Conceição Evaristo encerra rodas virtuais com crianças e jovens da Comunidade do Alemão, em evento virtual aberto, dia 14/9, às 16h

Um dos maiores símbolos contemporâneos no combate à vulnerabilidade social, a escritora Conceição Evaristo encerra, no próximo dia 14/9, o projeto Rodas de Leitura, do Instituto Estação das Letras, em parceria com a Associação Nagai. Desde julho, cerca de 120 famílias do Morro do Alemão, da Favela da Malacacheta, no Rio de Janeiro, participam do projeto virtualmente, através da plataforma Zoom.

Crianças sem aulas, pais que precisam se ausentar para trabalhar, residências sem conforto e que não ajudam no “fique em casa”. Os desafios antes da pandemia já eram muitos e se intensificaram ainda mais nestes meses fora da escola. E foi justamente para amenizar esta realidade que o Projeto Rodas de Leitura ofereceu encontros semanais com leitura e mediação de professores.

Este último ciclo acontece com adolescentes e jovens, de 13 a 21 anos, sobre o livro Olhos D’água, de Conceição Evaristo, cujos contos – sobre vidas negras e pobres perdidas tragicamente e que, quando muito, rendem um registro nos noticiários – foram estudados com a mediação da professora de Português e Literatura Brasileira Monique Ferreira. A autora participará do encontro final com transmissão ao vivo pelo facebook do IEL (https://www.facebook.com/events/750298725806177/), às 16h.

(Foto: Divulgação/ Olhos d’água)

Para Suzana Vargas, diretora do Instituto, Olhos D’Água é um livro sensível de quem viveu na pele as agruras e as alegrias de viver numa Comunidade em condições muitas vezes sub-humanas.

Os contos, segundo a autora, nasceram de histórias que ouviu e modificou ao longo da escrita. Olhos d’água vem também da observação. “Acredito que esses jovens do Complexo do Alemão têm muita coisa também para contar”, afirma Conceição Evaristo.

Cada roda de leitura abordou uma obra diferente, estudada com ajuda de mediadores por quatro semanas antes do encontro com o autor. Em julho, o Projeto trabalhou com crianças de 5 a 8 anos e o livro Cabeça de Vento, da Bia Bedran. Em agosto, foi a vez de assistir a meninada de 9 a 12 anos, com Meu Vô Apolinário, do escritor indígena Daniel Munduruku. Assim como Evaristo, os autores comparecem virtualmente ao último encontro de cada ciclo para uma interação aberta ao público. Todos os participantes também receberam um exemplar do livro trabalhado.

Para Rejane Luna, diretora da Associação Nagai e coordenadora do projeto Malacacheta, a iniciativa teve como principal objetivo promover o desenvolvimento global dos alunos: a educação rompendo as barreiras da desigualdade social que eles encontram. A leitura, segundo ela, como instrumento para ampliar as visões de mundo e expectativas de futuro que possuem.

O Instituto encabeça ainda uma campanha para arrecadação de uma cesta básica por mês para cada família, com o objetivo de contribuir ainda mais em um momento em que muitas dessas famílias estão passando por dificuldade extrema. As doações podem ser feitas até o dia 14/9, pelo whatsApp (21) 99127-4088

– Com Conceição Evaristo o projeto Rodas de Leitura no Alemão encerra esse que, esperamos, seja apenas um primeiro ciclo de muitos. Ao longo desses três meses pudemos constatar que a infância e a juventude, independentemente das condições de vida, precisam apenas ser bem iniciadas e estimuladas no que diz respeito ao livro e à leitura. Elas tiveram a oportunidade de ler, levar – talvez – pela primeira vez à sua casa um livro que (vimos) envolveu famílias inteiras, alegra-se Suzana Vargas.

O projeto Rodas de Leitura teve apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal e surgiu também em comemoração aos 25 anos do Instituto Estação das Letras (https://www.rodasdeleituraiel.org.br/).


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