Botswana – A ministra-sensação do continente africano

Foi a mais nova deputada e agora Bogolo Joy Kenewendo é a ministra mais nova do Botswana. Um exemplo a seguir para muitos jovens em África

Do Ardina

Foto: Reprodução/Facebook

Em 2012, quando Proscovia Oromait se tornou a mais jovem deputada de África não faltaram comentários negativos: “Vergonha nacional”, “tendência perigosa”. A ugandesa tinha 19 anos – a idade média dos africanos é 19,4 anos – e o caminho para a eleição foi tortuoso: “Durante a campanha fui intimidada pelos adversários”, queixou-se então.

É grande a distância entre as capitais Campala e Gaborone – cerca de quatro mil quilómetros – mas há questões culturais comuns ao Uganda e ao Botswana. E à África em geral. Prova disso foi quando Bogolo Joy Kenewendo tomou posse como ministra do Investimento, Comércio e Indústria, no início do mês. No anterior governo, o cargo já era desempenhado por uma mulher. A novidade é que a governante tem 30 anos. Um feito aos olhos dos africanos mais novos.

Muitos regozijaram-se nas redes sociais com a medida. “África, não vamos a lado algum se continuarmos a bloquear o potencial e as capacidades dos jovens, em especial das jovens mulheres!”, reagiu a escritora e ativista Rosebell Kagumire. Outros utilizadores, por exemplo da Nigéria, lamentaram que no seu país os septuagenários ocupem os mais altos lugares da política.

“É uma altura excelente para ser jovem. Vê-se muitos governos a abrir-se e a tentar incluir jovens, a narrativa de que o futuro é agora está a ser disseminada. Mas quanto mais se sobe mais difícil se torna, estamos a ultrapassar obstáculos e alguns deles têm séculos. Demora bastante a realizar as mudanças e há quem se agarre aos obstáculos”, disse numa conferência sobre jovens líderes nas Nações Unidas, em Nova Iorque, em setembro de 2017. Na mesma ocasião, declarou: “Não se pode falar de políticas de combate à pobreza sem falarmos de igualdade de género.”

O percurso de Bogolo Joy Kenewendo é excecional. Ao contrário da ugandesa Proscovia Oromait, não é filha de um político. Nasceu em Motopi, uma aldeia na região de Boteti, no delta do Okavango, norte do Botswana. Em 2005, prosseguiu os estudos na capital, tendo concluído um bacharelato em Economia.

Através de um programa de intercâmbio de estudantes, teve a oportunidade de rumar aos Estados Unidos. Durante um ano foi aluna na Pitzer College, em Claremont, Califórnia. Também nos EUA, conheceu Michelle Obama numa reunião com jovens líderes de África. Da experiência nasceu um programa de liderança no feminino que criou com uma amiga.

Tinha colaborado, entre outros, com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), quando, em 2013, interrompeu a carreira profissional. Uma bolsa de estudo leva-a até à Universidade de Sussex (Inglaterra) para completar um mestrado em Economia Internacional.

De regresso a África, a ascensão à notoriedade dá-se de forma rápida. Em 2015, é chamada ao Ministério do Comércio e Indústria do Gana. Nesse país da África Ocidental, trabalhou como economista para os acordos comerciais e para assuntos relacionados com a relação do Gana enquanto Estado membro da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Em 2016, Bogolo torna-se a deputada mais nova de sempre no Botswana. E é reconhecida pela sociedade civil com dois prémios (agente de mudança e mulher extraordinária).

Agora como ministra, o que se pode esperar, além das suas competências enquanto economista?

Até agora, Bogolo Joy Kenewendo destacou-se pela frescura com que aborda a sua atividade. “Sou antiprotocolo porque isso cria distância entre os líderes e o público. Não quero que me chamem sua excelência Bogolo. Se me chamarem Bogolo então pensamos que podemos vir a ser amigos e podemos falar sobre os problemas das pessoas.”

Bogolo Kenewendo não é a mulher mais nova a desempenhar funções governativas. A façanha pertence a Shamma Al Mazrui. A ministra da Juventude dos Emirados Árabes Unidos foi nomeada para o cargo em fevereiro de 2016, contava 22 anos.

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