Companhia nova de teatro comemora 15 anos e estreia barulho D’água

Com ingressos gratuitos, espetáculo do autor italiano Marco Martinelli chega aos palcos de São Paulo. Montado em diversos países, a peça critica a falta de uma política mundial de refugiados e narra a tragédia de imigrantes que atravessam o mar mediterrâneo.  O elenco conta com o ator Alexandre Rodrigues, protagonista do filme Cidade de Deus

Enviado por Lenerson Polonini via Guest Post para o Portal Geledés 

 

Comemorando 15 anos de trajetória, a Companhia Nova de Teatro dá continuidade às pesquisas sobre processos migratórios, seus reflexos e consequências e estreia BARULHO D’ÁGUA no dia 1º de julho, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro João Caetano. A versão brasileira nasceu do encontro dos artistas Carina Casuscelli (tradução e direção) e Lenerson Polonini (provocação e iluminação), fundadores da Companhia Nova de Teatro, com o dramaturgo italiano Marco Martinelli. As apresentações acontecem em três teatros da capital paulista: Teatro João Caetano (1º a 24 de julho), Teatro Cacilda Becker (29 de julho a 7 de agosto) e Teatro Alfredo Mesquita (de 12 a 21 de agosto), sempre com ingressos gratuitos.

 

Contemplado pela 3ª edição do Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento a atividade teatral para a cidade de São Paulo BARULHO D’ÁGUA traz no elenco os atores Alexandre Rodrigues, do filme Cidade de Deus, Vicente Latorre e Rosa Freitas, além do bailarino e instrumentista colombiano Omar Jimenez. A peça conta ainda com trilha do músico experimental Wilson Sukorski, provocações de Lenerson Polonini e vídeo projeções de Alexandre Ferraz.

 

Em 2009, o renomado dramaturgo italiano, Marco Martinelli (que fará um encontro online com o público paulista, em data à definir durante a temporada), movido por uma das piores tragédias humanas sofridas em seu país, decide transformar em dramaturgia a perda de centenas de vidas no Mar Mediterrâneo. BARULHO D’ÁGUA narra a travessia de imigrantes, em sua maioria refugiados de zonas de conflitos, atravessando o mar mediterrâneo em embarcações precárias rumo aos países europeus.

 

O contato com o autor italiano se deu em 2014 na cidade de Nova Iorque, onde a Companhia Nova de Teatro pesquisava o espetáculo 2xForeman: peças Bad Boy Nietzsche e Prostitutas Fora de Moda, de Richard Foreman, e Marco Martinelli apresentava a versão italiana deBARULHO D’ÁGUA no Teatro La MaMa. “Nas conversas sobre as pesquisas dos grupos, enxergamos a possibilidade de um intercâmbio, e, com isso, firmamos um acordo de cooperação para investigar dramaturgicamente o tema imigração, com base em experiências desenvolvidas nos dois países.”, explica Lenerson Polonini, diretor artístico do grupo.

 

Depoimentos de refugiados

A dramaturgia do espetáculo tem como eixo central o depoimento de cinco refugiados, que foram colhidos pelo próprio Marco Martinelli na Ilha de Lampedusa, na região da Sicília (Itália). O texto original é um monólogo, onde um general conta a história desses refugiados, mas, na versão brasileira, a diretora Carina Casuscelli resolveu dar vida aos refugiados, cabendo ao ator Alexandre Rodrigues a interpretação de alguns dos personagens.

 

O general (papel de Vicente Latorre) representa os serviços das capitais europeias que praticam a “política de acolhimento”. “Esse personagem diabólico é, por vezes, grotesco, desequilibrado, psicótico, sádico, cínico, fatalista, mas, também, um simpático porteiro de certa ilha dos mortos, com a missão de ‘reunir e contar as almas de imigrantes’”, conta a diretora.

 

A atriz Rosa Freitas entoa as canções do espetáculo, acompanhada, ao vivo, pelo percussionista e bailarino colombiano Omar Jimenez, que também dançará durante as apresentações. O elemento virtual “água” será utilizado como um espelho do “eu”. As vozes ressonantes e a figura do general permearão toda a encenação, que será potencializada pelo trabalho videográfico e documental, com telas de projeção transparente, no intuito de criar sobreposições para narrar fatos no passado e presente.

 

Números

BARULHO D’ ÁGUA narra a história do drama de milhares de refugiados, que, em sua maioria, morrem atravessando o mar Mediterrâneo. Carina explica que tanto os sobreviventes, como os mortos, são identificados por números, e os que não conseguem se salvar viram apenas um registro, sem a possibilidade da família resgatar o corpo. “Os números estão presentes durante toda a montagem, ora projetados, ora nos corpos dos personagens. O nosso espetáculo também é uma forte crítica àqueles que entendem a imigração como uma mercadoria”.

 

Para Lenerson Polonini, o tema abordado em BARULHO D’ ÁGUA tem ocupado espaço crescente em todas as mídias, por meio de reportagens, fotos e imagens e tem chocado a população global. “Infelizmente, o sentimento de indignação parece estar dando lugar ao conformismo, à apatia e à insensibilidade que tem dominado o nosso cotidiano diante de milhares de mortes que parecem não nos afetar. Mas o teatro, por sua natureza, é um lugar onde a tragédia pode ser representada, revivida, podendo aproximar a plateia daquilo que por vezes parece pertencer somente à ficção”, acredita ele.

 

Sobre a Companhia Nova de Teatro

Fundada em 2001, pelo diretor Lenerson Polonini em parceria com a atriz e figurinista Carina Casuscelli, a companhia desenvolve um trabalho de pesquisa contínua a partir da performance, das artes do corpo e do universo das artes visuais. A Companhia Nova de Teatro é uma companhia aberta e a cada novo projeto convida atores, bailarinos e artistas de diversas áreas para colaborarem com suas produções. O teatro multimídia desenvolvido pela companhia procura explorar a tridimensionalidade do palco e a relação da arte com o espaço urbano.

 

A representação performática privilegia o aspecto físico do ator na cena, onde estes não representam “papéis”, mas funcionam como ícones, imagens e veículos por meio dos quais o público recebe uma multiplicidade de eventos visuais e auditivos, como se estivesse dentro de uma caixa de estímulos sensoriais sincronizados. Na trajetória do grupo, destacam-se encenações dos autores: Samuel Beckett, Heiner Muller, Gertrude Stein, Wilhelm Reich, Edgard Alan Poe e Richard Foreman, além de obras de dramaturgia própria.

 

Em 2012, a companhia conquista o primeiro lugar do Prêmio Internazionale Teatro Dell’ Inclusione Teresa Pomodoro, em Milão/Itália, com o espetáculo Caminos Invisibles…La Partida. O júri desse prêmio contou com nomes importantes da cena mundial, como Eugenio Barba, Luca Ranconi, Lev Dodin e Jonathan Mills. Em 2013, contemplado pelo Edital de Intercâmbio do Ministério da Cultura, os integrantes do grupo realizam residência artística no Attis Theatre, em Athenas/Grécia, estreando no teatro grego a peça Krísis, com supervisão de Theodoros Terzopoulos, diretor da companhia grega e também idealizador do “Theater Olympics” – Olimpíadas de teatro mundial. Em junho de 2015, a Companhia Nova de Teatro é convidada a exibir figurinos do espetáculo Doutor Faustus Liga a Luz, de Gertrude Stein, no lendário The Bakhrushin State Central Theatre Museum, em Moscou/Rússia, onde também realiza uma performance com fragmentos da peça na abertura do evento “Costume at the Turn of the Century 1990 – 2015”. No catálogo do evento, contendo 380 páginas com os figurinos que mais se destacaram no mundo, e produzido pela maior exposição dedicada ao traje teatral, um capítulo é totalmente dedicado a figurinista Carina Casuscelli, com imagens dos figurinos de Dr. Faustus. O mais recente trabalho do grupo, 2xForeman: peças Bad Boy Nietzsche e Prostitutas Fora de Moda, de Richard Foreman, com direção de Lenerson Polonini, foi contemplado pelo Proac/2014, da Secretaria de Estado da Cultura, encenado em 2015.

 

Sobre Marco Martinelli e Teatro delle Albe

Marco Martinelli tem encenado suas peças e recebido prêmios importantes em toda europa e Estados Unidos, influenciando a nova geração de teatro. A abordagem herética ao teatro  exerceu forte influência na dramaturgia de Rumore di Acque,  monólogo composto em 2010 por Martinelli, dramaturgo, diretor e fundador da Companhia Teatro Delle Albe,  fundada em 1983, em conjunto com Ermanna Montanari, Marcella Nonni e Luigi Dadina.

 

Em seus primeiros manifestos, na década de 1980, os fundadores do Teatro Delle Albe defininiram-no como “Politttttttical Theatre”, com sete “t”, para declarar com ironia irreverente sua distância do reinado da época – ideologicamente, teatro político e bombástico em suas certezas e julgamentos. Sem medo de apostar no simples, a companhia declarou que iria criar ações teatrais compostas por representações multifacetadas, destinadas a um público em busca de perguntas ao invés da confirmação do pensamento instaurado.

 

Para roteiro:

 

BARULHO D’ ÁGUA – Estreia dia 1º de julho, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro João Caetano. Dramaturgia – Marco Martinelli. Direção – Carina Casuscelli. Provocação e Iluminação – Lenerson Polonini. Atores ­– Alexandre Rodrigues, Vicente Latorre e Rosa Freitas.Instrumentista e Bailarino – Omar Jimenez. Figurinos – Carina Casuscelli. Vídeos e Documentação Audiovisual – Alexandre Ferraz. Direção Musical – Wilson Sukorski. Concepção Espacial e Produção – Carina Casuscelli e Lenerson Polonini. Realização – Companhia Nova de Teatro. Duração – 50 minutos. Livre – Indicado para todos os públicos. Temporada – Sexta-feira e sábado às 21 horas e domingo às 19 horas (Teatro João Caetano, de 1º a 24 de julho, Teatro Cacilda Becker, de 29 de julho a 7 de agosto e Teatro Alfredo Mesquita, de 12 a 21 de agosto). Gênero – Documentário cênico multimídia. GRÁTIS – Ingressos distribuídos uma hora antes de cada apresentação.

 

 

TEATRO JOÃO CAETANO – Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino. Telefone: (11) 5573-3774. Bilheteria abre uma hora antes do início de cada apresentação. Acesso para deficientes físicos. Capacidade – 436 lugares.

 

TEATRO CACILDA BECKER – Rua Tito 295 – Lapa. Telefone: (11) 3864-4513. Bilheteria abre uma hora antes do início de cada apresentação. Acesso para deficientes físicos. Capacidade – 198 lugares.

 

TEATRO ALFREDO MESQUITA – Avenida Santos Dumont, 1770 – Santana. Telefone – (11) 2221-3657. Bilheteria abre uma hora antes do início de cada apresentação. Acesso para deficientes físicos Capacidade – 198 lugares. Estacionamento no local.

 

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