lembrar

A mulher negra e o Jardim

Quando a mulher negra andou pelo jardim, as flores perderam o seu sentido. Suas pétalas esparramaram-se...

Um lugar chamado Branquitude, conhece?

Você esta lá, acomodada em um local muito confortável...

‘Essa neguinha pode ter roubado alguma coisa’: cliente acusa segurança de supermercado de racismo

Vigilante teria desconfiado de balconista que saía com pacote...

Provas para condenar modelo negra são nulas e questionáveis, dizem advogados

Barbara Quirino apresentou álibi com testemunhas que foi desconsiderado...
spot_imgspot_img

A natureza se impõe

Mundo afora, sobram sinais — de preocupantes a desesperadores — de fenômenos climáticos. Durante a semana, brasileiras e brasileiros em largas porções do território,...

Criminalização e Resistência: Carla Akotirene e Cidinha da Silva discutem racismo institucional no Sesc 24 de Maio 

No dia 16 de outubro, quarta-feira, às 19h, o Sesc 24 de Maio promove o bate-papo Criminalização, encarceramento em massa e resistência ao punitivismo...

Violência política mais que dobra na eleição de 2024

Foi surpreendente a votação obtida em São Paulo por um candidato a prefeito que explicitou a violência física em debates televisionados. Provocações que resultaram...
-+=