Estrelas brasileiras, de seleções africanas e até da Bélgica fazem visual
ganhar força novamente e se tornar uma das atrações do Mundial
Nos treinos da seleção brasileira, na Granja Comary, três jogadores podem ser facilmente notados à distância. Dante, Marcelo e Willian têm em comum, além do fato de estarem representando o país na Copa do Mundo, as vastas cabeleiras afro. O estilo capilar, popularizado no futebol entre as décadas de 60 e 70 por estrelas como Jairzinho, Paulo Cézar Caju e Júnior, está de volta. E não apenas na equipe canarinho. Seleções da Europa, da África e sul-americanas também terão adeptos do visual.
Willian começou a deixar o cabelo crescer quando ainda defendia o Corinthians, mas passou a ser conhecido pelo afro durante o período em que defendia o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Marcelo também adotou o estilo em território europeu. Dante é fiel ao visual desde pequeno, e se inspirou no pai, o artista plástico João Carlos, dono de uma cabeleira com dreadlocks que se mantém intacta há 19 anos.
– Meu pai tem cabelo “rasta” há muito anos. Certa vez fiz uma experiência para ver como ficaria e acabei gostando, e minha esposa também. Já tem muito anos que deixo o cabelo ficar grande assim – explicou.
MEU CABELO ENROLADO TODOS QUEREM IMITAR
Os meias Fellaini e Witsel são dois dos símbolos da seleção belga que virá ao Brasil para a disputa do Mundial. A atual geração é cotada como uma das melhores da Europa, o que os coloca entre as equipes capazes de surpreender os favoritos. Os dois jogadores também adotaram o cabelo afro e chamam a atenção dos torcedores por causa da aparência.
Nos tempos em que defendia o Everton, entre 2008 e 2013, o cabelo de Fellaini teve influência tão forte culturalmente para o clube que muitos torcedores, especialmente jovens e crianças, costumavam ir para o estádio vestindo perucas para imitá-lo. O meia, atualmente no Manchester United, não pensa em se desfazer do corte, apesar de admitir que é preciso moldá-lo para não atrapalhar o desempenho em campo.
– Corto regularmente, caso contrário, após alguns meses, eu não conseguiria ver a bola, especialmente quando há muita chuva – relatou à revista “Match of the day”.
Entre as seleções africanas, o lateral Assou-Ekotto, de Camarões, é o dono da cabeleira mas vasta. Bony, da Costa do Marfim, também é adepto, e Carlos Sánchez, da Colômbia, completa o time dos afros estrangeiros.
“NO MEU TIME NÃO JOGA”
Se visualmente e até comercialmente o estilo pode ser vantajoso para os jogadores, tecnicamente há quem não aprove. Alguns treinadores costumam reclamar com alegações curiosas. O jornalista João Saldanha que comandou a seleção brasileira e o Botafogo, já protagonizou uma divertida reportagem em que explicou as razões para que o afro seja um problema.
– Nos crioulos, “black power”, com aquela “grama” daquele tamanho, eles perdem a conta da bola. Já vi o Zequinha (atacante com passagens por times como Flamengo, Botafogo e Grêmio) na frente do gol dar uma cabeçada, amorteceu aquilo no “black”, na “grama”, e o goleiro pegou. Se pega num “coco” bem raspadinho… estou falando do ponto de vista técnico. Se eles gostam, faz uma peruca, ajeita, na hora do serviço usa uma ferramenta, na hora do “rebolado” usa outra, compreendeu?
Enquanto Saldanha fazia seu “discurso”, um transeunte com o cabelo afro parou para acompanhar a gravação, e o jornalista passou a usá-lo como exemplo para complementar a análise.
– Olha aqui (disse enquanto tocava o cabelo do torcedor), amaciou a bola, a bola é capaz de parar aqui. Que ande assim na rua, eu acho bacana, acho legal, mas no meu time não joga, não.
Fellaini já foi pressionado a cortar o cabelo. O técnico David Moyes usou uma outra justificativa e dizia que o visual transforma o belga em um alvo fácil para os árbitros. O jogador, contudo, nem pensou na possibilidade.
– Cortar meu cabelo? Por que eu deveria? Parece fantástico. Não acho que devo cortá-lo. Eu gosto, e os fãs também – afirmou ao jornal “Daily Mirror”
Dante nunca recebeu pedido semelhante. Se algum dirigente ou treinador tiver a ousadia de tentar dar fim à sua marca registrada, a resposta está na ponta da língua.
– Ninguém ainda se dirigiu a mim com essa proposta indecente. Mas acho que não cortaria.
NEGRO É LINDO
O estilo capilar ficou conhecido mundialmente durante a década de 60, no auge da luta dos negros pelos direitos civis nos Estados Unidos. Através do movimento cultural “Black is beautiful” (Negro é lindo), que encorajava homens e mulheres a não esconder suas características, acabou se tornando uma marca registrada e, na década seguinte, se popularizou entre os boleiros. Na Copa de 1974, Jairzinho e Paulo Cézar Caju eram os representantes. Em 1978, Jorge Mendonça e Rodrigues Neto. No Mundial de 1982, Júnior, Serginho Chulapa e Edevaldo mantiveram as cabeleiras em alta.
Fonte: Globo Esporte